Terapia moleskine
Quem solta a memória de pensamentos traumáticos e os prende ao papel visita menos o médico
Escrever para reabilitar afetos e refundar relações. Escrever para recentrar a razão. Escrever para libertar emoções, identificar problemas, descortinar soluções.
Escrever até para emagrecer, uma vez que segundo os especialistas da Mayo Clinic a anotação diária do que se ingere acaba por gerar uma maior perceção das quantidades de alimentos que consumimos,
permitindo-nos ter noção dos abusos que cometemos.
Psicólogos que em Portugal e noutros pontos do mundo fazem investigação têm a certeza. Escrever sobre si ou sobre o outro, para si e/ou para o outro, promove a saúde de forma holística. Quem solta a memória de pensamentos traumáticos e os prende ao papel visita menos o médico, tem um sistema imunitário mais forte. James W. Pennebaker, investigador estrela no campo da análise psicológica da palavra, aconselha retiros de escrita de 15 minutos, no mínimo, durante quatro dias.
Um exercício sem amarras à ortografia ou concordâncias gramaticais. O que importa é escrever sobre sonhos, preocupações, situações que teimamos evitar «há dias, semanas ou anos», sublinha. A regressão de minutos, que pode levar-nos até à infância, obriga apenas a explorar «as emoções e pensamentos mais profundos», refere. A investigação realizada, conta uma análise científica divulgada no US National Library of Medicine, publicação dos National Institutes of Health, ainda não encontrou o como ou os porquês absolutos.
Mas já demonstrou que a «escrita expressiva», como lhe chaman, influencia a diminuição de hormonios do stresse e da pressão arterial, ajuda a controlar os níveis de dor e tem uma ação antidepressiva. Mas diz-nos mais. Diz-nos que «a escrita de diários é outra forma de acedermos ao nosso eu desconhecido, está associada à criatividade, ao despertar espiritual, à expansão do eu».
Escrever pode mesmo demonstrar que o nosso ângulo mais ignorado, reprimido ou desorganizado é o mais premente de nós mesmos. E quando isso acontece, despertamos e, se quisermos,
reinventamo-nos. Por isso, escreva… E muito!
Texto: Nazaré Tocha
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