Cresce procura por fertilização in vitro no Brasil
Por Márcia Correia
Cada vez mais cresce no Brasil o número de mulheres que procuram a fertilização in vitro. Nesse método, a fecundação do óvulo pelo espermatozóide ocorre fora do corpo. Os embriões resultantes da fertilização in vitro são transferidos para o útero aproximadamente 72 horas após a captação de óvulos.
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Cada vez mais cresce no Brasil o número de mulheres que procuram a fertilização in vitro. Nesse método, a fecundação do óvulo pelo espermatozóide ocorre fora do corpo. Os embriões resultantes da fertilização in vitro são transferidos para o útero aproximadamente 72 horas após a captação de óvulos.
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O nascimento de Louise Brown em 1978 (Steptoe & Edwards, 1978), a primeira criança concebida após fertilização in vitro e transferência de embrião, marcou o início de uma era de extraordinário progresso no entendimento e tratamento dos problemas relacionados à fertilidade humana.
Originalmente a fertilização in vitro seguida
de transferência de embriões (FIV-TE) foi proposta para o tratamento dos
casos de infertilidade tubária, ou seja, para aquelas pacientes em que
as trompas estavam ausentes ou irreparavelmente obstruídas. O
aprimoramento das técnicas de FIV ampliou as suas indicações e permitiu o
seu uso para o tratamento da infertilidade de outras etiologias.
A fertilização in vitro, muitas vezes
denominada "Bebê de Proveta", deve-se ao fato da fecundação do óvulo
pelo espermatozóide ocorrer fora do corpo, em laboratório, ou seja, in
vitro. Os embriões resultantes da fertilização in vitro são transferidos
para o útero aproximadamente 72 horas após a captação de óvulos.
Fig.01 - coleta de óvulos, inseminação in vitro, embriões, transferência para o útero materno. |
Etapas da fertilização in vitro e transferência de embriões
Resumidamente estas são as etapas envolvidas na FIV-TE:
Indução da ovulação, para estimular amadurecimento de vários óvulos. | |
Monitorização do crescimento folicular com ecografia transvaginal. | |
Coleta de óvulos por ecografia transvaginal (mediante analgesia, tempo médio 5 - 15 minutos). | |
Coleta do sêmen e capacitação espermática, no mesmo dia da coleta dos óvulos. | |
Inseminação in vitro: identificação e classificação dos óvulos com posterior inseminação com o sêmen capacitado. | |
Transferência de embriões para o útero materno, geralmente 3 dias após a fertilização. | |
Suporte da fase lútea. | |
Diagnóstico de gestação. |
Indicações para FIV
Obstrução tubária bilateral é a indicação clássica para FIV. Atualmente:
Infertilidade devido a fator masculino, onde se consegue recuperar aproximadamente | |
1 milhão de espermatozóides após o preparo. | |
Infertilidade sem causa aparente. | |
Todas as causas de infertilidade que não responderam a outros tipos de tratamento podem ser tratados pela fertilização in vitro e transferência de embriões. |
Indução da ovulação
A indução da ovulação para FIV-TE tem por
objetivo a coleta de óvulos maduros e em número de 6 a 12. Quando ocorre
o crescimento de muitos folículos é mais comum ocorrer a síndrome de
hiperestímulo severo, complicação grave, que deve ser evitada.
Citrato de Clomifene
O citrato de clomifene (CLOMIDE®, SEROFENE®) é
um indutor da ovulação de uso por via oral. Sua ação anti-estrogênica
faz com que aumente os níveis endógenos de FSH e LH, provocando um maior
recrutamento folicular.
Nos casos de FIV-TE, onde se deseja obter um
número maior de óvulos utiliza-se a droga associada a gonadotrofinas (LH
e FSH). Inicia-se a indução da ovulação geralmente no segundo dia do
ciclo. Quando os folículos atingem na ecografia transvaginal em torno de
18 mm eles são considerados maduros, sendo então utilizado 5 a 10.00 UI
de HCG (Profasi®, Pregnil®) para maturação final e liberação do óvulo.
Trinta e quatro a 36 horas após a injeção intramuscular de HCG, programa-se a captação de óvulos sob controle ecográfico.
Gonadotrofinas
As gonadotrofinas podem ser derivadas de urina
de mulheres menopausadas (Pergonal®, Humegon®, Metrodin®) e, mais
recentemente, o FSH recombinante, sintetizado por engenharia genética
(Puregon® e Gonal F®).
As gonadotrofinas estimulam o crescimento de
múltiplos (figura) e seu uso é iniciado nos primeiros dias do ciclo.
Inicialmente utilizam-se doses maiores, para maior recrutamento
folicular, depois as doses podem ser diminuídas.
O crescimento folicular é acompanhado com
ecografia transvaginal diária. Quando no mínimo 2 folículos atingem na
ecografia transvaginal aproximadamente 18 mm eles são considerados
maduros, sendo então utilizado 5 a 10.00 UI de HCG (Profasi®, Pregnil®)
para maturação final e liberação do óvulo.
Trinta e quatro a 36 horas após a injeção intramuscular de HCG, programa-se a captação de óvulos sob controle ecográfico.
Fig.02 - Ovário com múltiplos folículos à ecografia. |
Análogos do GnRH
O uso de análogos do GnRH (Lupron®), associado
as gonadotrofinas, trouxe duas vantagens principais para indução da
ovulação no processo FIV-TE: acentuada redução do risco de descarga
prematura de LH e facilidade de manipulação do ciclo pela equipe médica.
