“Se eu fosse você”
A questão da semana é o caso da mulher que teve uma péssima experiência sexual com o primeiro homem com quem transou depois da separação. O egoísmo dele a deixou bastante frustrada.Às vezes é difícil de acreditar, mas a sexualidade típica do machão é assim mesmo: impessoal, estereotipada, limitada. Cumprir o papel de macho é o principal objetivo. Trocar afeto e prazer com a parceira é secundário. Importante mesmo é o pênis ficar ereto, bem rígido e ejacular bastante. A mulher, para tal homem, só é interessante como meio de lhe proporcionar esse prazer que, na realidade, não tem nada a ver com prazer sexual.
Durante muito tempo a visão que se teve da mulher, e na qual ela também acreditou, era assim: frágil, desamparada, necessitando desesperadamente encontrar um homem que lhe desse amor e proteção e, mais do que tudo, um significado à sua vida. Mas quando começou o movimento de emancipação feminina, os homens ainda acreditavam que não tinham nada do que se libertar, desprezando o fato de que a mentalidade patriarcal oprime ambos os sexos, e estar submetido ao mito da masculinidade não é nada fácil.
A maioria dos homens ainda persegue o ideal masculino – força, sucesso, poder, nunca falhar na cama – , mas eles têm as mesmas necessidades psicológicas das mulheres: amar e ser amado, comunicar emoções e sentimentos. A questão é que desde crianças são ensinados a desprezar as emoções delicadas e a controlar os sentimentos.
Demonstrar ternura, se entregar relaxado à troca de prazer sexual com a parceira, é difícil; perder o controle ou falhar é uma ameaça constante. O processo de socialização que transforma os meninos em homens “machos” impede a espontaneidade na relação com as mulheres. É impossível ser amoroso quando se é “travado” emocionalmente.
Nos papos com os amigos eles aprendem a contar vantagens, suas conquistas sexuais e detalhes engraçados sobre as transas, muitas vezes desvalorizando as mulheres. Se os fatos correspondem ou não à realidade é o que menos importa. O sexo passa a ser um esporte, um jogo, em que se disputa a dominação da mulher. Esse roteiro “homem-caçador”/ “mulher-presa” causa sérios prejuízos à sexualidade masculina. Os homens são levados a organizar sua energia e percepção em torno do desempenho e, assim, se transformam em máquinas de fazer sexo, preocupados apenas em “marcar pontos” e ter ereções.
Apesar das aparências em contrário, na vida adulta a sexualidade masculina continua sendo uma experiência ansiosa e limitada. Poucos homens conseguem conhecer a intimidade emocional com a mulher, em vez de somente a sexual. Não é de se estranhar, então, o resultado de um importante estudo sobre sexualidade realizado nos Estados Unidos, que mostrou que quase a metade de homens e mulheres americanos sofre de disfunção sexual.
Muitas mulheres, por conta de tanta repressão, ainda têm dificuldades no sexo, mas não resta dúvida de que os estereótipos tradicionais de masculinidade inibiram a capacidade de prazer sexual do homem. Demonstrar ternura, se entregar relaxado à troca de prazer com a parceira é difícil. Perder o controle ou falhar é uma ameaça constante, tornando o sexo uma experiência ansiosa e limitada.
É inegável que a masculinidade está em crise. Nos últimos 25 anos foi constatado em vários países doenças do homem esgotado. Todo o esforço exigido deles para ser considerados “homens de verdade” provoca angústia, medo do fracasso e dificuldades afetivas.
Mas como resolver o impasse entre a proibição social de expressar sentimentos considerados femininos e a crítica cada vez mais acirrada ao homem machista? Como os homens podem recuperar sua autonomia?
Talvez o jeito seja se unir às mulheres e, examinando o mito da masculinidade, pensar em sua própria saída do patriarcado, repudiando essa masculinidade como natural e desejável. Nem todos aceitam o roteiro do macho e cada vez mais homens, em todo o mundo, tomam consciência da desvantagem desse papel e empreendem a desconstrução e a reconstrução da masculinidade.
Quem sabe se dessa forma as relações afetivas e sexuais não se tornam mais plenas? Talvez o sexo insensível, considerado viril, passe a ser coisa do passado, e ninguém mais veja graça na anedota que diz que nenhum dos parceiros sente prazer na primeira experiência sexual, mas que o menino atinge o orgasmo no dia seguinte… quando conta a seus amigos.
Por Regina Navarro Lins
Comentário sobre o artigo
Miguel DAvila
Em
História e Sociologia aprende-se que sociedades, desde tempos remotos,
experimentam variações diversificadas de estruturas sociais. Em todos os
tempos, as transformações sociais são dinamismos incontroláveis. De
outra parte, desde antanho, existiram visionários. Ao imaginar-se
evoluções em andamento, deve-se evitar ser utopista. Igualmente sempre
houve reacionários, idealistas, e revolucionários. Nos movimentos
visando mudanças sociais, políticas ou econômicas há detentores de poder
e informação, e massa de manobra, muitas vezes formada de inocentes
úteis, conduzidos por propaganda enganosa e desinformação. Projetos
anunciados como de futuro bem comum, costumam ser maquinações para
benefícios de dominantes no presente. Desconstrução de estrutura social
que se queira hoje, não é diferente de exemplos do passado em aspectos
de interesses. Todos deveriam ter consciência de em que se metem
socialmente, mas tem sido o contrário.
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