4.28.2010

CONSIDERAÇÕES SOBRE DESENVOLVIMENTO TECNÓLOGICO EM MEDICAMENTOS


Qualquer pessoa tem tendência a considerar os medicamentos como um dado adquirido, mas eles representam o culminar dum processo longo, trabalhoso e dispendioso de pesquisa e desenvolvimento em que a criatividade, persistência e reflexão constituem elementos vitais.

Os nossos investigadores pensam, criam, descobrem e analisam, usam as técnicas mais recentes ou desenvolvem eles próprios novas técnicas de investigação. Criam novas moléculas e desenvolvem novos ensaios para as testar. A interpretação dos resultados conduz estes cientistas à criação de substâncias que se espera resultem ainda melhor que as existentes.

Esta pesquisa é a base do desenvolvimento de fármacos. Embora a automatização tenha diminuído a parte mais laboriosa das investigações, trata-se ainda dum processo requerendo muito tempo, que apenas pode ser realizado através do compromisso dos nossos investigadores para com os doentes.
Afinal, o objetivo último da nossa investigação é a redução do sofrimento. Tal como o Dr. Paul Janssen dizia: "Existem ainda demasiadas doenças - incluindo doenças que colocam a vida em risco - que não podem ser curadas. Encontrar fármacos para estas doenças constitui o nosso desafio".

Benefícios da biotecnologia

Além do desenvolvimento de fármacos sintéticos, retiramos atualmente dividendos dos recentes avanços da biotecnologia. Utilizando estes desenvolvimentos, podemos aumentar bastante as possibilidades de aliviar os sintomas dos doentes ou curá-los.

Aliviar o enorme fardo da fadiga em doentes renais e oncológicos, proporcionar uma recuperação mais rápida nas grandes cirurgias ortopédicas e promover a cicatrização de feridas em doentes diabéticos são alguns dos benefícios destes desenvolvimentos em biotecnologia.

O nascimento de um novo medicamento é quase como uma competição por K.O. (knock-out). Em cada ano, milhares de novas substâncias químicas são descobertas por equipas de investigação farmacêutica. Eventualmente, uma dessas moléculas tornar-se-á num novo medicamento. Novas técnicas de tratamento da informação combinam dados de diferentes proveniências de modo a formar um retrato completo do novo composto e do seu potencial, tão rapidamente quanto seja possível.

Nos tempos em que a automatização e os computadores eram de difícil acesso, cada uma destas fases levava meses ou anos. Nos dias de hoje a automatização e as técnicas assistidas por computador podem reduzir o tempo necessário em vários destes passos. Mesmo assim, demora cerca de 13 anos para percorrer o caminho duma nova molécula até que um fármaco possa ser alvo de prescrição médica.


Pesquisa Académica

No início de qualquer projecto de síntese duma nova molécula é necessário obter informação rigorosa sobre o conhecimento disponível à data relativamente ao campo específico em investigação. Atualmente, estamos a utilizar tecnologia de informação para avaliar milhares de relatórios de investigação publicados todos os meses em todo o mundo. Os principais avanços são destacados e centenas de pormenores são examinados antes de serem levados de forma automática à atenção dos nossos investigadores. Os sistemas de informação computorizados trabalham de forma ininterrupta e executam em apenas alguns momentos, tarefas que um ser humano necessitaria de meses para completar. Esta tecnologia acelerou significativamente o nosso progresso na direção de produtos promissores, em termos de eficácia.

Modelação Molecular

Empregar as técnicas mais recentes significa que novos desenvolvimentos farmacológicos podem começar no monitor de um computador. Estamos usando a compreensão profunda do funcionamento molecular dos fármacos e dos seus locais de ação para conceber moléculas que se ajustem aos perfis terapêuticos que estamos a procurar. Neste momento é possível submeter estes modelos moleculares teóricos a verificações preliminares, tais como potenciais efeitos secundários, antes mesmo de as moléculas serem sintetizadas.

Sintese e Análise

Os departamentos de Síntese mantêm uma produção constante de moléculas novas e originais com actividade biológica interessante, o que se fundamenta no criativo processo de modelação molecular. Todos os anos, vários milhares de compostos entram neste extenso programa de investigação. Dez anos depois, apenas alguns deles atingirão a ambicionada meta de se constituírem como fármacos para utilização clínica.

Farmacologia

A farmacologia é a parte vital da pesquisa farmacêutica. Embora se possa perspectivar determinada actividade, esta deve ser provada em experiências farmacológicas. Há algum tempo, a actividade farmacológica era avaliada usando modelos, mas cada vez mais podem ser usadas novas técnicas com organismos mais pequenos e culturas de células ou estruturas subcelulares com resultados interessantes e deste modo, reduzir a necessidade de animais de laboratório. Os avanços na logística estão a acelerar o desenvolvimento de fármacos através da morosa série de passos essenciais para a avaliação e teste de qualquer novo composto. Por exemplo, o armazenamento e distribuição automáticos de amostras serve de base aos sistemas de rastreio de alta capacidade nos laboratórios, permitindo-lhes avaliar milhares de moléculas em cada ano.
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Farmacocinética e Toxicologia

Pretendemos conhecer exactamente o que acontece de forma prospectiva a um fármaco quando é introduzido no corpo de pessoas ou animais, em plantas ou no ambiente; e se determinada substância é segura para estes elementos. O estudo de farmacocinética permite responder à primeira parte: quanto é absorvido pela circulação sanguínea e quão rapidamente atinge o seu alvo; se ultrapassa a barreira hematoencefálica e atinge o cérebro; se se acumula em determinados tecidos; de que forma é metabolizado e como volta a sair do organismo? Os toxicologistas procuram possíveis efeitos secundários indesejáveis, desde os extremamente perigosos aos apenas levemente incómodos e efeitos a curto e longo-prazo. Demora um ano, por exemplo, para determinar se uma substância é ou não carcinogénica. Também neste campo, temos tido muito sucesso na redução da necessidade de utilizar animais de laboratório.


