Internacional
Editorial do Observer
Enquanto os primeiros casais do mesmo sexo celebram sua união, saudamos a nova lei.
por The Observer
—
Carl Court / AFP
Na última sexta-feira 28, pela primeira vez
bandeiras de arco-íris, as cores da comunidade gay, tremularam sobre
dois edifícios do governo em Londres no que o vice-primeiro-ministro
Nick Clegg chamou de "um pequeno símbolo para comemorar uma enorme
conquista". Pouco depois da meia-noite, na prefeitura de Camden, em
Londres, Sean Adl-Tabatabai e Sinclair Treadway foram dos primeiros
casais homossexuais a ser pronunciados "marido e marido".
Independentemente das opiniões pessoais sobre a parafernália de flores de laranjeira e cerimônias, a Lei do Casamento (Casais do Mesmo Sexo) hoje em vigor na Inglaterra e em Gales – a Escócia deverá acompanhar no outono – marca uma mudança notável e incrivelmente rápida nas atitudes sociais sobre a questão da igualdade. Pesquisas mostram que dois terços das pessoas apoiam as uniões homossexuais. ["Homossexual" se refere à relação entre duas pessoas do mesmo sexo, não apenas entre dois homens.] Mas pouco mais de uma década atrás a Inglaterra ainda tinha uma lei que proibia a "promoção" da homossexualidade. "O que me surpreendeu é que grande parte da Grã-Bretanha rapidamente avançou para nos apoiar nisto", disse o ex-deputado conservador Matthew Parris à tevê Sky News.
Adl-Tabatabai disse a um repórter que a aprovação das parcerias civis em 2005 havia ajudado a superar a oposição ao casamento gay. "As percepções dos gays e de seus estilos de vida estão mudando", disse ele. "Eles estão dizendo, 'Ok, detesto dizer isso, mas talvez vocês sejam iguais a nós'." Essa profunda mudança de atitude é especialmente personificada no primeiro-ministro David Cameron, que a custo apoiou seu próprio partido. Em um texto no PinkNews, ele disse adequadamente que este é "um momento importante para nosso país", ao manter suas "orgulhosas tradições de respeito, tolerância e igualdade de valor". E acrescentou: "Colocado simplesmente, na Grã-Bretanha não importará mais se você é hétero ou gay – o Estado reconhecerá seu relacionamento como igual".
Mas em 2000 David Cameron, que ainda não havia entrado na Câmara dos Comuns, atacou diversas vezes os planos do governo trabalhista para rejeitar a Seção 28 do Ato de Governo Local 1988. Entre suas medidas, ele proibia "o ensino... da aceitabilidade da homossexualidade como pretenso relacionamento familiar". Cameron acusou o então primeiro-ministro, Tony Blair, de ser "antifamília". Nove anos depois, como líder do Partido Conservador e um aplicado modernizador, Cameron pediu desculpas pela aprovação da lei por seu partido e disse que tinha sido ofensiva aos gays.
Enquanto Cameron mudou de ideia, outros não. A oposição vem de algumas lésbicas feministas que não pretendem aderir a uma instituição que a seus olhos permanece patriarcal. Outros membros das comunidades lésbica, gay, bissexual e transgênero (LBGT) dizem que o casamento entre o mesmo sexo é uma ameaça. Eles não pretendem ser assimilados pela sociedade heterossexual por meio de uma aliança, eliminando o direito a ser diferente. O romance autobiográfico de Edward White, The Beautiful Room is Empty [O lindo quarto está vazio], passado nos anos 1950 e 60, descreve uma época em que a homofobia era apoiada por leis que criminalizavam a homossexualidade, considerando-a uma doença e uma neurose. White descreve como os autoidentificados transgressores na sociedade, boêmios, radicais de esquerda e gays enrustidos se consideravam marginais, politicamente opostos a uma sociedade que desprezavam. Essa oposição é saudável em uma democracia.
De maneira inevitável, também na campanha do casamento antigay há tradicionalistas a favor do casamento "natural". Eles afirmam, juntamente com a Igreja Católica e a Igreja Anglicana, que a Bíblia se refere ao casamento como a união entre homem e mulher para fins de procriação. Os religiosos da Igreja da Inglaterra são proibidos de se casar com parceiros do mesmo sexo. A fé e a igualdade ainda não coabitam com sucesso na igreja estabelecida.
Na última sexta-feira, o bispo de Buckingham, Alan Wilson, criticou seus superiores por hipocrisia. "Há bispos gays com parceiros que dizem a outros religiosos gays com parceiros que não devem se casar", disse ele. Colin Coward, do grupo de pressão liberal na igreja Mudando de Atitude, é otimista sobre o movimento. "Já estou recebendo perguntas de pessoas que querem saber se podem se casar em sua igreja local... A Igreja Anglicana será obrigada a enfrentar essa realidade."
O período de uma geração ilustra quão rapidamente essa "realidade" foi reconfigurada. O professor Jeffrey Weeks, autor de The World We Have Won [O mundo que ganhamos], é um sociólogo, ativista gay e historiador de nossas mudanças de atitude em relação à sexualidade. Hoje com 68 anos e membro de uma parceria civil, ele acredita que a velocidade surpreendente com que o casamento entre o mesmo sexo foi alcançado, com o apoio de todos os partidos, se deve a uma série de acontecimentos que remontam aos anos 1960 e à ascensão da militância gay. Estes incluem a luta de casais de lésbicas para manter seus filhos depois do divórcio, quando juízes se inclinavam a dar a custódia a ex-maridos que supostamente não eram manchados pelo desvio; a batalha para que casais gays possam adotar e a falta de direitos que muitos homens e mulheres gays, no início dos anos 80, enfrentaram quando seus parceiros morreram.
Elton John, o marido David Furnish e seus dois filhos parecem a um século do furor em 1983 que recebeu o livro infantil Jenny Lives With Eric and Martin [Jenny mora com Eric e Martin]. Assumir-se, diz o professor Weeks, passou de ser algo extraordinário a comum; todo mundo conhece alguém que é gay. O que também provocou a mudança é a profunda alteração do que é definido como conformidade na sociedade heterossexual. Os laços de compromisso se afrouxaram e as algemas da respeitabilidade foram retiradas.
Estatísticas publicadas na semana passada pelo Departamento Nacional de Estatísticas nos dizem que o matrimônio há muito tempo está perdendo o interesse entre heterossexuais. No entanto, para a comunidade gay, como afirmou o ativista Peter Tatchell, o casamento é um direito humano; ele permite que os gays publicamente assumam os direitos e as responsabilidades que contribuem para a sociedade civil. Isso não significa que o preconceito foi superado. Indivíduos em algumas partes do Reino Unido e em comunidades religiosas rígidas, assim como os que sofrem nova perseguição na Rússia, na África e em outros lugares, continuam enfrentando medo, discriminação e violência.
Na Grã-Bretanha, porém, a inclusão é o modelo com que a sociedade trabalha. Como observou Cameron na sexta-feira, o casamento – um compromisso de qualquer tipo – dá trabalho. "Exige paciência e compreensão", disse ele. "Dar e receber – mas o que ele retribui em termos de amor, apoio, estabilidade e felicidade é incomensurável." É por isso que, para todos os que estão se casando e esperando ser felizes para sempre, está certo oferecer nossos cumprimentos e lhes desejar uma vida em comum com muita alegria.
Leia mais em Guardian.co.uk
Independentemente das opiniões pessoais sobre a parafernália de flores de laranjeira e cerimônias, a Lei do Casamento (Casais do Mesmo Sexo) hoje em vigor na Inglaterra e em Gales – a Escócia deverá acompanhar no outono – marca uma mudança notável e incrivelmente rápida nas atitudes sociais sobre a questão da igualdade. Pesquisas mostram que dois terços das pessoas apoiam as uniões homossexuais. ["Homossexual" se refere à relação entre duas pessoas do mesmo sexo, não apenas entre dois homens.] Mas pouco mais de uma década atrás a Inglaterra ainda tinha uma lei que proibia a "promoção" da homossexualidade. "O que me surpreendeu é que grande parte da Grã-Bretanha rapidamente avançou para nos apoiar nisto", disse o ex-deputado conservador Matthew Parris à tevê Sky News.
Adl-Tabatabai disse a um repórter que a aprovação das parcerias civis em 2005 havia ajudado a superar a oposição ao casamento gay. "As percepções dos gays e de seus estilos de vida estão mudando", disse ele. "Eles estão dizendo, 'Ok, detesto dizer isso, mas talvez vocês sejam iguais a nós'." Essa profunda mudança de atitude é especialmente personificada no primeiro-ministro David Cameron, que a custo apoiou seu próprio partido. Em um texto no PinkNews, ele disse adequadamente que este é "um momento importante para nosso país", ao manter suas "orgulhosas tradições de respeito, tolerância e igualdade de valor". E acrescentou: "Colocado simplesmente, na Grã-Bretanha não importará mais se você é hétero ou gay – o Estado reconhecerá seu relacionamento como igual".
Mas em 2000 David Cameron, que ainda não havia entrado na Câmara dos Comuns, atacou diversas vezes os planos do governo trabalhista para rejeitar a Seção 28 do Ato de Governo Local 1988. Entre suas medidas, ele proibia "o ensino... da aceitabilidade da homossexualidade como pretenso relacionamento familiar". Cameron acusou o então primeiro-ministro, Tony Blair, de ser "antifamília". Nove anos depois, como líder do Partido Conservador e um aplicado modernizador, Cameron pediu desculpas pela aprovação da lei por seu partido e disse que tinha sido ofensiva aos gays.
Enquanto Cameron mudou de ideia, outros não. A oposição vem de algumas lésbicas feministas que não pretendem aderir a uma instituição que a seus olhos permanece patriarcal. Outros membros das comunidades lésbica, gay, bissexual e transgênero (LBGT) dizem que o casamento entre o mesmo sexo é uma ameaça. Eles não pretendem ser assimilados pela sociedade heterossexual por meio de uma aliança, eliminando o direito a ser diferente. O romance autobiográfico de Edward White, The Beautiful Room is Empty [O lindo quarto está vazio], passado nos anos 1950 e 60, descreve uma época em que a homofobia era apoiada por leis que criminalizavam a homossexualidade, considerando-a uma doença e uma neurose. White descreve como os autoidentificados transgressores na sociedade, boêmios, radicais de esquerda e gays enrustidos se consideravam marginais, politicamente opostos a uma sociedade que desprezavam. Essa oposição é saudável em uma democracia.
De maneira inevitável, também na campanha do casamento antigay há tradicionalistas a favor do casamento "natural". Eles afirmam, juntamente com a Igreja Católica e a Igreja Anglicana, que a Bíblia se refere ao casamento como a união entre homem e mulher para fins de procriação. Os religiosos da Igreja da Inglaterra são proibidos de se casar com parceiros do mesmo sexo. A fé e a igualdade ainda não coabitam com sucesso na igreja estabelecida.
Na última sexta-feira, o bispo de Buckingham, Alan Wilson, criticou seus superiores por hipocrisia. "Há bispos gays com parceiros que dizem a outros religiosos gays com parceiros que não devem se casar", disse ele. Colin Coward, do grupo de pressão liberal na igreja Mudando de Atitude, é otimista sobre o movimento. "Já estou recebendo perguntas de pessoas que querem saber se podem se casar em sua igreja local... A Igreja Anglicana será obrigada a enfrentar essa realidade."
O período de uma geração ilustra quão rapidamente essa "realidade" foi reconfigurada. O professor Jeffrey Weeks, autor de The World We Have Won [O mundo que ganhamos], é um sociólogo, ativista gay e historiador de nossas mudanças de atitude em relação à sexualidade. Hoje com 68 anos e membro de uma parceria civil, ele acredita que a velocidade surpreendente com que o casamento entre o mesmo sexo foi alcançado, com o apoio de todos os partidos, se deve a uma série de acontecimentos que remontam aos anos 1960 e à ascensão da militância gay. Estes incluem a luta de casais de lésbicas para manter seus filhos depois do divórcio, quando juízes se inclinavam a dar a custódia a ex-maridos que supostamente não eram manchados pelo desvio; a batalha para que casais gays possam adotar e a falta de direitos que muitos homens e mulheres gays, no início dos anos 80, enfrentaram quando seus parceiros morreram.
Elton John, o marido David Furnish e seus dois filhos parecem a um século do furor em 1983 que recebeu o livro infantil Jenny Lives With Eric and Martin [Jenny mora com Eric e Martin]. Assumir-se, diz o professor Weeks, passou de ser algo extraordinário a comum; todo mundo conhece alguém que é gay. O que também provocou a mudança é a profunda alteração do que é definido como conformidade na sociedade heterossexual. Os laços de compromisso se afrouxaram e as algemas da respeitabilidade foram retiradas.
Estatísticas publicadas na semana passada pelo Departamento Nacional de Estatísticas nos dizem que o matrimônio há muito tempo está perdendo o interesse entre heterossexuais. No entanto, para a comunidade gay, como afirmou o ativista Peter Tatchell, o casamento é um direito humano; ele permite que os gays publicamente assumam os direitos e as responsabilidades que contribuem para a sociedade civil. Isso não significa que o preconceito foi superado. Indivíduos em algumas partes do Reino Unido e em comunidades religiosas rígidas, assim como os que sofrem nova perseguição na Rússia, na África e em outros lugares, continuam enfrentando medo, discriminação e violência.
Na Grã-Bretanha, porém, a inclusão é o modelo com que a sociedade trabalha. Como observou Cameron na sexta-feira, o casamento – um compromisso de qualquer tipo – dá trabalho. "Exige paciência e compreensão", disse ele. "Dar e receber – mas o que ele retribui em termos de amor, apoio, estabilidade e felicidade é incomensurável." É por isso que, para todos os que estão se casando e esperando ser felizes para sempre, está certo oferecer nossos cumprimentos e lhes desejar uma vida em comum com muita alegria.
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