A maioria dos insumos da indústria farmacêutica vem da Ásia. Serão eles 100% confiáveis? Por Riad Younes
por Riad Younes
ABr
Os medicamentos dividem-se em duas
categorias: originais e genéricos. Os primeiros são desenvolvidos e
comercializados por um laboratório farmacêutico, público ou privado,
enquanto seus genéricos são produzidos por outros laboratórios,
geralmente após o fim da patente exclusiva. Do ponto de vista de médicos
e pacientes, não importa se os medicamentos são originais ou genéricos,
eles devem ser eficientes, conter as doses do princípio químico ativo
exatamente como divulgado na caixa, e ser livres de impurezas tóxicas.
Para farmácias, hospitais e órgãos governamentais, ambos deveriam ser
estáveis e suportar armazenamento em condições normais. Por outro lado,
espera-se que os genéricos sejam bem mais baratos.
Os genéricos, que de início aderiam a
todos os preceitos citados, adquiriram fama e distribuição ampla em todo
o mundo. Milhões de pessoas com baixo poder aquisitivo tiveram acesso a
medicamentos pela primeira vez. No entanto, estudos e escândalos
revelados nos últimos meses têm alertado a comunidade médica para o
risco da disseminação descontrolada de medicamentos de qualidade
questionável. Um dos perigos desse comércio ilícito, além de maus-tratos
aos doentes, é a difamação dos genéricos. Estudo publicado na revista International Journal of Tuberculosis
demonstrou que 9% dos remédios contra a tuberculose distribuídos em
países em desenvolvimento não atingiram os mínimos níveis de eficiência.
E, dependendo do país, os medicamentos falsificados ou abaixo do padrão
atingiram mais de 16% (na África) e 10% (na Índia). No Brasil, os
pesquisadores estimaram que 4% dos medicamentos para tuberculose sejam
menos eficientes que o recomendado.
Atualmente,
a Organização Mundial da Saúde, as Nações Unidas e a FDA estão focando
atenção e recursos para combater a epidemia de remédios de qualidade
duvidosa. Estima-se hoje que a maioria dos medicamentos comercializados nos
Estados Unidos, e no Brasil provavelmente, assim como os insumos básicos
para sua produção, é fabricada na Ásia. Uma das maiores indústrias
farmacêuticas na Índia, a Ranbaxy, foi condenada a pagar multa de 500
milhões de dólares por falsificar dados e produzir drogas abaixo do
padrão recomendado, escândalo que trouxe incerteza e pânico a doentes de
todo o mundo. Pior, medicamentos produzidos em alguns países da Ásia
foram proibidos, por seus respectivos governos, de ser administrados a
pacientes no próprio país, mas sua exportação segue permitida.
A ONU reconhece que não existem órgãos e
recursos suficientemente adequados para controlar a cadeia de produção e
a qualidade de cada medicamento. A Anvisa, considerada uma das mais
rigorosas do mundo, tem problemas semelhantes. Na semana passada, a FDA
lançou um programa ambicioso para testar sistematicamente os
medicamentos genéricos comercializados nos EUA, garantir sua segurança
terapêutica e sua equivalência em relação aos originais.
O doutor Harry Lever, do departamento de
cardiologia da Cleveland Clinic, de Ohio, deixa clara sua preocupação:
“Perdemos o controle sobre o que as pessoas estão ingerindo medicamentos”. A pressão dos médicos e da indústria farmacêutica (e a
insegurança dos pacientes) certamente crescerá nos próximos anos contra
as indústrias produtoras de drogas genéricas. Essas, porém, são na sua
maioria sérias e fundamentais para o acesso dos pobres a tratamentos
adequados. Infelizmente, a má prática de alguns produtores
inescrupulosos está difamando os tão importantes genéricos.
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