8.30.2013

"É um alívio conhecer as próprias limitações" Albert Einstein

 ENSINANDO O SEU CÉREBRO A PENSAR

 Por Sérgio Gabriel

Existe uma curiosidade que paira entre os seres humanos - a de saber o quanto utilizamos nosso cérebro. Será que realmente usamos menos do que poderíamos? Mito ou realidade? A análise em parte não é tão complexa assim, pois na realidade nosso cérebro trabalha com padrões mentais, em sua maioria pré-concebidos, e sendo assim, de fato utilizamos pouco nosso cérebro.

 

Todos nós conhecemos a história da evolução do homem a partir do primata, e daí podemos concluir o quanto o homem evoluiu de lá para cá. É bem verdade que ás vezes testemunhamos algumas atrocidades praticadas pelo ser humano que nos levam a duvidar dessa evolução, porém, para nossa sorte essa situação é uma exceção em relação ao que o homem é capaz de produzir.
A evolução do homem nos induz a pensar que todo esse progresso se deve exclusivamente a um único órgão o cérebro, pois todas as grandes descobertas da humanidade foram fruto do intelecto humano. Ai está todo poder existente no ser humano, e com esse poder o homem conquistou a lua, símbolo maior de que podemos alcançar outras conquistas. Por isso propomos aqui uma viagem bem mais simples, mas não menos importante.
Sendo assim, como podemos reverter essa situação da baixa utilização do cérebro? É isso que pretendemos discutir aqui. Vamos inicialmente apresentar de forma simples o funcionamento desse órgão vital, para depois apresentarmos alguns exercícios que podem auxiliar na sua melhor utilização.

 Conhecendo o cérebro
Quando falamos sobre cérebro é importante termos em mente que se trata de um órgão físico e que por isso adoece, envelhece, aposenta e evolui. Mas talvez o que deve ser destacado é que somos nós que ditamos o seu funcionamento.
O ser humano possui algo em comum com outros animais (os irracionais), pois tanto um como outro possuem mente instintiva e emocional. A mente é a forma como o cérebro se manifesta, ou seja, é o cérebro em exercício.
A mente instintiva é a que gerencia nossas reações físicas involuntárias. Um exemplo bem comum de mente instintiva é a reação do cachorro (animais possuem mente instintiva e emocional) que quando se sente ameaçado instantaneamente reage mordendo seu suposto agressor. Tal situação para ele não é voluntária, ocorre de forma incontinenti ao momento em que a ameaça ocorre. Para o ser humano não é diferente, pois se alguém encosta um objeto gelado em nosso corpo quente, involuntariamente fazemos um movimento de forma a se desvencilhar daquele objeto.
A mente emocional é aquela que gerencia nossas emoções, nossa capacidade de produzir e administrar sentimentos. Ela está presente no ser humano, e também está presente nos animais. Isso explica a razão pela qual os animais manifestam afeto para seus donos.
No caso feminino, a mente emocional é superior a dos homens, o que explica a razão da mulher ser mais emotiva e expressar com mais facilidade seus sentimentos do que os homens, porque o sistema límbico delas é mais desenvolvido do que o deles[2].
A terceira mente é a intuitiva que reage a partir de nossas experiências anteriores. Na realidade, intuição não tem nada haver com ciência advinhatória, é sim uma ação presente baseada em experiências passadas, ainda que aplicada de forma analógica.
A mente racional é a principal mente do ser humano, é ela que gerencia e processa todas as informações produzidas pelos nossos sentidos: audição, olfato, tato, paladar e visão.
E por último temos a mente estratégica que é aquela capaz de nos levar ao planejamento de nossas ações e, por consequência, produzir algumas previsões.
Em termos de funcionamento, as nossas mentes instintiva, intuitiva e emocional estão localizadas do lado direito do cérebro, e as mentes racional e estratégica estão localizadas do lado esquerdo do cérebro. Logo, nosso lado direito gerencia a emoção, intuição e criatividade, e o lado esquerdo gerencia nossa razão, cognição e planejamento.
Daí já surge uma primeira informação para respondermos a questão da baixa utilização de nosso cérebro. É que algumas pessoas utilizam mais o hemisfério cerebral direito do que o esquerdo (pessoas mais sensíveis, criativas e emotivas), já outras pessoas utilizam melhor o hemisfério esquerdo do que o direito (pessoas mais racionais, mais organizadas e com capacidade de planejamento).
É claro que se utilizássemos nosso cérebro de forma mais equilibrada (direito e esquerdo simultaneamente), nos tornaríamos seres humanos muito mais completos.
Além disso, nossas atitudes e pensamentos são frutos de padrões mentais que criamos ou que concebemos. Logo, os padrões mentais que guiam nossas vidas são incorporados a partir dos nossos sentidos. Dessa forma, a visão, o tato, o olfato, a audição e o paladar alimentam nosso cérebro com informações que mais tarde vão guiar nossas vidas.
É por essa razão que podemos concluir que utilizamos pouco nosso cérebro, pois em determinada fase de nossa vida nos acostumamos com os padrões mentais já concebidos (aceitar é mais cômodo que mudar) e não realizamos uma reciclagem em nossos pensamentos. Tanto isso é verdade, que as pessoas que mais se destacam no mundo contemporâneo são as pessoas mais intelectualizadas que constantemente estão em busca de novos conhecimentos reciclando os padrões mentais. 

