Evangélico e saído do teatro experimental, Daniel Rocha torce para que Roni seja gay
Estreante em novelas, ator paulistano de 21 anos quer emendar papéis na TV
RIO - Dia desses, Daniel Rocha assistia a um show da banda Trio
Ternura, do amigo Thiago Martins, quando foi parado por um rapaz.
Empolgado, o garoto tratou de agradecer ao ator por ter mudado a sua
perspectiva de vida.
— Ele me disse que graças ao Roni e ao Leandro havia se descoberto apaixonado pelo melhor amigo. Agradeceu muito e eu falei: ‘De nada’, ué? Que bom, né? — relembra.
Desde o início de “Avenida Brasil”, Daniel, ou melhor, Roni, vem instigando os telespectadores com questões relacionadas à sua sexualidade. Se antes o filho de Diógenes (Otávio Augusto) mostrava-se confuso e introspectivo — talvez medroso —, aos poucos seus interesses vão sendo delineados pelo autor da novela, João Emanuel Carneiro. Ao mesmo tempo que mantém o casamento com Suelen (Isis Valverde), já não consegue esconder o ciúme ao ver Leandro (Thiago Martins) com Beverly (Luana Martau). Semana passada, pareceu tentar abrir o jogo com o amigo, sem sucesso. Nos próximos capítulos, vai convidar o moço para morar em sua casa.
— Eu não sei o que o João Emanuel pretende fazer. Mas, para mim, como ator, é bem mais interessante que Roni fique com Leandro. E se rolar o beijo gay, faço, por que não? Sem problemas. Sou ator — argumenta ele, que procura fazer um “trabalho em camadas”. — Acho interessante o ator trabalhar assim, sem saber se é ou não é. Porque o ser humano não é uma coisa só. Você nunca é aquilo, é muito mais. Dostoiévski puro — filosofa, citando o escritor russo.
Mas é verdade que a química com Isis e o jeito fofo do personagem acabaram por aflorar o desejo na mulherada. Roni, afinal, parece saber, sem querer, o que as mulheres querem.
— Ele é sensível e carismático, e toda mulher quer um cara assim do lado. Quando ele olha para a Suelen, olha mesmo — teoriza Daniel.
E numa época em que os galãs mornos e as mocinhas perfeitas cedem a preferência do público aos vilões, Roni vai na contramão. É educado, simpático, leal, caridoso, bom profissional e, para completar, um craque no futebol.
— Em nenhum momento da novela ele expôs algum defeito. Muito pelo contrário. Vem construindo relações muito bonitas. A história dele é apaixonante — pondera o ator.
Melhor para Daniel que, em seu primeiro trabalho na TV, tem procurado colocar em prática todas as lições que absorveu em quatro anos no Centro de Pesquisa Teatral (CPT), grupo experimental de São Paulo comandado pelo tarimbado Antunes Filho. A saída da trupe, causada por diferenças com o próprio diretor, aconteceu uma semana antes do convite para a novela.
— O Antunes tem 84 anos, eu, 21. Ele veio de um tempo em que se ganhava dinheiro com o teatro. Eu cheguei numa época em que tudo já foi montado e remontado um milhão de vezes. Ainda não o encontrei, mas espero que ele entenda meu lado — diz.
A insatisfação com os rumos de sua carreira quase levou o rapaz para a Austrália, onde pretendia cursar Gastronomia e se aperfeiçoar nas artes cênicas. Mas o convite para a novela o fez repensar.
— Ser artista no Brasil é quase impossível. Você estuda, estuda e vai fazer o teste com gente sem preparo, porque hoje qualquer um tem o registro para atuar. Qualquer pessoa é ator, poucos são artistas. E você começa a se revoltar. No Brasil não tem uma boa escola técnica de formação como há na Inglaterra. O brasileiro é bom ator porque se joga — indigna-se, ainda se acostumando ao vídeo. — Eu me acho um canastra (risos). Mas tenho ouvido muitos bons conselhos do Otávio e do Thiago. Tento não comprometer.
E, de fato, os cincos meses no ar vêm lhe dando um tipo de reconhecimento que a experiência nos palcos não trouxe. São convites para desfiles, festas e presenças por todo o país. Aos 21 anos, solteiro — “muito solteiro”, ele frisa —, Daniel revela que, por enquanto, tem tirado casquinhas do assédio. Casamento só lá pelos 32 anos, “com alguma bonitinha para pegar na mão e subir no altar”. Também pretende adotar uma criança. Frequentador da noite ao lado dos colegas de elenco Bruno Gissoni e Ronny Kriwat, ele explica que só sai quando não tem gravações no dia seguinte. Senão, prefere jogar videogame.
— Não sou certinho como o Roni, sou bagunceiro e desorganizado. Mas não bebo e não fumo — frisa.
