Fórmula 1 se degrada com Grande Prêmio de Bahrein
O reino do Bahrein é um regime repressivo que prendeu e matou
cidadãos que fazem campanha pela reforma de sua monarquia. Nas aldeias
xiitas do Estado liderado pela minoria sunita, que foi sustentada no ano
passado pela intervenção das tropas sauditas, os protestos continuam
diariamente.
Na semana passada aldeias xiitas foram atacadas por defensores do
regime com facas e paus. Enquanto é verdade que a família governante do
país encomendou um relatório crítico sobre a violência no ano passado,
também é fato que apesar de prometer reformar o regime renegou a maioria
de suas promessas. E os que cometem abusos em seus serviços de
segurança ficaram de modo geral impunes.
Poderíamos pensar que, nessas circunstâncias, um importante esporte
internacional e os que o representam poderiam se sentir um pouco
incômodos em ser convidados a encenar um evento no Bahrein que já está
sendo usado pelo regime para apagar o que aconteceu na última primavera e
os abusos que continuam ocorrendo.
Mas o “esporte” de que falamos é a Fórmula 1, cujo órgão
administrativo, a FIA, anunciou na semana passada que é “segura” a
realização do Grande Prêmio do Bahrein no próximo domingo, apesar de o
do ano passado ter sido cancelado no meio de uma sangrenta repressão do
governo.
A realidade é que a Fórmula 1 não é realmente muito parecida com os outros esportes, ou, na verdade, com um esporte.
Em vez disso, o negócio, de propriedade da firma de capital de risco
CVC e dirigido por Bernie Ecclestone em seu nome, mais habitualmente
demonstra os piores aspectos da cultura corporativa global do que os
melhores ideais coríntios.
Consiste em um arranjo de “atletas” super-ricos — se é que podem ser
chamados assim –, patrocinadores e países hospedeiros cujo interesse é
mais pelo resultado final e o prestígio do que pela competição.
Não querendo incomodar a família real de Bahrein — que possui 40% da
equipe McLaren –, as manobras cínicas para justificar a realização do
Grande Prêmio do Bahrein tornaram-se cada vez mais desonestas.
Isso incluiu o emprego pelo Bahrein como consultor do ex-chefe da
Polícia Metropolitana de Londres, John Yates, que escreveu
obedientemente para o administrador da FIA, Jean Todt, dizendo que se
sentia “mais seguro” vivendo em Bahrein do que em Londres e atribuiu os
protestos a uma minoria “criminosa”.
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A realidade, no entanto, como a Anistia deixou claro alguns dias
atrás, é que “a crise de direitos humanos no Bahrein não terminou”. E
acrescentou: “Apesar das afirmações em contrário das autoridades, a
violência do Estado contra os que se opõem à família Al Khalifa
continua, e na prática não muita coisa mudou no país desde a brutal
repressão aos manifestantes contra o governo em fevereiro e março de
2011″.
Talvez seja demais esperar que Ecclestone, que enriqueceu enormemente
com a Fórmula 1, mostre uma espinha dorsal moral. Mas os pilotos,
patrocinadores e donos de equipes que participam devem considerar que
com isso estarão dando cobertura a um regime violento, que abusa dos
direitos humanos, e serão vistos por muitos habitantes locais e outros
como cúmplices desses abusos. Também podemos atuar não assistindo.
Porque o esporte — apesar dos protestos dos lobistas pagos pela Fórmula 1
— não é divorciado do mundo moral, e esse evento, e o comportamento
contumaz de Bahrein, exige nossa reprovação.
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