5.14.2014

RECUPERAÇÃO DE ACIDENTADOS

O grande desafio:
reparar autoestradas axonais para tratar lesões

Incapacidade de regenerar axónios tem sido o principal impedimento
à recuperação de muitos acidentados


Imagem neurónios em microscopia de fluorescência para identificação de axónios lesionados. A vermelho estão marcadas as mitocondrias. Com esta técnica, os neurónios que interessam para o estudo, lesionados, são identificados com uma marcação  a verde
Imagem neurónios em microscopia de fluorescência para identificação de axónios lesionados. A vermelho estão marcadas as mitocondrias. Com esta técnica, os neurónios que interessam para o estudo, lesionados, são identificados com uma marcação a verde
Um estudo publicado por uma equipa do IBMC, liderada por Mónica de Sousa, na revista The Journal of Neuroscience identifica o transporte de componentes celulares dentro dos neurónios como o alvo principal na regeneração de lesões no sistema nervoso. O trabalho traz à luz novos caminhos para resolver um dos grandes desafios biomédicos: a razão pela qual os neurónios da espinal medula, ao contrário dos do sistema nervoso periférico, são incapazes de regenerar os axónios e ligações perdidas durante uma lesão. A maioria dos neurónios do sistema nervoso central é incapaz de regenerar os finíssimos prolongamentos, chamados axónios, que os ligam a outros neurónios. O caso mais particular é o dos axónios mais longos, que se prolongam desde o cérebro, atravessando a espinal medula, até a zonas longínquas do corpo, em extensões de cerca de um metro.

Estes axónios são essenciais para que a informação rapidamente percorra o caminho entre o nosso corpo e o cérebro e vice-versa. As lesões na espinal medula, em consequência de traumatismos, resultam na maioria das vezes na perda de sensibilidade e na perda de capacidades motoras, simplesmente porque os axónios foram cortados.

A incapacidade de regenerar esses axónios tem sido uma das frustrações da biomedicina e o principal impedimento à recuperação de muitos acidentados.

Por isso, os olhos dos investigadores viraram-se para certos neurónios que têm uma dupla posição: têm axónios fora do sistema nervoso central e axónios dentro. Esta dupla posição confere-lhes uma plasticidade interessante, pois recuperam de lesões primárias que sofram na parte periférica mas não das da parte central.


Mónica de Sousa liderou o estudo
Mónica de Sousa liderou o estudo
Porém, se sofrerem lesões múltiplas e sequenciais, mostram ter uma capacidade aumentada de regenerar o ramo central. De facto, se tiverem sofrido uma lesão prévia no seu ramo periférico, o ramo central do neurónio também ganha capacidade de regenerar.

Desde esta observação, desdobram-se as buscas para perceber o que se altera no neurónio aquando de uma lesão periférica que lhe permite recuperar uma capacidade que parece perdida no sistema nervoso central.

O estudo publicado pela equipa do IBMC mostra que, quando a lesão periférica ocorre, há um aumento global do transporte axonal, nomeadamente de proteínas, organelos e vesículas. Este fenómeno não fica restrito ao axónio periférico lesionado, estendendo-se ao axónio central. Se este último, o axónio central, “sofrer uma lesão subsequente, uma lesão da medula espinal, toda a maquinaria necessária a montar a regeneração axonal já estará presente e funcional”, explica Fernando Mar, primeiro autor do trabalho.

Segundo Mónica Sousa, o maior contributo deste trabalho é “identificar o transporte axonal como um alvo importante da investigação em regeneração axonal”, adiantando que “poderá ser o futuro no desenvolvimento de terapias com o fim de aumentar a regeneração axonal no sistema nervoso central adulto”.


Fonte: Neurociência

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