A disciplina, ele conta, veio dos anos de boxe, atividade que praticou dos 13 aos 17 anos. Começou porque sofria bullying no colégio por ser mirrado e não curtir futebol, apesar de o pai ser um flamenguista fanático (“Lá em casa, se bobear, a capa do sofá é a bandeira do Flamengo”). Parou por causa do teatro. Mesmo assim, enche a boca para contar que tem 20 vitórias e apenas uma derrota no currículo.
— Não dava para chegar nos ensaios com o pé quebrado, o supercílio rasgado. Fui diminuindo o ritmo até parar. Meus pais gostaram da minha ida para o meio artístico. Nenhuma mãe gosta de ver o filho arrebentado, né?
Além da luta, hoje mantida como hobby, Daniel estudou violino por dez anos. Chegou até a fazer aulas num conservatório. A escolha do instrumento veio, de certa forma, por influência do pai.
— Fui criado na igreja, meu pai sempre gostou de que eu e meu irmão (Thiago, de 24 anos) fizéssemos atividades culturais. Eu tinha 5 anos, doido para ir ao McDonald’s, e era levado para a Sala São Paulo para assistir a concertos. Vi alguém tocando violino e gostei. Meu irmão toca sax — explica ele, evangélico da Assembleia de Deus, igreja da qual o pai é pastor. — Creio numa coisa, tenho fé nisso, mas não misturo com a profissão . Tenho cabeça aberta. O que tiver que fazer, eu faço — ressalta.
Apesar de ter nascido na capital paulista, Daniel vem de família carioca. O pai se mudou para lá na época da faculdade. Mas manteve a casa em Cabo Frio, onde o ator costumava passar férias.
— Eu adoro surfar, ir à praia, malhar — enumera ele, que está fazendo um trabalho para perder o carregado sotaque paulistano: — Quero dar uma neutralizada. E aposto que em dois anos no Rio, já vou falar como um carioca.
Quando a novela terminar, em outubro, Daniel pretende retornar às raízes teatrais. Mas ficar longe da TV, ele avisa, nem pensar. Quer fazer o máximo possível de personagens. De preferência, um atrás do outro. Assim mesmo, sem tempo para descansar a imagem.
— Eu quero emendar. Nego tem que se virar, é assim. No CPT eu tinha meses para compor um personagem, aí o Antunes dizia que estava ruim e tinha que refazê-lo em um dia. O barato é esse — empolga-se.
Apesar do status de ator do horário nobre, Daniel conta que ainda tem muito daquele ator experimental que foi um dia. Por sugestão de Antunes, vê o máximo de filmes que pode, sempre em busca de referências. É do tipo que gosta de passar horas discutindo o cinema tailandês, o japonês, o francês, o inglês... E acha que o Brasil deve seguir na trilha do argentino. Mas a fase chata, ele garante, já passou.
— Com 19 anos, ninguém me aturava. Tudo era ruim. Mas a gente aprende que sempre existe um lado positivo, embora eu continue não curtindo blockbuster americano — lembra.
A ida para a televisão também amoleceu o coração dos amigos mais radicais do teatro:
— Eles são contra novela, mas me ligam para dar opiniões sobre a minha atuação e para dizer que o João Emanuel está mandando bem.
— Ele me disse que graças ao Roni e ao Leandro havia se descoberto apaixonado pelo melhor amigo. Agradeceu muito e eu falei: ‘De nada’, ué? Que bom, né? — relembra.
Desde o início de “Avenida Brasil”, Daniel, ou melhor, Roni, vem instigando os telespectadores com questões relacionadas à sua sexualidade. Se antes o filho de Diógenes (Otávio Augusto) mostrava-se confuso e introspectivo — talvez medroso —, aos poucos seus interesses vão sendo delineados pelo autor da novela, João Emanuel Carneiro. Ao mesmo tempo que mantém o casamento com Suelen (Isis Valverde), já não consegue esconder o ciúme ao ver Leandro (Thiago Martins) com Beverly (Luana Martau). Semana passada, pareceu tentar abrir o jogo com o amigo, sem sucesso. Nos próximos capítulos, vai convidar o moço para morar em sua casa.
— Eu não sei o que o João Emanuel pretende fazer. Mas, para mim, como ator, é bem mais interessante que Roni fique com Leandro. E se rolar o beijo gay, faço, por que não? Sem problemas. Sou ator — argumenta ele, que procura fazer um “trabalho em camadas”. — Acho interessante o ator trabalhar assim, sem saber se é ou não é. Porque o ser humano não é uma coisa só. Você nunca é aquilo, é muito mais. Dostoiévski puro — filosofa, citando o escritor russo.
Mas é verdade que a química com Isis e o jeito fofo do personagem acabaram por aflorar o desejo na mulherada. Roni, afinal, parece saber, sem querer, o que as mulheres querem.
