4.29.2010

Portadores de HIV fazem protesto


Remédios contra Aids em falta

Pacientes fazem protestos em onze estados do Brasil, inclusive no Rio de Janeiro, devido à irregularidade no fornecimento de três medicamentos. Governo alega que houve problemas com fabricantes das substâncias.

Rio - Portadores de HIV e Aids fizeram ontem protestos em pelo menos 11 estados do País devido à falta de fornecimento de antirretrovirais — remédios que integram o coquetel contra a doença.

No Rio, o Fórum Estadual de ONGs Aids reuniu cerca de 100 militantes, que reclamaram sobre a falta dos remédios abacavir, lamivudina e biovir, usados no tratamento de soropositivos.

No Centro do Rio, manifestantes se reuniram na Candelária para fazer um alerta sobre o problema |

O secretário do fórum, Willian Amaral, a interrupção do tratamento faz com que o vírus se torne resistente aos antirretrovirais. “ Ter esses remédios é nosso direito. Um desabastecimento como esse é uma vergonha”, protestou.

De acordo com o Programa de DST/Aids do Ministério da Saúde, 56 mil pessoas utilizam a lamivudina no Brasil.

No caso do biovir (lamivudina e zidovudina), o índice aumenta para 116 mil. Os que utilizam abacavir somam 3,6 mil pessoas.

“Esse ano não recebi lamivudina, nevirapina e abacavir. Se continuar sem os remédios, vou ter que mudar o tratamento. Temos 20 crianças dependendo dos antirretrovirais”, protestou Lucinha Araújo, fundadora da Sociedade Viva Cazuza.

Segundo o diretor do Departamento de DST/Aids do Ministério, Eduardo Barbosa, o desabastecimento do abacavir ocorreu por problemas no contrato com o laboratório fabricante.

“A Anvisa fez exigências que o laboratório não conseguiu cumprir a tempo. Em dezembro, fizemos nota técnica orientando que os médicos mudassem o tratamento de quem usa o abacavir para que pacientes não fossem prejudicados”.

Em relação à lamivudina, ele explicou que houve atraso na produção, em Farmanguinhos, prejudicando a distribuição em alguns municípios.

A secretaria estadual de Saúde negou problemas na distribuição e no estoque dos medicamentos, que informou estarem “regulares”.

Já a municipal disse, por nota, que houve diminuição do estoque devido a problemas no fornecimento do ministério, mas que “os pacientes não foram prejudicados”.

Porto Alegre - Pelo menos sete capitais tiveram, nesta quarta-feira, manifestações para chamar a atenção para a falta de antirretrovirais, medicamentos do coquetel contra a aids. De preto, 300 pessoas se reuniram em frente à Secretaria Estadual de Saúde em São Paulo. Em Porto Alegre (RS), um grupo de 20 pessoas protestou também contra a demora para fazer exames, como o de carga viral.

Na capital paulista, um grupo foi até a Secretaria de Saúde e conversou com a secretária executiva, Iracema Leonardi. O presidente do Fórum de ONG/Aids do Estado de São Paulo, Rodrigo Pinheiro, afirmou que primeiro foi cobrada a corresponsabilidade do Estado em relação à falta de medicamentos.

"O Estado alega que não tem responsabilidade, mas a secretaria pode ser corresponsável, porque, quando o ministério (da Saúde) não supre (a demanda), a secretaria pode comprar e distribuir para as pessoas que fazem uso." Em todo o País, cerca de 200 mil pessoas fazem uso desses medicamentos. Em São Paulo, esse número é de 70 mil.

Outra reclamação em São Paulo é a questão é na logística. O grupo pediu maior agilidade na distribuição dos medicamentos. "A secretária nos disse que isso já havia sido detectado e já estão trabalhando para tentar resolver esse problema."

Pinheiro afirmou que, atualmente, o governo trabalha com um estoque mínimo de um mês e que, se continuar assim, sempre vai haver falta dos antirretrovirais, e que o ideal seria que o estoque mínimo fosse de três meses.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que "a logística de medicamentos antirretrovirais trabalha com estoques reguladores de no mínimo de três meses. Devido a atrasos nas entregas programadas dos medicamentos Lamivudina (3TC) 150mg, Zidovudina (AZT) 300mg + Lamivudina (3TC) 150mg, a quantidade desses antirretrovirais enviados a cada remessa aos Estados foi reduzida para garantir a cobertura em todo o território nacional. Isto gerou uma sobrecarga da estrutura logística de distribuição em alguns locais."

Rio Grande do Sul

Em Porto Alegre, onde há a maior incidência de aids, um grupo de 20 pessoas participou do Tolerância Zero, uma manifestação para chamar a atenção para a falta de antirretrovirais, em frente ao Centro Administrativo do Rio Grande do Sul, na região central, na tarde desta quarta-feira.

O grupo defende que a falta de medicamentos se deve à má gestão e ao mal planejamento no combate e enfrentamento da aids no Estado. O advogado Gustavo Bernardes, do grupo Somos Comunicação, Saúde e Sexualidade, afirmou que a falta de remédios e a demora na marcação de exames não é recente. Ele já acionou o Ministério Público Federal e já debateu o assunto com o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) e parlamentares.

A dona de casa Catarina da Silva Oliveira saiu do município de Viamão e foi até a capital gaúcha para se unir aos manifestantes. Ela está sem o medicamento Abacavir desde dezembro e tentou substituir por outro, mas não se adaptou. Agora ela espera para fazer exame e avaliar como está a a carga viral.

"Até então eu tinha feito tudo certo. Nunca tinha faltado (medicamento)", afirmou ela. Sem remédios, Catarina também está sem auxílio doença, mas garante que vai tentar reaver o benefício.

O Abacavir é um antirretroviral importado. Diante do atraso na entrega deste medicamento, o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais divulgou, em 14 de dezembro, uma nota técnica orientando a substituição por outros medicamentos. Na terça-feira, o medicamento, que vem da Índia, chegou ao País, mas ainda não começou a sua distribuição para os Estados.

Segundo Pinheiro, além do Rio Grande do Sul e de São Paulo, ocorreram manifestações no Rio de Janeiro, em Pernambuco, em Brasília, no Amazonas e no Maranhão nesta quarta-feira. Os Estados da Paraíba e do Ceará farão o "Tolerância Zero" em maio.

O Dia

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