Casa onde mora PM do Batalhão de Choque tem as cores e a sigla das Unidades de Polícia Pacificadora, mas funciona como reduto e abrigo de milicianos
Parece brincadeira, mas é verdade. A
casa, da família do sargento da PM Ronald César Força, fica no coração
da Favela da Chacrinha e é uma espécie de base informal da milícia
comandada pelo grupo do ex-PM Luiz Monteiro Doem.
Mais do que um deboche, o objetivo, ao criar a
sede da ‘UPP da Milícia’, é mostrar às 13 comunidades do bairro que o
grupo e a polícia bebem na mesma fonte de modelo de policiamento, e a
pacificação das favelas é o objetivo comum a ser alcançado.A residência começou a ser pintada no ano passado. O serviço foi concluído há três meses, com o retoque nos muros interno e externo, no mesmo padrão de cores. Além disso, a inscrição UPP está no muro lateral.
Embora oficialmente a residência pertença aos avós — já mortos — do policial, quem mora lá é ele, que é lotado no Batalhão de Choque. A comprovação está em todas as contas das prestadoras de serviço público, como a Light, relativas ao endereço da Rua Parintins. Elas estão em nome de Ronald Força.
A denúncia sobre a ligação do policial com a milícia da Chacrinha e criação da ‘UPP informal’ é investigada num Inquérito Policial Militar (IPM) aberto no Batalhão de Choque após a análise preliminar dos agentes da Coordenadoria de Inteligência. Eles fizeram imagens do imóvel e ouviram na favela relatos de que eram realizadas reuniões na casa.
Além disso, segundo as informações, há cinco meses o imóvel serviu de dormitório e base para milicianos de outros bairros que ajudaram na tentativa de invasão e retomada da Favela Bateau Mouche, também na Praça Seca.
Imóvel seria usado para guardar arsenal de criminosos
As denúncias enviadas à Coordenadoria de Inteligência da PM indicam que o sargento Ronald Força ajudaria a quadrilha de Doem com o transporte de homens e armas. Ele atuaria como uma espécie de batedor da milícia ao liderar os bondes e, graças à carteira da PM, abrir caminho em blitzes e fiscalizações. E também já teria guardado o arsenal do grupo.
Força é suspeito ainda de informar detalhes sobre locais de blitz feitas pelo Detro e pela PM a motoristas irregulares da cooperativa de Kombis e vans Ctac, da turma de Doem.
Triunvirato comanda 50 homens com fuzis e escopetas
Com a prisão de Luiz Monteiro da Silva Doem em abril, um triunvirato assumiu seu lugar no controle da milícia nas comunidades: Luiz da Costa Coelho, Evandro Barreto da Silva, o Vandrinho, e Carlos Alberto Marques de Souza.
Os três, que já ocupavam cargos estratégicos na quadrilha, agora são os encarregados de administrar o ‘gatonet’, o transporte alternativo e a segurança privada — com valores de R$ 20 a R$ 50 por residência. Ao todo, a estimativa é de que a milícia da Praça Seca tenha 50 homens armados, inclusive com fuzis e escopetas.
Deco, miliciano 1
Ex-fuzileiro e ex-vereador, Deco controlava todas as favelas da Praça Seca. Ganhou dinheiro e prestígio político, mas caiu em desgraça ao ser denunciado na CPI das Milícias e ser acusado de tramar a morte do deputado Marcelo Freixo (Psol) e da chefe de Polícia Civil, Martha Rocha. Ficou preso, foi solto graças a habeas corpus do ministro do STF Marco Aurélio Mello, teve a prisão novamente decretada e está foragido.
Doem, miliciano 2
Expulso da PM por ligações com as milícias, Luiz Monteiro Doem era o segundo homem na hierarquia da quadrilha de Deco até divergir do ex-amigo e dividir o controle das favelas da Praça Seca. Ficou com a fatia mais rentável da quadrilha e com maior número de homens. Na última eleição, lançou-se candidato a vereador para disputar votos com Deco, mas a baixa votação mostrou que não tem a simpatia da população.
- Zona Oeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário