8.14.2012

Fátima Bernardes: "Achei que era hora de fazer algo totalmente diferente"

Aos 49 anos, a ex-apresentadora do Jornal Nacional vive os desafios de seu novo programa na TV. E nem precisa olhar muito para ver como ela está feliz 

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Fátima: "Jamais fui vista como uma pessoa engraçada, mas tenho bom humor"( Foto: Nana Moraes
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Noite dessas, Fátima Bernardes e William Bonner estavam jantando em casa quando ela disse, de supetão: “Você não sabe o que vai acontecer em Avenida Brasil!” William arregalou os olhos, apavorado. “Não me conta!” Fátima fez menção de revelar um grande segredo da novela das 9, mas o marido foi enfático. “Não quero saber!”
Ele desabafou: “Agora que está no Projac, você fica sabendo de tudo... Foi alguma coisa que viu na gravação?” Fátima disse que não, que a fonte da fofoca era uma amiga jornalista. Reforçou que era uma história bombástica – e reproduziu a própria expressão de queixo caído que fez quando ficou sabendo do babado –, mas respeitou a vontade do marido, ainda que a contragosto, e manteve-se quietinha.
Havia quase 14 anos que Fátima e William trabalhavam, lado a lado, no comando da bancada do Jornal Nacional, da TV Globo. E não é que eles ficassem sem assunto na volta para casa, mas os temas eram mais ou menos os mesmos de sempre – e não havia praticamente nada de muito surpreendente que pudessem contar um para o outro. Como agora os dois despacham de endereços diferentes – a central de produções e o departamento de jornalismo ficam em bairros distantes entre si –, a conversa do jantar se tornou mais animada. “É uma troca que há tempos não tínhamos. E isso é legal”, diz ela.
Fátima anda mesmo cheia das novidades. A principal delas é a estreia de seu programa na televisão, Encontro com Fátima Bernardes, a nova aposta da Rede Globo para animar as manhãs brasileiras, de segunda a sexta-feira. Na tela, surge uma Fátima muito diferente daquela com a qual estávamos acostumadas. Ela está inteira, literalmente – com pés, pernas, bumbum, cintura e tudo o mais que ficava escondido por trás do balcão do telejornal. E um mês antes da estreia, recostada no banco traseiro de um carro enquanto era conduzida para a sessão de fotos de CLAUDIA, Fátima não escondia certa tensão. “No programa, eu me desloco, sento, levanto.
Aos poucos, vou descobrir o que fica bem em mim. Não dá, por exemplo, para usar um vestido cheio de pontas. Mas posso escolher algo mais florido”, dizia ela, como que pensando alto. Mas Fátima não tem com que se preocupar. Aos 49 anos, com 5 quilos a menos na balança – resultado de uma mudança nos hábitos alimentares –, ela deixa à mostra um frescor que suas aparições na televisão nunca antes revelaram.
No encontro com CLAUDIA, isso talvez tivesse a ver com o fato de estar com cabelos molhados e exalar um gostoso odor floral de xampu; ou com o vestidinho verde de malha decotado que usava. O mais provável, porém, é que tivesse relação com a grande aventura que está vivendo. Segundo ela, até agora, a maior de sua vida.
Você deu um salto no escuro – ou pelo menos na penumbra – ao deixar o Jornal Nacional para se dedicar a um programa só seu. Não sentiu um medinho?
Não senti porque foi tudo muito planejado. Além do mais, não estou investindo em algo que nunca fiz – por exemplo, não resolvi virar atriz. No meu novo trabalho, não vou abrir mão de nada que aprendi na Globo nos últimos 25 anos. Mas não posso negar que está sendo a maior aventura da minha vida. Eu, que não sou dada a altas aventuras, que nunca fui de grandes cartadas em relação a me arriscar, achei que era a hora de fazer algo totalmente diferente.
Há alguma faceta da sua personalidade que você mesma desconhecia e que veio à tona no novo trabalho?
Outro dia alguém falou para mim: “Nossa, você é engraçada”. Eu jamais fui vista como uma pessoa engraçada! Mas sei que tenho bom humor. Só a fome me deixa mal-humorada. E isso certamente vai estar mais à mostra agora.
O que mudou na sua rotina depois que você saiu do JN?
Hoje eu consigo jantar com as crianças todos os dias (os trigêmeos Vinicius, Laura e Beatriz, 14 anos). Eu acordo às 6h10, tomamos café e o William leva os três para a escola. Antes, eu só via meus filhos novamente quando voltava do trabalho, perto das 22 horas. Agora, conseguimos jantar, ver o Jornal Nacional, assistir Avenida Brasil.

Você não sente um estranhamento ao ver o JN e saber que não faz mais parte daquilo?
Não. Eu estava muito preparada quando pedi para sair, embora a despedida não tenha sido fácil. Durante 25 anos, trabalhei no prédio do Jardim Botânico, sabia quem era todo mundo. De repente, fui para o Projac, onde não conhecia ninguém. Isso foi difícil. Esse foi o maior estranhamento.
Quando falam sobre você, muitos comentam que é uma mulher sem afetações. Por que essa característica salta tanto aos olhos dos outros?
Uma coisa que me ajuda é que sempre me senti uma operária. Pertenço a uma equipe e, no caso do JN, tinha a missão a mais de colocar o trabalho de todos no ar. Também nunca tive tempo para um deslumbramento que a profissão possa permitir. Nunca acreditei na imagem da mulher que está a todo momento maquiada, bonita e arrumada. Eu sempre me vejo assim (aponta para si, com o rosto lavado). Sei que, para conseguir sair de casa maquiada, tenho que correr igual a uma louca, como todo mundo. Não acredito no glamour.
Você credita essa maneira de se comportar à sua formação familiar?
Sim. Sou filha de um sargento da Aeronáutica com uma dona de casa. Passei anos sem ver minha mãe entrar no salão de beleza. Eu e minha irmã também aprendemos que o estudo era a única forma de conquistar algo. Há uma preocupação dos pais que vieram de famílias simples e hoje têm uma vida tranquila de evitar que os filhos cresçam sem senso de realidade.
Acontece com você?
A vida toda eu me preocupei com isso. Nunca ofereci brinquedos como compensação nem deixei fazer lista para Papai Noel com dez presentes – era só um. Entrava na loja para comprar presente para o aniversário de um amigo, mas não comprava para eles. E sempre contei que trabalhava não só porque precisava mas porque gostava. Nunca descarreguei esse peso neles: “Vou trabalhar para comprar tal coisa”.
Como todas as mulheres que trabalham e têm filhos, às vezes você se sente exausta?
Muitas vezes. A sensação é a de que a gente está sempre devendo. É engraçado: você faz um dia extremamente produtivo como mãe e profissional, mas mesmo assim termina o dia devendo, nunca no crédito.
E tem saída para isso?
Temos que aprender a delegar, inclusive o cuidado com os filhos. Eu vejo mães com bebês pequenos que não deixam o pai trocar a fralda. Então, depois não podem se queixar. São muitas coisas que temos que fazer e não damos conta! Mas eu estou dizendo isso para mim. Eu vou abraçando, tenho muitas dificuldades em deixar o outro me ajudar. E é pior, porque uma hora a gente entra em pane.

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