Redução de estômago não é só para obesos. Diabéticos e hipertensos podem se beneficiar
por Riad Younes
Adrian Clark/Flickr
A cirurgia da obesidade,
ou cirurgia bariátrica, tornou-se uma rotina. Quando bem indicada, seus
benefícios são claros e seus riscos de complicações graves calculados e
minimizados. Desde que sua segurança e seus resultados foram
confirmados em vários centros no mundo, bem como no Brasil, as
autoridades de saúde se preocuparam com o uso excessivo dessa cirurgia e
estabeleceram regras e limites para ela. Em geral, pacientes muito
obesos, já com doenças associadas à obesidade com controle ineficaz, e
com complicações crônicas como diabetes ou hipertensão, são os
candidatos mais óbvios para a cirurgia bariátrica. No entanto, se a
cirurgia reverte a obesidade e alivia a hipertensão e o diabetes, por
que limitar a recomendação aos pacientes já com estágios mais avançados
do problema? Recentemente um editorial da prestigiosa revista britânica de medicina The Lancet
perguntou: “A Cirurgia Bariátrica: Por que somente como último
recurso?” Conversamos com o doutor Ricardo V. Cohen, cirurgião
especialista em obesidade, chefe do centro de cirurgia bariátrica do
Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo e autor de um artigo sobre o tema na
mesma revista The Lancet.
CartaCapital: A cirurgia de obesidade está em expansão no mundo. Qual o real tamanho do problema no Brasil?
Ricardo Cohen:
A cirurgia para obesidade e suas doenças associadas tem crescido no
País. No Brasil, cerca de 15% da população é obesa e 5%, obesa mórbida.
Mais de 12 milhões de brasileiros são diabéticos e um bom percentual
deles está fora de controle.
CC: A cirurgia é realmente eficaz?
RC: Sem
dúvida. Cirurgia bariátrica e metabólica é uma grande ferramenta no
tratamento da obesidade e de suas complicações, principalmente o
diabetes. Infelizmente, a chance de sucesso em tratar a obesidade
isoladamente com mudanças de estilo de vida e
remédios em geral é mínima, seja pela pequena aderência dos pacientes,
seja pela falta de medicamentos que funcionem a longo prazo. Já a
cirurgia tem diversos estudos prospectivos com mais de 20 anos de seguimento e uma manutenção da perda do excesso de peso que varia de 60% a 65%.
CC: E no caso do diabetes?
RC: A
cirurgia mostrou-se muito eficiente em reverter a gravidade do diabetes
já instalado, assim como em prevenir seu desenvolvimento em pessoas
obesas. A incidência de doenças cardiovasculares também é reduzida a
longo prazo.
CC:
Existe uma limitação recomendada para a indicação de cirurgia
bariátrica em pessoas obesas, basicamente baseada no peso ou no IMC –
Índice de Massa Corpórea.
O que acha disso?
O que acha disso?
RC: Em
relação ao diabetes, é interessante observar que não existe relação
entre o IMC do paciente e a chance de controle da doença, nem previsão
de se qualquer tratamento, clínico ou cirúrgico, será eficaz baseado
puramente no IMC. Diversas pesquisas mostraram que existe ações
antidiabéticas diretas das operações bariátricas e metabólicas,
independentes até da perda ponderal. Então, se o universo de diabéticos
aumenta a números epidêmicos, a doença está mal controlada e temos ações
independentes da perda de peso da cirurgia sobre seu controle, por que
não oferecê-la como opção para aqueles que não conseguem controle
clínico?
CC: O editorial de The Lancet e o seu artigo abordam esta dúvida.
RC: Exatamente.
A questão em nosso editorial: precisamos de outros critérios de
indicação cirúrgica, sem ser somente centrada no peso do paciente, mas
sim focada na potencial gravidade de suas doenças. Portanto, com
equilíbrio, temos de incluir mais precocemente a cirurgia metabólica e
bariátrica nas rotinas de tratamento dos obesos e diabéticos. As
operações são seguras, com baixos índices de
complicações graves e com mortalidade de 0,15%, hoje semelhante a uma
simples retirada da vesícula, de acordo com um grande banco de dados
internacional com mais de 155 mil pacientes. É óbvio que, se há um
tratamento cirúrgico que oferece todas as vantagens com baixo risco, ele
não deve ser de forma alguma a última opção, mas sim uma importante
opção quando todas as opções clínicas falharam. •
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