Os agonistas do GnRH inicialmente promovem o
esvaziamento do LH e FSH endógeno hipofisário (flare up) nos primeiros 3
dias. Após, com uso continuado dos agonistas, ocorre queda paulatina da
secreção endógena de gonadotrofinas, que permanece em níveis baixos e
com pouca atividade biológica.
Quando o agonista do GnRH é iniciado nos
primeiros dias do ciclo - esquema curto - , as gonadotrofinas endógenas
liberadas auxiliam na captação de óvulos (efeito flare up) ao mesmo
tempo em que gonadotrofinas exógenas são administradas.
O agonista é mantido durante a maturação
folicular e a monitorização ecográfica orienta o momento adequado da
aplicação do HCG, coincidindo com a interrupção do agonista.
Quando o agonista do GnRH é iniciado na fase
lútea do ciclo anterior - esquema longo - , ocorre esvaziamento das
gonadotrofinas endógenas e após ocorre o bloqueio de sua secreção.
A menstruação ocorre normalmente pelos efeitos
dos esteróides produzidos na fase folicular e lútea. Após a menstruação a
paciente está em nítido hipoestrogenismo e com bloqueio da secreção de
gonadotrofinas endógenas.
No esquema longo o estímulo ovariano passa a
depender exclusivamente do estímulo de gonadotrofinas exógenas. O
agonista é mantido durante a maturação folicular e a monitorização
ecográfica orienta o momento adequado da aplicação do HCG, coincidindo
com a interrupção do agonista.
INSEMINAÇÃO IN VITRO
O líquido folicular aspirado chega ao
embriologista para identificação e classificação da maturidade dos
óvulos. A maturidade do óvulo é determinada pela morfologia do complexo
cumulus-corona em sua volta e pela presença ou ausência de vesícula
germinativa e primeiro corpúsculo polar.
Os óvulos são classificados como imaturos ou em prófase, metáfase I e metáfase II ou maduros. (fotos)
Os óvulos maduros ficam algumas horas em
cultura sendo então inseminados na proporção de aproximadamente 100 mil
espermatozóides móveis para cada óvulo.
Quinze a 19 horas após a inseminação os óvulos
são examinados ao microscópio em busca do sinal de fertilização
(presença dos pró-núcleos masculino e feminino). Vinte e quatro horas
após a inseminação observa-se a presença de pré-embriões, divididos em
duas células. A transferência dos pré-embriões realiza-se 48 a 72 horas
após a inseminação, com pré-embriões com quatro, oito ou mais células.
Fig.03 - Morfologia do pré-embrião humano. |
A. | 16 hs pós fertilização (zigoto) | |
B. | Com 2 células | |
C. | Com 4 células (48 hs) | |
D. | Com 8 células (72 hs) | |
E. | Fase de Blastocisto (5º dia) |
Transferência de embriões
Neste procedimento, similar a um exame
ginecológico de rotina, coloca-se o espéculo na vagina e com um cateter
adequado coloca-se os pré-embriões na cavidade uterina. O catéter de
transferência é extremamente delicado, existindo diversos modelos. A
tranferência é indolor, portanto não necessita de anestesia ou
analgesia. Após o procedimento a paciente fica aproximadamente 30
minutos em repouso.
Resultados da FIV - TE
Os índices de gestação com a FIV-TE são tão
bons como os da natureza. Um casal fértil normal, com 20 anos, fazendo
sexo regularmente, tem a cada mês em torno de 16% de chance de conceber.
Com o procedimento FIV-TE, após a transferência de 3 embriões os
índices de sucesso por ciclo de tratamento ficam, também, em torno de
20%-30%. Depois de quatro ciclos de tratamento o índice cumulativo de
gestação chega a 50% por casal em média.
A idade da mulher é fator importante nas taxas de gestação.
ICSI (Injeção Intracitoplasmática de Espermatozóides)
Também é uma técnica de fertilização in vitro,
pois a fertilização ocorre fora do corpo, in vitro. A técnica de Injeção
Intracitoplasmática de Espermatozóides - ICSI, oferece um tratamento
viável mesmo para os mais difíceis casos de infertilidade masculina.
Utiliza-se um microscópio potente e micromanipuladores capazes de
segurar um único óvulo na extremidade de uma delicada pipeta de sucção e
através de outra pipeta promove-se a penetração do espermatozóide
selecionado para dentro do óvulo.
Esse procedimento, embora complexo, é uma
excelente alternativa para homens que antes deveriam ter no mínimo 1
milhão de espermatozóides móveis no ejaculado. A ICSI também
possibilitou a fertilização de óvulos com espermatozóides que podem ser
aspirados do epidídimo, técnica conhecida como MESA ou ainda diretamente
dos testículos através de uma minúscula biópsia - TESA. Em conclusão, a
ICSI veio solucionar a maioria dos casos de infertilidade masculina e
também alguns casos de infertilidade sem causa aparente, quando a
fertilização não ocorreu por metodologia mais simples.
A. | À esquerda pipeta que segura o óvulo, à direita pipeta que irá injetar o espermatozóide (seta mostra espermatozóide dentro da pipeta injetora) | |
B. | Pipeta injetora penetrando no óvulo | |
C. | Pipeta injetora dentro do óvulo | |
D. | Pipeta injetora sendo retirada do óvulo | |
E. | Óvulo após a injeção |
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