5.13.2014

Vinho tinto e chocolate... nem tão bons assim

  • Estudo questiona os benefícios do resveratrol, apontado por várias pesquisas como redutor do risco de câncer, doenças cardiovasculares e associada à longevidade
Flávia Milhorance 


Videiras para produção de vinho em Chianti, na Itália
Foto: Antonella Kann/08-02-2007


Videiras para produção de vinho em Chianti, na Itália Antonella Kann/08-02-2007
Os benefícios do vinho e do chocolate parecem estar com os dias contados. Muitos já devem ter ouvido falar sobre o resveratrol, uma substância presente em ambos e que, segundo vários estudos, é capaz de reduzir o colesterol ruim (LDL), o risco de doenças cardiovasculares, de câncer, além de estar associado à longevidade. Acontece que uma nova pesquisa publicada na revista científica “JAMA Internal Medicine” joga um banho de água fria no bon vivant que usava o argumento para abusar desses prazeres. Ele aponta que, ao contrário do que pregam, a substância não traz tais vantagens para a saúde humana.
- A história do resveratrol é mais um caso de grande comoção sobre benefícios para saúde que não resistem ao teste do tempo - criticou o autor do estudo, Richard Semba, professor da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos EUA. - Muitos cientistas pensavam que como o resveratrol conferia benefícios em alguns estudos com animais e células, isto poderia ser generalizado para humanos. Entretanto, os dados dos testes clínicos com resveratrol se mostraram inconclusivos.
Segundo o professor, trata-se do primeiro estudo a mostrar que os níveis de resveratrol, que refletem o consumo natural de vinho tinto, chocolate e outros alimentos, não garantem proteção contra doenças do coração e câncer, além de não estarem associados com o aumento da expectativa de vida entre adultos.
O pesquisador faz parte de uma equipe internacional que por 15 anos estudou os efeitos do envelhecimento num grupo de pessoas que vive na região de Chianti, na Itália. Para o estudo, eles analisaram amostras de urina a cada 24 horas de metabólitos de resveratrol em 783 pessoas com mais de 65 anos. Os resultados mostraram que aqueles com maiores níveis de resveratrol não tinham menos chances do que os demais com os benefícios para a saúde.
Foram acompanhados homens e mulheres entre 1998 e 2009, e neste período, 268 participantes (34%) morreram, 174 (27%) desenvolveram doenças cardiovasculares e 34 (4%) foram diagnosticados com câncer.
Chianti está localizada na Toscana, onde a dieta mediterrânea é parte da cultura local e é tida por cientistas como associada à longevidade. Lá, explica o estudo, não é comum o consumo de suplementos, mas sim o de vinho tinto. Os participantes não faziam uma dieta específica. Mas Richard Semba ainda dá uma esperança:
- Os benefícios, se é que existem, podem vir de outros polifenóis ou substâncias encontradas nestes alimentos. Eles são alimentos complexos, e o que sabemos do nosso estudo é que provavelmente esses efeitos positivos não vêm do resveratrol.
Chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, Mauro Celso Zanus coloca em dúvida estes resultados do estudo americano:
- Fiquei surpreso, pois temos muitas evidências da bioatividade do resveratrol favoráveis à saúde. O estudo é interessante, pois ele coloca a dúvida, mas também está longe de ser um divisor de águas - comentou Zanus.
- Há algumas questões: é um estudo epidemiológico, ou seja, trabalham diretamente com o ser humano, o que é bastante questionado na classe médica, porque pode trazer surpresas como esta, não controlam adversidades. Além disso, o Chianti é um vinho mais leve, não é rico em antioxidante ou resveratrol -
1

Nenhum comentário: