4.02.2014

Cartilha polêmica na Educação

Grupo estuda processar secretaria estadual por considerar conteúdo homofóbico e machista

Francisco Edson Alves
Para Stela Caputo, do Grupo Ilé Oba Òyó: “Ilustrações debochadas”
Foto:  Reprodução
Rio - O Grupo de Pesquisa (religiosa) Ilé Oba Òyó, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) vai denunciar a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc) ao Ministério Público devido à distribuição de cerca de cem cartilhas que incentivam a homofobia, na avaliação do grupo. Intitulado ‘Keys to Bioethics’ (Chaves para a Bioética), o manual abriu a polêmica ao ser oferecido durante o 10º Fórum de Ensino Religioso (ER), realizado domingo, para professores do setor.
“O material foi disponibilizado em kits da secretraria. E no fórum foi informado que mais de 2 milhões de manuais estão disponíveis em igrejas católicas e podem ser retirados pelos interessados. São 80 páginas de puro conservadorismo, homofobia e machismo, com ilustrações perversas e debochadas”, diz a coordenadora do Grupo Ilé Oba Òyó, Stela Guedes Caputo, adiantando que seu grupo fará a denúncia ao MP na sexta-feira.
De acordo com Stela, a cartilha condena a adoção de crianças por casais homossexuais, métodos contraceptivos e o aborto, mesmo em casos de estupro. “Tudo baseado em supostos estudos científicos e na Bíblia. Vamos exigir que os manuais que já chegaram às escolas sejam recolhidos”, adiantou Stela, lembrando que o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe-RJ) aprovou moção de repúdio à cartilha.

Antônio Pinheiro, professor do Instituto de Educação Sarah Kubitschek, do Instituto de Educação Superior do Rio de Janeiro e ativista do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), também condena a cartilha: “Isso não cabe num processo pedagógico curricular, quando estamos justamente repensando continuamente modos de romper com a ‘invisibilidade’ de alunos e alunas. A formação de pensamento crítico e de cidadania e o respeito pelas particularidades de cada pessoa são deixados de lado”.
Em nota, a secretaria, que enalteceu o fórum em seu site, dizendo que o “encontro foi para oportunizar reflexões e diálogos sobre o tema da Campanha da Fraternidade 2014 ‘Fraternidade e Tráfico Humano’ (da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB), alegou que “o manual não foi produzido pela secretaria e nem reflete o pensamento da mesma”. A nota afirma ainda que o material foi distribuído por uma servidora, “que já foi repreendida pela atitude”. A secretaria não informou que reprimenda foi dada à servidora e nem se vai recolher ou não as cartilhas que por acaso tenham chegado a algumas escolas.
R$ 16 milhões para ensino religioso

A polêmica cartilha, produzida pela Pastoral Familiar do Brasil, com a Fondation Jérôme Lejeune e pela Jérôme Lejeune Catédra de Bioética, ligadas à Igreja Católica, traz textos controversos. Os que criticam a cartilha argumentam que o conteúdo vai causar constrangimentos a quem já enfrenta preconceitos por sua orientação sexual. A Seeduc gasta R$ 16 milhões por ano com a disciplina de ensino religioso, que tem mais de mil professores no estado. A maioria deles, católica.

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