4.28.2010

Desabastecimento de medicamentos do coquetel contra AIDS


Falta de remédios contra Aids causa protestos

Pelo menos quatro medicamentos têm problema de abastecimento.

Dois deles são usados por 172 mil pessoas.

A falta de pelo menos quatro medicamentos do coquetel contra a Aids, inclusive de droga utilizada por crianças, leva hoje movimentos sociais que defendem portadores do HIV a realizar manifestações em diferentes Estados.

Além do abacavir e da lamivudina, cujo desabastecimento foi informado recentemente, estão em falta, segundo o Ministério da Saúde, a nevirapina e a associação entre lamivudina e zidovudina (AZT). Organizações não-governamentais (ONGs) que defendem os pacientes apontam ainda desabastecimento do efavirenz, o que o ministério diz desconhecer.

O programa nacional de combate à Aids é considerado um dos melhores do mundo por organismos internacionais.

Segundo o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do ministério, problemas na assinatura de contratos com laboratórios públicos dos Estados explicam o desabastecimento da lamivudina e da zidovudina, usados por 172 mil pessoas.

No caso da nevirapina e do abacavir, utilizados por 4,1 mil, entre elas 400 crianças, o nó foi em um contrato internacional em que o governo adquire as drogas de um laboratório indiano por meio do Unicef, órgão das Nações Unidas para a infância, diz o ministério.

"É o desmanche de um programa considerado referência. E o presidente Lula ainda quer fazer acordos de cooperação para a produção de drogas com outros países. A falta de remédios pode aumentar a resistência ao HIV", disse William Amaral, secretário do fórum de ONGs no Rio de Janeiro.

No Estado, a lamivudina distribuída para pessoas com hepatite foi remanejada para quem vive com o HIV. "Pela quarta ou quinta vez na década, somos obrigados a sair às ruas para exigir sobriedade das gestões federal e estaduais", disse Luiz Alberto Volpe, que vive com o HIV e preside a ONG Hipupiara.

Defesa
"Houve um atraso no fechamento dos contratos entre o ministério e as primeiras parcelas, que chegariam entre fevereiro e março, só estão chegando agora", disse Rogério Scapini, responsável pela logística de medicamentos e insumos do departamento, sobre o caso da lamivudina e associações.

Com a falta, as entregas passaram a ser fracionadas, sobrecarregando a logística dos programas estaduais. "Houve um mix de problemas, tanto de um como de outro", disse o técnico, quando questionado se os problemas eram do ministério ou dos laboratórios.

A situação deve ser normalizada nos próximos dias. A associação dos laboratórios não comentou. O "mix de problemas", afirmou Scapini, também explica os atrasos de nevirapina e abacavir, "parte do Ministério da Saúde, parte do Unicef, da Anvisa e do produtor". A situação deve ser normalizada em meados de maio.

Em resposta, o Unicef destacou que os problemas foram do laboratório e decorrentes do fechamento do espaço aéreo europeu. Já o gerente-geral do laboratório indiano, Balaji Subramaniam, disse que o atraso é da alçada do governo e do Unicef.


Saiba Mais

Malabarismo na distribuição de anti-retrovirais

Farmacêuticos se esforçam para assegurar anti-retrovirais para todos os portadores do HIV

O desabastecimento dos anti-retrovirais zidovudina, indinavir, atazanavir, tenofovir e da combinação zidovudina + lamivudina (Biovir), ocorrido no início deste ano, gerou uma crise na saúde. Diversos serviços de Aids do Brasil tiveram problemas para atender a demanda dos pacientes. Em Sapopemba, região leste de São Paulo, o SAEBetinho, responsável pela assistência de mais de 800 portadores de HIV/Aids, interrompeu o tratamento de 30 soropositivos devido à falta do atazanavir.
Muitas versões para o fato foram apresentadas pelo Ministério da Saúde. Desde a carência de matéria-prima para a fabricação de remédios até a falta de dinheiro para a compra dos medicamentos
protegidos por patentes.
De acordo com os farmacêuticos responsáveis pelo controle logístico dos antiretrovirais de São Paulo e Rio de Janeiro, que nos últimos meses tiveram que fracionar os medicamentos para conseguir atender seus pacientes, o quadro agora é melhor do que no começo do ano. Mas ainda é cedo para afirmar que tudo está 100% resolvido.

Combinação zidovudina + lamivudina ainda é problema
Segundo Élcio Gagizi, coordenador do núcleo de controle logístico de medicamentos do Programa Municipal DST/Aids de São Paulo, os estoques estão sendo normalizados. "A situação dos anti-retrovirais na cidade não está ruim, mas também não posso afirmar que esteja regularizada", comenta Gagizi. "O problema é que o meu estoque de seguranç é suficiente para um mês e meio, no máximo". Por isso, o Programa continua orientando as unidades dispensadoras a
fracionar algumas drogas e desaconselhando o atazanavir 150 mg para novos tratamentos.
No Rio, onde o problema não foi tão grave quanto em São Paulo, o único antiretroviral em falta é a combinação zidovudina + lamivudina, que está sendo distribuída em comprimidos separados.
Este fato é preocupante, segundo Sérgio Aquino, responsável pela logística de medicamentos do Programa Municipal de DST/ Aids do Rio de Janeiro:
"Dessa forma, o paciente que tomava dois comprimidos por dia dessa medicação passa a ingerir 8. Quando somamos esses comprimidos com os outros remédios que o portador do HIV usa, pode-se chegar a
um esquema de mais de 20 pílulas por dia. Isso tem sérias conseqüências na adesão".

Sistema de informação eficaz pode ser a solução
Os dois responsáveis pela distribuição de anti-retrovirais acreditam que a solução do problema pode estar em um sistema de informação que funcione. O Sistema de Controle Logístico de Medicamentos "Siclom" foi criado com essa finalidade, mas ainda tem muitos problemas.
A atualização da demanda real de consumo dos anti-retrovirais pelas farmácias também é importante. "O Ministério da Saúde precisa saber a quantidade exata de medicamentos usados em cada unidade de saéde", assinala Aquino. O Rio de Janeiro já começou um trabalho de revisão de recadastramento.

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