A medida, segundo especialistas, indica que o racionamento já está em curso na madrugada
AE
O ofício, ao qual o Estado teve acesso, é assinado pelo secretário
municipal de Governo, Francisco Macena, com a data de ontem. Segundo o
documento, o comitê gestor que acompanha o contrato de concessão do
serviço de saneamento da capital foi informado pela Sabesp de que a
pressão da água na rede de distribuição da cidade está sendo reduzida de
madrugada de aproximadamente 40 metros de coluna d?água (m.c.a.) para
10 metros de coluna d?água.
"Na prática, essa redução deixa a água sem força suficiente para
atingir alturas maiores do que 10 metros. Ou seja, acima dessa altura os
reservatórios e as regiões mais altas podem apresentar dificuldades no
abastecimento. Esse racionamento exige que a gestão pública municipal
fique atenta ao impacto gerado na rede para não haver prejuízo dos
serviços", diz o ofício. Procurada, a Prefeitura informou que não
comentaria o teor do documento.
Impacto. O m.c.a. é a unidade que mede a pressão da água na rede a
partir dos reservatórios de distribuição. Quanto menor o índice, menor o
alcance da água. "A redução da pressão ajuda a diminuir a quantidade de
perda de água por vazamento. A consequência disso é que, em lugares
mais altos, a água pode ter dificuldade de subir pela tubulação,
prejudicando o abastecimento. Não deixa de ser uma forma racionamento",
explica o coordenador de Engenharia Civil do Centro Universitário da
Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), Kurt Amann.
Segundo Rubem Porto, especialista em recursos hídricos da Escola
Politécnica da USP, além da redução dos vazamentos, a medida faz com que
reservatórios, seja de casas ou de distribuição pública, "não recebam
água se estiverem a mais de dez metros de altura". Ele diz que, nesses
casos, "uma pessoa que não tem caixa d?água e mora em uma zona alta da
cidade não vai conseguir tomar um banho durante a madrugada".
Porto acredita que a prática é a forma menos prejudicial de se
economizar água em tempos de crise. "Racionamento é uma palavra que
perdeu o sentido. Está se tomando uma providência que automaticamente se
reduza o consumo. Isso é feito à noite, porque é um horário em que a
população é menos prejudicada. A Sabesp tem de alguma forma reduzir o
consumo de água com o menor prejuízo possível para a população", afirma.
Queixas
Os casos de falta d’água na capital começaram a se intensificar em
fevereiro, logo após a Sabesp tornar público que o Sistema Cantareira,
que abastece 47,3% da Grande São Paulo e parte da capital, estava em
crise. A maioria das queixas feitas à reportagem relatava justamente a
falta d?água no período noturno.
Os primeiros bairros a sofrer com o corte foram os da zona norte,
que são abastecidos pelo Cantareira. Nas últimas semanas, porém, as
reclamações se estenderam para regiões abastecidas pelos Sistemas Alto
Tietê e Guarapiranga.
É o caso da assistente administrativa Selma Ferreira, de 46 anos,
que mora na Vila Inglesa, em Cidade Ademar, zona sul. Ela ficou mais de
36 horas sem água. "Não pensei que pudesse faltar água tão rápido. Seria
melhor se avisassem antes", disse. As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário