5.13.2014

Falta um mes para a copa no Brasil

Tropas de elite da Polícia Militar do Rio intensificam preparo para Copa

  • Só o quartel do Bope recebeu mais de 12 mil policiais desde 2008 para treinamento de atuação no evento
Elenilce Bottari 
Novo Batalhão de Grandes Eventos, que funciona junto ao Batalhão de Choque, conta com 600 homens Foto: Daniela Hallack Dacorso / Agência O Globo
Novo Batalhão de Grandes Eventos, que funciona junto ao Batalhão de Choque, conta com 600 homens Daniela Hallack Dacorso / Agência O Globo
RIO — Segunda-feira, 8h. Começa mais um dia de treinamentos nos quartéis do Bope e do Choque, no Rio de Janeiro, com vistas para Copa do Mundo. Nos últimos quatro anos, só a sede de Laranjeiras da tropa de elite do Rio recebeu mais 12 mil policiais que estão sendo treinados para atuar nos dias do mundial, em atividades como policiamento preventivo dentro e fora do estádio, patrulhamento de ruas, controle de distúrbios urbanos em multidões, resgate de reféns, atendimento e evacuação em grandes acidentes e até antiterrorismo.
Nesta segunda-feira, enquanto uma nova turma com 70 policiais iniciava curso para tropa, atiradores de elite da Polícia Federal e da Polícia de Brasília participavam de uma palestra sobre estudo de casos. Entre os exemplos abordados, o resgate da estudante Raphaella Lobo Barbosa de Jezus, de 17 anos, mantida refém por cerca de três horas, durante o sequestro de um ônibus na Avenida Brasil, em Guadalupe, no fim da tarde de sábado:
— O Bope passou por uma profunda restrutuação com a criação de núcleos de comunicação, projetos de logística e resgate e pronto socorrismo. Também a partir de 2008 iniciamos processos de aquisição de equipamentos que recebemos agora, entre eles, o Carro de Comando e Controle, os caminhões de transporte tático, de transporte de carga, coletes, metralhadoras, fuzis, lunetas. A partir da experiência com as manifestações que tomaram conta do Rio desde junho do ano passado, também introduzimos o treinamento de lutas marciais, para o enfrentamento de distúrbios civis urbanos — explicou o major Marcelo Corbage.
Segundo ele, outra matéria que passou a fazer parte do treinamento dos policiais é o da abordagem e legislação, com o aprendizado do uso gradual da força.
— Utilizamos lutas como greco-romana e jiu-jitsu para melhorar o condicionamento físico dos nossos policiais e também para que eles aprendam a raciocinar sobre pressão. No jiu-jitsu, a pressão é física, mas a atividade serve para aliviar o stress e ajudar o policial a manter o controle em momentos de grande tensão — explica o orientador e campeão brasileiro de jiu-jitsu, aspirante Paulo Araújo.
Nesta segunda-feira, também teve início, no pátio da Guarda Municipal, o curso FBI Controle de Distúrbios Civis, desenvolvido pelo FBI em parceria com o Departamento de Polícia de Los Angeles e o Departamento de Polícia de Chicago com o objetivo de fornecer uma visão geral sobre a doutrina de Força Tática Móvel e o Controle de Distúrbios Civis para o Brasil. O curso abordará as diferenças entre a gestão e o controle de multidões, distúrbios civis, estratégias de gestão, planejamento operacional, uso da força, tomada de decisões, relação com a mídia, e o uso da inteligência e de informações que possam auxiliar na identificação de possíveis atos/atores de vandalismo. Haverá ainda exercícios práticos e debates sobre os temas abordados.
Embora o Brasil não tenha cultura de ações terroristas, os policiais vêm recebendo também orientações para trabalhar de forma integrada com as forças federais em suspeitas de atentados:
— No combate ao terrorismo, além das forças policiais, é muito importante a participação da população. Por isto, também vamos realizar palestras para funcionários de hotéis e outros setores onde possa haver aglomerações. — orienta o capitão Novo, que fez cursos em Israel e Colômbia.
Para auxiliar a população, a Secretaria de Segurança também está lançando o Guia de Segurança Pública Rio de Janeiro Grandes Eventos (clique para consultá-lo), em três idiomas com orientações aos turistas e moradores e contatos de diversos órgãos de segurança.
— A ideia é que o guia permaneça, porque é uma excelente ferramenta para a população —explicou o coordenador de Grandes Eventos da Seseg, delegado Roberto Alzir.
Segundo ele, a experiência vivida durante a Copa das Confederações permitiu o ajuste de procedimentos e melhoria da segurança para a Copa:
— O fato de a gente ter passado pela Copa das Confederações, que foi considerada um sucesso, serviu para aprimorar imperfeições. Haverá reforço de infraestrutura, o Centro Integrado de Comando e Controle estará operando com mais ferramentas e vai atingir um patamar muito maior agora e ainda mais elevado para as Olimpíadas, com ajustes necessários — afirmou Alzir.
A maior preocupação das autoridades está na mobilidade urbana, mas Alzir crê que, até o início dos jogos, o problema esteja equacionado:
— Confiamos no staff da Prefeitura, que está empenhado em um plano de mobilidade bastante consistente para a Copa, com medidas de contingência para eventurais problemas.
O novo Batalhão de Grandes Eventos, que funciona junto ao Batalhão de Choque, conta com 600 homens que também vêm recebendo treinamento em lutas. Mas ali, o princípio é outro:
— O objetivo da Polícia Militar nas manifestações é garantir o direito das pessoas de se manifestarem sem, no entanto, impedir o direito de ir e vir do restante da população ou depredações de patrimônio público ou privado. Então, no caso de manifestantes violentos, como ocorreu no ano passado, o objetivo é a imobilização. Não queremos um policial responda a provocação, mas se necessário, ele estará pronto para imobilizar e prender o oponente — explicou o comandante do BPGE, coronel Wagner Villares.
Com uma estrutura diária que compreende 40 quarteis operacionais, 137 viaturas de incêndio e salvamento, 60 ambulâncias, 12 embarcações, dois helicopteros, 819 bombeiros de serviço e 183 guardas-vidas, o Corpo de Bombeiros será ampliado durante os dias de jogos:
— Durante a Copa teremos mais 10 grupamentos táticos avançados, aumentando para 50 o número de unidades operacionais. Esses grupamentos estarão situados nas rotas protocolares, próximo ao Maracanã, no Centro de Midia, nas áreas de Fanfest. Também aumentaremos a tropa para 1200 homens por dia e 273 guardas-vidas — explicou o superintendente de Grandes Eventos da Secretaria de Estado de Defesa Civil, coronel-bombeiro Wanius de Amorim.
A superintendência ajudou no treinamento no estádio do Maracanã, dos 1500 voluntários que vão trabalhar na Copa. Em convênio com o governo federal, o Corpo de Bombeiros do Rio também treinou nos últimos dois anos 500 militares bombeiros em todo o país em especializações de incêncios especiais, atendimento a montanhistas, salvamento e resgate de turístas e curso específico de salvamento em estádios.
— O Rio é o único estado da federação com Superintendência Extraordinária para Grandes Eventos. Fazemos a interface de planejamento com as diversas agências. Nunca trabalhamos com tanta integração. Aliás, acredito que o sucesso da segurança durante a Copa será devido à integração de todos os órgãos de segurança em todas as esferas. Foi através desse trabalho em conjunto que elaboramos os quatro planos de contingência para o enfrentamento de qualquer crise — explicou o comandante.
Entre os planos que deverão ser divulgados até o fim do mês para a população estão, o plano de contingência de distúrbios civis, o plano de contingência QBRNE (químico, biológico, radiológico, nuclear e explosivos), o plano de contingência de eventos com múltiplas vítimas e um plano específico de evacuação do Maracanã.
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