Espera: Mães de UTI relatam rotina de angústia e esperança
Hoje, com dois anos, Julia caminha. Com uma pelúcia da Minnie e o boneco Patati, ela brinca de empurrar um carrinho. Balbucia algumas palavras, como qualquer criança da sua idade. Mostra vários coelhos de pelúcia, aponta para as cenouras que eles carregam. Aprendeu as cores sem que seus pais a ensinassem. A única coisa que demonstra que a pequena passou por esse complexo procedimento é uma cicatriz de cerca de 10 centímetros nas costas e os pezinhos levemente curvados para o centro, condição que está sendo corrigida por meio de botas ortopédicas.
A outra “pendência” da cirurgia é a briga com o plano de saúde. Sem cobertura pelo SUS e após a recusa do convênio, a família gastou R$100 mil no procedimento. O valor foi restituído judicialmente, mas a operadora recorreu e o processo corre no Tribunal de Justiça.
Cirurgia fetal no Brasil
A cirurgia fetal começou nos Estados Unidos em 1997. No Brasil, ela foi feita pela primeira vez em 2003, pelos cirurgiões Antônio Fernando Moron, obstetra, e Sergio Cavalheiro, neurocirurgião. Nesse mesmo ano, os médicos fizeram seis cirurgias. Os procedimentos, de sucesso, viraram motivo para uma tese de doutorado na Escola Paulista de Medicina (Unifesp), além de ter sido publicado em uma revista científica, relatando a evolução da criança da cirurgia até seus três anos.
O hiato de 2003 até 2011 se deu por conta de que os Estados Unidos estavam fazendo um estudo (MOMS – Management of Myelomeningocele Study) em que os especialistas pesquisavam se a cirurgia a 'céu aberto' era realmente mais eficiente do que aquela feita depois do nascimento da criança. Por questões éticas, o Brasil parou de fazer cirurgias fetais nesse meio tempo. “O estudo foi interrompido em 2010, pois as evidências de que a cirurgia fetal era muito melhor do que a outra eram enormes”, comenta Moron.
O caso de Julia é um sucesso completo. Em algumas situações, a criança não atinge esse mesmo desenvolvimento - pode ter pequenas sequelas motoras e cognitivas - mas é um quadro ainda muito vantajoso do que postergar a cirurgia para depois do nascimento.
Em 2011, a cirurgia voltou a ser feita no Hospital Santa Joana. Hoje, já foram realizadas mais de 100 cirurgias nesse hospital. E ela não vale somente para a mielomeningocele, má-formação que atinge uma a cada 1000 crianças. Também é possível resolver casos de tumores no pulmão e encefalocele.
“A cirurgia fetal não é mais uma cirurgia experimental, uma vez que houve o MOMS que comprovou a eficácia”.
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