Investigacao Clínica

Quando um determinado composto passou através dos crivos laboratoriais, é sujeito a ensaios clínicos, investigando-se assim o seu efeito nos doentes. Este estádio no desenvolvimento de um fármaco, que consiste em quatro fases, é de longe o mais prolongado e dispendioso. Demora cerca de cinco anos, uma vez que cada fármaco necessita de ser testado em 2000-4000 doentes de forma a provar a sua eficácia e permitir aferir tanto quanto seja possível, da sua segurança. A investigação clínica nos doentes tem lugar em hospitais reputados em todo o mundo e de acordo com as normas rigorosas das Boas Práticas Clínicas. É desnecessário reafirmar em que medida esta fase é indispensável: apenas uma em cada cinco destas moléculas passará a fase de testes e demonstrará suficiente eficácia e segurança.


Métodos de Produção

Já durante a fase de investigação, temos de encontrar os melhores métodos de produção. Os departamentos de produção química têm de encontrar um método seguro e economicamente viável, mas sem deixar de manter a elevada qualidade do produto. Os nossos departamentos de produção farmacêutica devem fabricar os fármacos na sua formulação final - comprimidos, supositórios, gotas, pomadas, ampolas, etc. - após pesquisa aprofundada para encontrar a forma mais adequada e efectiva. A produção de fármacos deve obviamente estar de acordo com os mais rigorosos padrões de pureza, segurança e qualidade.


Registo

Todos os dados virão a ser revistos pelas autoridades regulamentares, o que envolve bastante tempo e papel. De forma crescente, este processo complexo está a ser digitalizado, com uma perspectiva de autorização de submissão electrónica de ficheiros de registo.

Informação e Marketing

Durante as fases de investigação e Desenvolvimento de um fármaco, efectua-se a preparação de informação detalhada sobre o novo fármaco, de forma a facultar aos médicos dados baseados na evidência e meios que permitam aos seus doentes utilizarem apropriadamente o fármaco.

Vigilânciancia pós-comercialização

Após o lançamento de um fármaco no Mercado, a tarefa da companhia não está de modo nenhum terminada. Os resultados da utilização na prática clínica são continuamente avaliados e comunicados à sede. Além disso, a pesquisa sobre a eficácia da droga e possíveis novas indicações é efetuada numa base permanente. A obtenção de dados continua muito tempo depois do composto se ter tornado um novo fármaco de sucesso, combinando informação numa escala global, monitorizando o desempenho e muitas vezes identificando outras aplicações válidas potenciais.

Conformidade, controlo de qualidade & segurança

Em quase nenhuma outra indústria os produtos e processos de produção são sujeitos a verificações mais rigorosas que na indústria farmacêutica. O objectivo final de todos estes esforços reside no fabrico de medicamentos puros e seguros, expectativa que cada doente tem direito a ter. A investigação e a produção estão sujeitos a normas muito rigorosas de Boas Práticas Laboratoriais, Boas Práticas Clínicas, Boas Praticas de Armazenagem,Boas Práticas De Controle de Qualidade, que hoje denominamos a este conjunto de BPF(BOAS PRÁTICAS DE FAABRICAÇÃO).

Rastreio de fármacos mais rápido através de novos desenvolvimentos

No passado, a avaliação através da utilização de modelos animais demonstrava se uma substância poderia atuar como -por exemplo-, um analgésico, um antipsicótico ou um agente espasmolítico.

Mais tarde, o teste in vitro nos sistemas de receptores podia prever a atividade de substâncias em tecidos isolados. Atualmente, com o conhecimento crescente resultando da genética, biologia molecular e fisiopatologia, é possível identificar moléculas biológicas "alvo" específicas tais como enzimas, expressão de produtos de genes específicos, receptores hormonais e interações proteína-proteína, que estão implicadas em processos patológicos como o cancro ou as infecções. O Rastreio de alta capacidade (HTS) é um método que permite a avaliação de várias centenas de milhares de substâncias relativamente a um alvo determinado durante um período muito curto.

Os robôs são capazes de distribuir de forma automática diferentes substâncias de teste da colecção de compostos da JRF's em muitas centenas de placas microtituladas durante cada semana. Os sistemas automatizados, designados para tarefas específicas de processamento de placas, efectuam operações de lavagem e medida no sinal de análise. Desta forma, é possível testar 10000 compostos por semana relativamente a múltiplos alvos, uma tarefa que durava um ano inteiro quando efetuada manualmente.

Através da identificação das placas microtituladas e de uma etiqueta com código de barras, é possível a fácil determinação no ecrã, da identidade dos compostos de teste que demonstram o efeito pretendido contra o alvo biológico.
atualmente os métodos desenvolvidos possam atingir uma muito mais elevada taxa de rastreio do que poderíamos imaginar no passado, os desenvolvimentos focalizam-se em sistemas de rastreio de ainda maior capacidade: processamento automatizado mais rápido, novas técnicas de análise e placas de maior densidade.

Antonio Celso Brandão

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