Relatório entregue na segunda-feira confirmou mortes por armas químicas.
Bombardeiros são diários na guerra síria, afirma chefe de direitos humanos.
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O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, chefe da comissão da ONU que investiga abusos aos direitos humanos na Síria,
diz que poderá descobrir a autoria do ataque com armas químicas em 21
de agosto em Goutha, na periferia de Damasco, mesmo sem autorização do
governo para que uma equipe sua entre no país.Segundo ele, as informações contidas no relatório divulgado pelas Nações Unidas na segunda-feira (16), que confirmou o uso de gás sarin, jogado em bombas e mísseis, podem ser usadas pela comissão caso o governo de Assad não autorize um novo grupo de investigadores.
O grupo que estava na Síria só tinha a missão de confirmar ou não o uso de armas químicas, sem apurar a culpa ou responsabilidade. Já a equipe do brasileiro é responsável por investigar crimes de guerra e violações de direitos humanos e não foi autorizada a atuar no país.
"O governo do Assad agiu de forma covarde e convidou uma integrante da nossa comissão para ir ao país, mas não aceitamos. Ou eles aceitam a equipe inteira ou quem indicarmos, ou não vai ninguém. De qualquer maneira, indo ou não indo, teremos que fazer um relatório e chegar a uma conclusão. O material coletado na Síria foi manuseado por laboratórios idôneos, temos fotos das bombas e entrevistas com sobreviventes, tudo será analisado para chegarmos a uma indicação (da autoria do ataque)", afirma ele.
O grupo de Pinheiro analisa, ao todo, 14 casos de suspeita de ataques químicos desde que começou o monitoramento no país, em setembro de 2011. O maior dele, provocado por sarin, deixou 1.429 mortes, segundo os Estados Unidos, em 21 de agosto, e provocou a reação da comunidade internacional, que ameaçou realizar um ataque.
No fim de semana, cedendo à pressão para evitar um possível ataque norte-americano, a Síria anunciou sua entrada na convenção que proíbe armas químicas. Após uma série de negociações em Genebra, EUA e Rússia fecharam um acordo para monitorar e destruir o arsenal sírio sem uma intervenção.
"Agora que a Síria aceitou integrar a convenção, esperamos que estejam mais abertos. Para eles, é melhor colaborar. Queremos ouvir a versão do governo sírio sobre o que aconteceu", explica Pinheiro. "O relatório foi divulgado há algumas horas. Eu nem o li ainda. É cedo para dizer que foi um ou outro lado que usou. É cedo para apontar culpados", afirma.
"O uso de arma química é um crime de guerra. Temos que investigar a fundo para que não se repita nunca mais", defende.
Bombardeios do governo
Para Paulo Sérgio Pinheiro, que foi professor e integra o Núcleo de Estudos da Violência, da Universidade de São Paulo (USP), os bombardeiros, que ocorrem diariamente em 12 das 14 regiões do país, e os outros tipos de abuso a direitos humanos, como invasões a hospitais, decapitações, desaparecimentos forçados, cercos a cidades, preocupam mais que o uso de armas químicas. O conflito já deixou mais de 100 mil mortos e 4 milhões de deslocados
"Os bombardeios são da Força Aérea do governo, que se armou muito nos últimos 20 anos. A Al-Qaeda não tem Força Aérea, assim como nenhum outro grupo extremista ou rebelde. E os bombardeios continuam todos os dias. Enquanto estamos falando está caindo uma bomba em algum local", diz.
Extremistas 'não caem de pára-quedas"
Outro fator que preocupa é a atuação de extremistas islâmicos recrutados em mais de 20 países da Ásia e Oriente Médio que estão combatendo junto aos rebeldes.
"Há interesses de grupos e de países em armar um lado ou outro do conflito. Há brigadas inteiras de militantes extremistas do exterior. Estes extremistas não respeitam regras internacionais de direitos humanos e não vão para lá de graça. Eles não caem na Síria de pára-quedas, precisam de recurso para armamento, alimentação", afirma.
Para o chefe da comissão de direitos humanos da ONU para a Síria, a única saída para o conflito seria iniciar um processo de negociação com um cessar-fogo.
"Pela guerra, não há chance deste conflito acabar. As Forças Armadas sírias estão recebendo armas nos últimos 20 anos, possuem uma Força Aérea potente, são treinadas, equipadas. Não adianta nada alguns países e grupos continuarem a fortalecer os rebeldes. Se o conflito continuar, a Síria será cada vez receptora de mais grupos extremistas", acredita.
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