Claudio Antonio Guerra
A
revelação acima é do ex-delegado do Dops, Claudio Antonio Guerra, no
livro “Memórias de uma guerra suja” (Editora Topbooks, 2012). A leitura
das revelações do delegado Guerra impressionam pela crueza (sempre na
primeira pessoa) como são contadas as façanhas da chamada “tigrada”
(agentes da repressão, sejam os recrutados no meio militar, sejam os das
polícias civis dos estados e da PF).
Mais
revelações do delegado e matador Claudio Guerra, no livro e em parte
desta entrevista de 52 minutos, veiculada pela estação pública TV
Brasil, e conduzida (de forma vacilante) pelo jornalista Alberto Dines:
-
Governos dos Estados Unidos solicitavam ações clandestinas da repressão
brasileira. Exemplo: o delegado Guerra participou de uma ação
terrorista em Angola. Uma bomba colocada por um comando brasileiro, do
qual Guerra participou, matou inúmeros dirigentes angolanos do MPLA que
participavam de uma reunião no recinto de uma rádio em Maputo.
-
A participação e o financimento da repressão feita por grandes
empresários brasileiros, industriais, banqueiros, comerciantes,
fazendeiros.
-
A instituição de um aparato estatal de repressão montado a partir do
AI-5, em 1968. Como se protegiam os que praticavam os crimes políticos
bárbaros. O aparelhamento do Estado para a institucionalização de um
aparato de sombras e terror, acima da lei, sem controle do próprio
Estado, e, sobretudo, com a "garantia da mais absoluta impunidade".
"Isso que nos motivava" - confessa Guerra, no livro.
-
As motivações da bomba no Riocentro, em maio de 1981. Por que deu
errado o atentado terrorista organizado pela “tigrada”. A luta interna
entre os militares: os que queriam a "abertura, lenta, gradual e segura"
e os setores recalcitrantes da linha dura (como o general Geisel dizia,
os “bolsões sinceros, porém radicais”).
-
A simulação de um atentado a bomba organizado pelo dono das
Organizações Globo, Roberto Marinho, à sua própria residência no Cosme
Velho, Rio de Janeiro.
- A tentativa de assassinato de Leonel Brizola.
-
O assassinato do delegado Sérgio Paranhos Fleury, por decisão dos seus
próprios companheiros, motivado pela sua relativa autonomia, consumo
excessivo de álcool e cocaína, e por ter se exposto demais na sua ação
criminosa no comando do DOI-Codi e na Operação Bandeirantes.
- Os jornalistas e artistas (ainda vivos) que serviram a linha dura e as ações criminosas da “tigrada”.
- O assassinato do ex-dono da revista Manchete, Alexandre Von Baumgarten.
-
O uso de uma usina de açúcar e álcool para incinerar corpos de
militantes vítimas de torturas bárbaras, mutilações de corpos,
esquartejamento e sumiço de pessoas. Ele relata que viu o corpo da irmã
do jornalista Bernardo Kucinski - autor do livro “K” - e do seu marido
antes de ser jogado na fornalha da usina que fica em Campos, estado do
Rio.
Já
se vê que o ex-delegado Claudio Guerra tem muita história para contar à
Comissão da Verdade. Aliás, tanto no livro, quanto nesta entrevista,
ele afirma que está disposto a declinar o nome de seus antigos
companheiros da “irmandade” (como eles se chamavam entre si, durante a
repressão civil-militar de 64/85).
Será
que alguém ainda tem coragem de dizer que o ex-delegado Claudio Antonio
Guerra é um revanchista, por estar revelando a memória que muitos
querem borrar da história brasileira?
Nenhum comentário:
Postar um comentário