29/8/2013 10:32
BBC - de Londres
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Miniaturas de “cérebros humanos” foram desenvolvidos em laboratório
por cientistas austríacos, em um feito que, segundo especialistas, pode
transformar nossa compreensão sobre males neurológicos. As estruturas
criadas, que são do tamanho de ervilhas, alcançaram o mesmo nível de
desenvolvimento de um feto de nove semanas, mas são incapazes de pensar.
Segundo os cientistas, que são do Instituto de Biotecnologia Molecular da Academia de Ciências Austríaca, elas reproduzem em laboratório algumas das etapas iniciais de desenvolvimento cerebral.
O cérebro humano é uma das estruturas mais complicadas existentes no universo. O estudo, publicado no periódico Nature, já foi usado para ampliar a compreensão a respeito de doenças raras.
Desenvolvimento
Os cientistas usaram células-tronco embrionárias ou células de pele
adulta para produzir a parte do embrião que se torna o cérebro e a
espinha dorsal – o ectoderma neural.
Essa parte foi colocada em gotículas minúsculas de gel, que
permitiram que o tecido crescesse, e em um bio-reator giratório, que
provê nutrientes e oxigênio.
As células puderam crescer e se organizar em diferentes partes do
cérebro, como o córtex e uma versão inicial do hipocampo, bastante
ligado à memória em um cérebro adulto plenamente desenvolvido.
Os pesquisadores creem que essa estrutura chega perto – ainda que não
perfeitamente – do desenvolvimento inicial do cérebro fetal.
Os tecidos chegaram a seu tamanho máximo, cerca de 4mm, em dois meses.
Os “minicérebros” sobreviveram por quase um ano, mas não cresceram
além disso. Eles não contavam com suprimento de sangue, apenas de tecido
cerebral. Ou seja, nutrientes e oxigênio não puderam penetrar na
estrutura.
- Nossos organóides servem para modelar o desenvolvimento do cérebro e
para estudar qualquer coisa que cause defeitos nesse desenvolvimento –
explicou Juergen Knoblich, um dos pesquisadores.
Segundo ele, o objetivo é ampliar o conhecimento a respeito de
distúrbios mais comuns, como a esquizofrenia e o autismo, partindo do
princípio de que indícios deles podem surgir na fase de desenvolvimento
do cérebro.
A técnica também pode ser usada para substituir camundongos em testes de medicamentos e tratamentos.
‘Extraordinário’
Pesquisadores já haviam conseguido produzir células cerebrais em laboratório, mas a iniciativa austríaca é a que chegou mais perto de criar um cérebro humano.
Por isso, a novidade chamou atenção entre cientistas.
- É surpreendente”, disse à agência britânica de notícia BBC
Paul Matthews, professor do Imperial College, em Londres. “A noção de
que podemos tirar uma célula da pele e tranformá-la ainda que seja no
tamanho de uma ervilha em algo que se assemelha a um cérebro é
simplesmente extraordinária.”
Segundo ele, apesar de o minicérebro não estar se comunicando ou
pensando, ele “é o tipo de ferramenta que nos ajuda a entender muitos
dos principais distúrbios cerebrais”.
Pesquisadores já estão usando a descoberta para investigar uma doença
chamada microcefalia, cujos portadores têm cérebros menores do que o
normal.
Ao criar um minicérebro com células de pacientes de micocefalia, a
equipe conseguiu estudar mudanças no desenvolvimento cerebral dessas
pessoas. Percebeu, por exemplo, que as células desses pacientes se
adiantavam em sua transformação em neurônios.
Questões éticas e possibilidades
Os pesquisadores em Viena não veem, no momento, nenhum dilema ético
em seu trabalho, mas Knoblich afirma que não seria “desejável” fazer
cérebros muito maiores do que os já desenvolvidos.
Na opinião de Zameel Cader, neurologista consultor no hospital John
Radcliffe, em Oxford, a pesquisa ainda não traz problemas éticos.
- (O minicérebro) está longe de ter consciência do mundo exterior – disse à BBC.
Para Martin Coath, da Universidade de Plymouth, “se (o minicérebro)
se desenvolve de maneiras que reproduzem as do desenvolvimento do
cérebro humano, o potencial para o estudo de doenças é claro. O teste de
medicamentos, porém, é mais problemático. A maioria deles age em coisas
como humor, percepção, controle do corpo, dor. E esse tecido que simula
um cérebro não tem nenhum dessas coisas ainda”.
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