9.15.2013

O machão e o sexo

Frustração sexual da mulher

Ilustração: Lumi Mae

  “Se eu fosse você”

A questão da semana é o caso da mulher que teve uma péssima experiência sexual com o primeiro homem com quem transou depois da separação. O egoísmo dele a deixou bastante frustrada.
Às vezes é difícil de acreditar, mas a sexualidade típica do machão é assim mesmo: impessoal, estereotipada, limitada. Cumprir o papel de macho é o principal objetivo. Trocar afeto e prazer com a parceira é secundário. Importante mesmo é o pênis ficar ereto, bem rígido e ejacular bastante. A mulher, para tal homem, só é interessante como meio de lhe proporcionar esse prazer que, na realidade, não tem nada a ver com prazer sexual.
Durante muito tempo a visão que se teve da mulher, e na qual ela também acreditou, era assim: frágil, desamparada, necessitando desesperadamente encontrar um homem que lhe desse amor e proteção e, mais do que tudo, um significado à sua vida. Mas quando começou o movimento de emancipação feminina, os homens ainda acreditavam que não tinham nada do que se libertar, desprezando o fato de que a mentalidade patriarcal oprime ambos os sexos, e estar submetido ao mito da masculinidade não é nada fácil.
A maioria dos homens ainda persegue o ideal masculino – força, sucesso, poder, nunca falhar na cama – , mas eles têm as mesmas necessidades psicológicas das mulheres: amar e ser amado, comunicar emoções e sentimentos. A questão é que desde crianças são ensinados a desprezar as emoções delicadas e a controlar os sentimentos.
Demonstrar ternura, se entregar relaxado à troca de prazer sexual com a parceira, é difícil; perder o controle ou falhar é uma ameaça constante. O processo de socialização que transforma os meninos em homens “machos” impede a espontaneidade na relação com as mulheres. É impossível ser amoroso quando se é “travado” emocionalmente.
Nos papos com os amigos eles aprendem a contar vantagens, suas conquistas sexuais e detalhes engraçados sobre as transas, muitas vezes desvalorizando as mulheres. Se os fatos correspondem ou não à realidade é o que menos importa. O sexo passa a ser um esporte, um jogo, em que se disputa a dominação da mulher. Esse roteiro “homem-caçador”/ “mulher-presa” causa sérios prejuízos à sexualidade masculina. Os homens são levados a organizar sua energia e percepção em torno do desempenho e, assim, se transformam em máquinas de fazer sexo, preocupados apenas em “marcar pontos” e ter ereções.
Apesar das aparências em contrário, na vida adulta a sexualidade masculina continua sendo uma experiência ansiosa e limitada. Poucos homens conseguem conhecer a intimidade emocional com a mulher, em vez de somente a sexual. Não é de se estranhar, então, o resultado de um importante estudo sobre sexualidade realizado nos Estados Unidos, que mostrou que quase a metade de homens e mulheres americanos sofre de disfunção sexual.
Muitas mulheres, por conta de tanta repressão, ainda têm dificuldades no sexo, mas não resta dúvida de que os estereótipos tradicionais de masculinidade inibiram a capacidade de prazer sexual do homem. Demonstrar ternura, se entregar relaxado à troca de prazer com a parceira é difícil. Perder o controle ou falhar é uma ameaça constante, tornando o sexo uma experiência ansiosa e limitada.
É inegável que a masculinidade está em crise. Nos últimos 25 anos foi constatado em vários países doenças do homem esgotado. Todo o esforço exigido deles para ser considerados “homens de verdade” provoca angústia, medo do fracasso e dificuldades afetivas.
Mas como resolver o impasse entre a proibição social de expressar sentimentos considerados femininos e a crítica cada vez mais acirrada ao homem machista? Como os homens podem recuperar sua autonomia?
Talvez o jeito seja se unir às mulheres e, examinando o mito da masculinidade, pensar em sua própria saída do patriarcado, repudiando essa masculinidade como natural e desejável. Nem todos aceitam o roteiro do macho e cada vez mais homens, em todo o mundo, tomam consciência da desvantagem desse papel e empreendem a desconstrução e a reconstrução da masculinidade.
Quem sabe se dessa forma as relações afetivas e sexuais não se tornam mais plenas? Talvez o sexo insensível, considerado viril, passe a ser coisa do passado, e ninguém mais veja graça na anedota que diz que nenhum dos parceiros sente prazer na primeira experiência sexual, mas que o menino atinge o orgasmo no dia seguinte… quando conta a seus amigos.

Por Regina Navarro Lins

 

Comentário  sobre o artigo

Miguel DAvila

Em História e Sociologia aprende-se que sociedades, desde tempos remotos, experimentam variações diversificadas de estruturas sociais. Em todos os tempos, as transformações sociais são dinamismos incontroláveis. De outra parte, desde antanho, existiram visionários. Ao imaginar-se evoluções em andamento, deve-se evitar ser utopista. Igualmente sempre houve reacionários, idealistas, e revolucionários. Nos movimentos visando mudanças sociais, políticas ou econômicas há detentores de poder e informação, e massa de manobra, muitas vezes formada de inocentes úteis, conduzidos por propaganda enganosa e desinformação. Projetos anunciados como de futuro bem comum, costumam ser maquinações para benefícios de dominantes no presente. Desconstrução de estrutura social que se queira hoje, não é diferente de exemplos do passado em aspectos de interesses. Todos deveriam ter consciência de em que se metem socialmente, mas tem sido o contrário.
0 carinho deve sempre ser ingrediente da relação sexual, porém há pessoas afeitas a certo sado-masoquismo. Efetivamente é mais comum entre mulheres, mas têm homens adeptos. Excede os limites admissíveis se não for fantasias ou ações sem efeito ofensivo, nocivo ou lesivo. Há uma severa responsabilidade de quem for ativo nesse tipo de ato, pois que não pode haver violência. Algumas pessoas têm sensibilidade erótica, excitam-se, em ter cabelos puxados, manuseios enérgicos, ou receberem palmadas nas nádegas, porém há rígido compromisso de uso controlado da força. Já tapas na cara parecem extrapolar o que seja erótico/libidinoso. O ato sexual apenas por si não autoriza a iniciativa pessoal de práticas sado-masoquistas, que exigem necessária intimidade, perfeito entendimento e manifesto consenso. Há, sim, uma certa força às vezes desejada por algumas mulheres, havendo aquelas que são sensíveis ao que se pode chamar de sexo selvagem.

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