 Ensinando seu cérebro a pensar
Antes de discutirmos alguns exercícios que viabilizem o equilíbrio de utilização de nosso cérebro, vamos considerar alguns princípios relevantes que podem interferir de alguma forma em seu funcionamento.
A primeira questão a se considerar é que não percebemos tudo o que sentimos, isso explica porque muitas vezes temos reações intempestivas. O aspecto positivo é que conforme vamos amadurecendo isso vai se tornando cada vez mais raro. Na juventude aprendemos, e com a idade entendemos.
Outro aspecto é que nossa mente é cumulativa e seletiva. Se por um lado possuímos capacidade de armazenar mais padrões mentais, por outro nossa mente guardará somente os que forem relevantes, ou seja, ruins ou bons, descartando os indiferentes, por essa razão é que devemos atribuir importância a tudo o que acontece em nossas vidas.
E por último devemos lembrar que o funcionamento de nosso cérebro depende em muito de condições ambientais favoráveis, tanto é que seu melhor processamento se dá quando estamos descontraídos e em boa condição de saúde (física e mental), por isso, procure controlar o stress, controlar a ansiedade, cultivar o bom humor e melhorar a qualidade de vida. Um lembrete: álcool e drogas não combinam com cérebro saudável.

 Equilibrando o uso do cérebroVamos então adentrar aos exercícios cerebrais que permitem um equilíbrio entre o uso do hemisfério cerebral direito (emoção, intuição e instintividade) e hemisfério cerebral esquerdo (razão e planejamento).
O primeiro deles é aprender a tocar um instrumento musical, pois ao desenvolvermos as habilidades necessárias para tocar um instrumento musical nós trabalhamos simultaneamente vários sentidos: audição, tato e visão. A utilização múltipla de sentidos amplia o uso simultâneo de nosso cérebro, o que estimula tanto nossa razão quanto nossos sentimentos.
Outro exercício que propicia o equilíbrio é praticar exercícios físicos, pois além de estimular mais de um sentido simultaneamente (visão, tato e audição), nos obrigam a buscar o equilíbrio físico necessário para a prática da atividade, nos levando a utilizar a razão e a sensibilidade. Além disso, o exercício físico faz com que o cérebro libere uma certa dose de endorfina, o que gera uma sensação de bem estar, propiciando condições ambientais favoráveis ao funcionamento do próprio cérebro.
Outra sugestão interessante é a de acionar os sentidos. Para fazermos isso é necessário provocá-los de alguma forma. Por exemplo, ao tomar banho, procure fazê-lo de olhos fechados, isso fará com que você acione todos os demais sentidos além da visão. Outra situação seria inverter a utilização das mãos. Se você é destro passe a fazer tarefas básicas com a mão esquerda, isso confundirá todos os seus sentidos, já que seu cérebro será acionado para interpretar aquela mudança (os canhotos devem inverter a sugestão).
Também no mesmo sentido procure alterar suas rotinas, trocando o elevador pela escada, mudando o caminho, mudando a forma de deslocamento (vá a pé, de carro, de ônibus ou de metrô), se possível mude o trajeto (você já percebeu que fazendo o mesmo caminho sempre nem sempre percebe os detalhes do trajeto?).

 Criando novos padrões mentais
Como afirmamos anteriormente, a maior parte de nossos padrões mentais são pré-concebidos e nos acostumamos a isso acomodação mental.
Ocorre que seu cérebro precisa de novas informações para ser melhor aproveitado, por isso uma primeira sugestão é a de que você tenha novas experiências e diga para você mesmo o que está achando delas (afirme ao seu cérebro se aquilo é bom ou ruim ele ainda não sabe), isso fará com que seu cérebro saia da acomodação e crie novos padrões mentais.
Se você não tem o hábito de ir ao cinema, freqüente-o. Se você não tem o hábito de ir ao teatro, vá. Procure trocar o estilo de música que normalmente ouve por um que você não tem o hábito de ouvir ou que ouve pouco. Mude seu estilo de leitura.
Em todas essas situações procure fazer comparações entre o antes e o depois para estimular seu cérebro.
Aprenda uma nova língua. Seu cérebro já conhece grande parte do vocábulo que você utiliza no dia-a-dia e isso não gera mais a necessidade de processamento para identificação do significado. Quando você começa a desenvolver uma nova língua você entra forçosamente em um processo de cognição utilizando amplamente seu cérebro e criando novos padrões mentais.
Pratique o hábito da leitura. Procure a se habituar a ler todos os dias (qualquer coisa), isso fará com que você se depare com novas palavras. Quando isso ocorrer, antes de ir ao dicionário, procure tentar entender o significado pelo contexto da frase, gerando uma necessidade de revisão de padrões mentais pré-concebidos, ou vá ao dicionário e crie novos padrões mentais. Observe que quem cultiva o hábito da leitura fala e escreve melhor.
Veja que os publicitários trabalham exaustivamente os padrões mentais e criam as publicidades justamente com esse objetivo - criar um novo padrão mental ou utilizar um já pré-concebido. Isso explica porque muitas vezes consumimos algo involuntariamente. Na realidade a publicidade despertou em você essa necessidade, que racionalmente você ainda não havia programado. Por isso é importante questionarmos todos os nossos impulsos alimentados por esses padrões pré-concebidos.
Por último, sugerimos que você passe a visualizar (sempre que possível) todas as informações que você recebe pelos demais sentidos (tato, olfato, audição, paladar). Logo após receber a informação por um desses sentidos, pare por alguns instantes e em seguida olhe para um ponto neutro e tente visualizar a informação. Sempre que estimulamos a visão estamos estimulando o uso de nosso cérebro.
 ConclusãoVeja que nessas poucas palavras apresentamos um breve descritivo de funcionamento do cérebro e em seguida apresentamos algumas sugestões de estímulo para ampliar sua capacidade mental.
A proposta aqui não é a de condicioná-lo no sentido de mudar sua forma de ver as coisas, mas sim de propiciar meios que possam influir positivamente na sua capacidade de utilização do cérebro e consequentemente melhorar sua qualidade de vida.
Vivemos em um mundo altamente competitivo onde diariamente a comparação é um instrumento de identificação de potenciais que melhor atendam a necessidade do mundo corporativo. Nesse sentido, utilizar melhor seu cérebro é a oportunidade para se destacar e se diferenciar para não ser apenas mais um.
E como diria o educador Paulo Freire "ai daqueles e daquelas que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã, o futuro, pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e com o agora, se atrelem a um passado, de exploração e de rotina".

 Referências
AGUERA, Llorenç Guilera. Além da Inteligência Emocional. SP: Cencage, 2009.
ATKINSON, William. O Poder da Influência Mental. SP: Universo dos Livros, 2008.
HOUZEL, Suzana Herculano. Fique de Bem com seu Cérebro. RJ: Sextante, 2007.
ROBBINS, Anthony. Poder sem Limites. RJ: Bestseller, 2008.

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