6.30.2011

A difícil grama do vizinho

Márcia Cabrita
atriz e autora do blog "Força na Peruca", no qual conta de forma bem-humorada sua luta contra o câncer de ovário

A inveja só faz mal a quem sente. Acho muito estranho quem diz que tem medo dos invejosos, coitados, nada farão!


A inveja é uma merda. Belo ditado. Dos pecados capitais, é o mais inaceitável. A luxúria e a vaidade estão na moda, a preguiça e a ira qualquer um pode sentir de vez em quando na intimidade do lar, a gula é simpática diante de uma novidade gastronômica, a avareza pode ser confundida com economia para um futuro tranquilo, mas a inveja... Só os muito maus podem sentir!

A inveja só faz mal a quem sente. Acho muito estranho quem diz que tem medo dos invejosos, coitados, nada farão! Se praga de invejoso desse certo, pobre Madonna, não daria um passo! Aliás ela deve ter se mordido com o vestido de carne da Lady Gaga! Das confessáveis, eu tenho inveja de quem levanta a perna alto. Sempre tive. Saí do balé por causa disso, cheguei à conclusão que passaria a vida toda sofrendo no alongamento em vão. Tenho inveja também de bunda grande, torço sempre que venha acompanhada de muita celulite para amenizar um pouco a minha desgraça. E de quem lê Nietzsche por prazer e com perfeita compreensão? Aí é inveja da mais pura com requintes de crueldade. Na adolescência, em plena discoteca (sim, eu sou do tempo do Village People), “o” gato mais lindo da matinê chama sua amiga para dançar, você fica mascando um chiclete velho, mas muito boa que é pensa: “Tomara que eles se casem e tenham um par de gêmeos fofos”. E eu muito má que sou, pensaria:
“Por que ele não descobre que a beleza dela é artificial? A linda, inteligente e a maravilhosa futura mamãe sou eu?”
-Vamos, gatinha, tá tocando Stevie Wonder!..
A inveja é tão ruim que temos a tendência de negá-la. Bobagem, qualquer recém-formado em psicologia sabe que esse é um sentimento inerente ao ser humano. O problema é o que fazer com ela. Penso que admiti-la já é um bom começo... para esquecê-la.

***
Eu me divirto lendo entrevistas em revistas de celebridades. Comemora-se uma paixão na ilha, depois sofre-se a perda num castelo vestida de dama da corte. Além de rugas não mais existirem, temos também uma espécie de photoshop cerebral. Os artistas estão sempre “procurando um novo amor, mas sem pressa”, “malhando muito pela saúde, beleza é consequência”, ou “apesar da idade, sinto-me melhor que nunca”, “nos separamos, mas continuamos amigos”. E quando tem que responder qual seu maior “defeito”? É incrível, ninguém tem defeito! Os melhores são: “ser perfeccionista demais”, “acreditar muito nas pessoas”, “trabalhar demais”. O mundo foi invadido por Gandhis generosos e muito bons!

Mas pensando bem será que a realidade venderia revista? Além das estrias, rugas e banhas, as bombásticas declarações seriam: “Estou procurando um novo amor, não aguento mais ficar sem homem”, “Sempre malhando muito, não posso engordar, tenho medo de perder o papel, tem um cigarrinho?”, “Tô velha, mas é melhor que morrer, não é mesmo?”, “Nos separamos e eu quero que ele vá para o quinto dos infernos, ele e aquela cachorra!”.
É, não daria certo, encalhe na banca.
Nossa, como eu sou má, será que é inveja?
Isto é 

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