E
muitas vezes eu não reconheço as pessoas que amei nos rostos que hoje
avisto, falta algo além da aparência, além da distância, além das
imagens e também além do ego. Fica difícil captar as essências e restam
somente algumas palavras soltas, uns assuntos decorados e umas falas,
por deveras, rápidas demais. Começa a desaparecer o antigo entusiasmo e
as memórias ficam cada vez mais entre os paradoxos. Começa-se então a
inventar desculpas, o tempo fica cada vez mais ocupado e os espaços que
antes eram sempre encaixados começam a padecer.
Não
é o fim de tudo, é só o começo de um novo princípio, são só as leis que
pararam de julgar aqueles lugares, e tudo o que antes existia se torna
pouco diante do novo existente. E não é pecado observar e comprovar
isso, não é errado permitir outras visitas, que o meu mundo seja um
universo paralelo cercado de diversas possibilidades a ser somente um
rascunho do medo, um calmante, um desvio, um tédio. Por mais estranha
que possa ser essa passagem é melhor essa percepção do que sempre
perguntar o que há de errado. Não há nada errado, não tem nenhum
problema, nem tudo permanece intacto, para o mundo rodar algumas coisas
tem que parar de serem iguais.
Algumas
rotas têm que sair de eixo e algumas escolhas têm que ser substituídas.
Há sim sentimento eterno e momentos duradouros, mas há também outros
horizontes e não é porque outras situações entraram em cena que tudo que
se foi não significa nada, significa sim só não é mais tão abrangente
como antes, não tem a mesma cor, mas mantém a lembrança do antigo
brilho.
E por fim,quando falta essa
reciprocidade no olhar, essa falta do que dizer, eu me recordo o porquê
de tanto amor, o porquê de tanta saudade, o porquê de tanta história, e
daí, apesar de não se ter o que falar, respondo por entre olhares, digo
por entre o silencio da minha recordação e recupero o ar. As coisas
mudam sim, os sorrisos não se correspondem mais, mas as recordações
estão para ambos os lados em evidência. Foi um bom passado - eu penso, e
passado de certa forma não passa, ele vive aquecido nos sentimentos,
vive afagando a memória com suas doses de conforto e experiência. É por
isso que quando falta esse reconhecimento atual eu fico feliz por já ter
me encontrado nesses rostos e risos um dia. O tempo passa sim, mas o
que foi bom não tem motivo para ser esquecido.
Larissa Alves
Datilógrafa Ambulante
Datilógrafa Ambulante
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