Anvisa analisou suplementos proteicos após uma série de denúncias.
Produtos também usavam fontes de proteína diferentes da anunciada.
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Apesar
de ser destinado a atletas, suplementos proteicos são comumente usados
por quem frequenta academia e quer ganhar massa muscular. (Foto:
Reprodução/TV Globo)
Desde o fim de fevereiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) já suspendeu 23 lotes de suplementos proteicos por
irregularidades em sua composição (confira aqui, aqui e aqui
quais foram suspensos). A infração mais comum foi a presença de uma
quantidade maior de carboidrato do que o descrito no rótulo. A análise
de 26 marcas de suplemento faz parte de uma ação especial da Anvisa, que
tem recebido diversas denúncias sobre esse tipo de produto.
De acordo com a gerente de Inspeção e Controle de Risco de Alimentos da
Anvisa, Thalita Antony de Souza Lima, as denúncias aumentaram em julho
do ano passado, quando foram divulgados na internet laudos sobre a
composição desses produtos realizados por um laboratório particular.
“Para responder a essa demanda da sociedade e avaliar se as denúncias
eram procedentes, iniciamos um monitoramento e encaminhamos os produtos
para análise em um laboratório oficial”.
Voltado para atletas, o suplemento proteico é comumente consumido por
frequentadores de academia sem a orientação adequada de médico ou
nutricionista. De 26 marcas analisadas, 17 continham mais carboidrato do
que o descrito no rótulo, tendo a diferença atingido até 1003% em uma
das marcas, e seis continham menos proteína do que o anunciado, tendo a
diferença chegado a 79,5%.
“Essas irregularidades geram uma preocupação, já que são produtos muito
específicos, em que faz diferença se a gramatura anunciada de
carboidrato é 0 e ele contém 10 gramas. Trata-se de um engano muito
grave”, diz Thalita.
Suplementos geralmente são vendidos no formato
em pó para serem batidos com água, leite ou suco
(Foto: Reprodução/TV Globo)
em pó para serem batidos com água, leite ou suco
(Foto: Reprodução/TV Globo)
Os suplementos proteicos são destinados a atletas de alto rendimento
que, durante o treino, são submetidos a um grande desgaste físico e
correm o risco de, devido a esse desgaste, perderem parte da massa
muscular. A proteína, nesses casos, protege contra a perda dos músculos
ou possibilita o crescimento muscular.
“Esse indivíduo tem que ingerir uma quantidade de proteína acima do
comum e às vezes o que é ingerido nas três principais refeições do dia
não é suficiente para atender à demanda. O suplemento, usado como
complemento dos lanches ou da ceia, pode completar essa carga proteica”,
explica o médico nutrólogo Mohamad Barakat.
A prescrição do suplemento, segundo os especialistas, deve ser feita
exclusivamente por médicos ou nutricionistas especializados em
exercícios físicos e a quantidade do produto deve ser calculada de
acordo com o treino e o peso do atleta.
Para o médico do esporte Jomar Souza, uma diferença na quantidade de
proteínas e carboidratos pode interferir em toda a programação de
treinamento. “Se é um atleta que depende de uma massa muscular muito
grande para praticar sua modalidade e está usando uma quantidade mais
baixa de proteína, o desempenho físico fica prejudicado. Por outro lado,
se ele mantém o mesmo nível de atividade física e passa a ingerir uma
quantidade maior de carboidrato, ele pode ser metabolizado e
transformado em gordura, aumentando a massa de gordura do indivíduo.”
Outras irregularidades
As análises da Anvisa também revelaram a presença nos produtos de ingredientes não declarados nos rótulos, como amido, milho, fécula de mandioca (como fontes de carboidrato) e soja (como fonte de proteína). “A presença de soja é um fator de engano ao consumidor, pois o rótulo afirma que é whey protein [proteína retirada do soro do leite, bem mais cara do que a soja]. Além disso, para as pessoas alérgicas a soja, pode ser um risco”, alerta a gerente da Anvisa.
As análises da Anvisa também revelaram a presença nos produtos de ingredientes não declarados nos rótulos, como amido, milho, fécula de mandioca (como fontes de carboidrato) e soja (como fonte de proteína). “A presença de soja é um fator de engano ao consumidor, pois o rótulo afirma que é whey protein [proteína retirada do soro do leite, bem mais cara do que a soja]. Além disso, para as pessoas alérgicas a soja, pode ser um risco”, alerta a gerente da Anvisa.
Na opinião do médico nutrólogo Euclésio Bragança, diretor Técnico da
Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e
Alimentos para Fins Especiais (Brasnutri), o fato de a maioria dos
suplementos apresentarem maior quantidade de carboidrato do que o
declarado não é de grande relevância, já que isso não traria riscos para
a saúde do consumidor. “A preocupação da Anvisa deveria ser se o
produto tem o teor de proteína prometido. Os suplementos são destinados a
atletas, que são indivíduos saudáveis, sem doenças pré-existentes. Para
ele, não vai ser 1 ou 2 gramas a mais de carboidrato que vai fazer a
diferença”, diz.
Para ele, o que é preocupante são os produtos que vêm com menos
proteína do que o anunciado ou que apresentam fontes de proteína
diferentes das prometidas, como a presença da proteína de soja nos
suplementos de whey protein. Segundo Bragança, a soja também é uma boa fonte de proteína, porém seria desonesto vendê-la sob o rótulo de whey, por este ser mais caro.
Uso inadequado
Apesar do uso frequente desse tipo de suplemento entre frequentadores de academia, na opinião do fisiologista do esporte Paulo Roberto Correia, pesquisador da Unifesp, dificilmente alguém que não seja um atleta profissional teria indicação para usar suplementação de proteína. “Muitas pessoas que vão à academia julgam que treinam tanto quanto um atleta, o que é uma ilusão muito grande. A carga e o tempo de dedicação do atleta é muito maior”, diz.
Apesar do uso frequente desse tipo de suplemento entre frequentadores de academia, na opinião do fisiologista do esporte Paulo Roberto Correia, pesquisador da Unifesp, dificilmente alguém que não seja um atleta profissional teria indicação para usar suplementação de proteína. “Muitas pessoas que vão à academia julgam que treinam tanto quanto um atleta, o que é uma ilusão muito grande. A carga e o tempo de dedicação do atleta é muito maior”, diz.
Ele alerta para os riscos do consumo em excesso dos suplementos. Se, a
princípio, trata-se de um produto inofensivo, já que apenas concentra as
proteínas que já estão naturalmente presentes nos alimentos, o excesso
pode sobrecarregar os rins. “O rim sofre com o excesso de proteína, que
pode ocasionar inflamação nos ductos renais, cálculo renal e até
insuficiência renal.”
Segundo Correia, para não atletas, os nutrientes ingeridos em uma dieta
balanceada já seriam suficientes para suprir a demanda proteica. “Mesmo
os desportistas, que são os que mais necessitariam desse tipo de
suplementos, usam uma quantidade muito menor do que o pessoal costuma
usar nas academias”, diz.
A Anvisa também demonstra preocupação com esse tipo de consumo “No
entendimento da Anvisa, praticantes de academia não necessitariam de
suplementação. No caso de suplemento proteico, não se vê um risco, desde
que o uso seja feito sob prescrição de nutricionista ou médico. Mas o
consumo em excesso pode trazer problemas hepáticos, renais e ganho de
peso”, diz Thalita.
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