— Ele é sensível e carismático, e toda mulher quer um cara assim do lado. Quando ele olha para a Suelen, olha mesmo — teoriza Daniel.
E numa época em que os galãs mornos e as mocinhas perfeitas cedem a preferência do público aos vilões, Roni vai na contramão. É educado, simpático, leal, caridoso, bom profissional e, para completar, um craque no futebol.
— Em nenhum momento da novela ele expôs algum defeito. Muito pelo contrário. Vem construindo relações muito bonitas. A história dele é apaixonante — pondera o ator.
Melhor para Daniel que, em seu primeiro trabalho na TV, tem procurado colocar em prática todas as lições que absorveu em quatro anos no Centro de Pesquisa Teatral (CPT), grupo experimental de São Paulo comandado pelo tarimbado Antunes Filho. A saída da trupe, causada por diferenças com o próprio diretor, aconteceu uma semana antes do convite para a novela.
— O Antunes tem 84 anos, eu, 21. Ele veio de um tempo em que se ganhava dinheiro com o teatro. Eu cheguei numa época em que tudo já foi montado e remontado um milhão de vezes. Ainda não o encontrei, mas espero que ele entenda meu lado — diz.
A insatisfação com os rumos de sua carreira quase levou o rapaz para a Austrália, onde pretendia cursar Gastronomia e se aperfeiçoar nas artes cênicas. Mas o convite para a novela o fez repensar.
— Ser artista no Brasil é quase impossível. Você estuda, estuda e vai fazer o teste com gente sem preparo, porque hoje qualquer um tem o registro para atuar. Qualquer pessoa é ator, poucos são artistas. E você começa a se revoltar. No Brasil não tem uma boa escola técnica de formação como há na Inglaterra. O brasileiro é bom ator porque se joga — indigna-se, ainda se acostumando ao vídeo. — Eu me acho um canastra (risos). Mas tenho ouvido muitos bons conselhos do Otávio e do Thiago. Tento não comprometer.
E, de fato, os cincos meses no ar vêm lhe dando um tipo de reconhecimento que a experiência nos palcos não trouxe. São convites para desfiles, festas e presenças por todo o país. Aos 21 anos, solteiro — “muito solteiro”, ele frisa —, Daniel revela que, por enquanto, tem tirado casquinhas do assédio. Casamento só lá pelos 32 anos, “com alguma bonitinha para pegar na mão e subir no altar”. Também pretende adotar uma criança. Frequentador da noite ao lado dos colegas de elenco Bruno Gissoni e Ronny Kriwat, ele explica que só sai quando não tem gravações no dia seguinte. Senão, prefere jogar videogame.
— Não sou certinho como o Roni, sou bagunceiro e desorganizado. Mas não bebo e não fumo — frisa.
A disciplina, ele conta, veio dos anos de boxe, atividade que praticou dos 13 aos 17 anos. Começou porque sofria bullying no colégio por ser mirrado e não curtir futebol, apesar de o pai ser um flamenguista fanático (“Lá em casa, se bobear, a capa do sofá é a bandeira do Flamengo”). Parou por causa do teatro. Mesmo assim, enche a boca para contar que tem 20 vitórias e apenas uma derrota no currículo.
— Não dava para chegar nos ensaios com o pé quebrado, o supercílio rasgado. Fui diminuindo o ritmo até parar. Meus pais gostaram da minha ida para o meio artístico. Nenhuma mãe gosta de ver o filho arrebentado, né?
Além da luta, hoje mantida como hobby, Daniel estudou violino por dez anos. Chegou até a fazer aulas num conservatório. A escolha do instrumento veio, de certa forma, por influência do pai.
— Fui criado na igreja, meu pai sempre gostou de que eu e meu irmão (Thiago, de 24 anos) fizéssemos atividades culturais. Eu tinha 5 anos, doido para ir ao McDonald’s, e era levado para a Sala São Paulo para assistir a concertos. Vi alguém tocando violino e gostei. Meu irmão toca sax — explica ele, evangélico da Assembleia de Deus, igreja da qual o pai é pastor. — Creio numa coisa, tenho fé nisso, mas não misturo com a profissão . Tenho cabeça aberta. O que tiver que fazer, eu faço — ressalta.
Apesar de ter nascido na capital paulista, Daniel vem de família carioca. O pai se mudou para lá na época da faculdade. Mas manteve a casa em Cabo Frio, onde o ator costumava passar férias.
— Eu adoro surfar, ir à praia, malhar — enumera ele, que está fazendo um trabalho para perder o carregado sotaque paulistano: — Quero dar uma neutralizada. E aposto que em dois anos no Rio, já vou falar como um carioca.
Quando a novela terminar, em outubro, Daniel pretende retornar às raízes teatrais. Mas ficar longe da TV, ele avisa, nem pensar. Quer fazer o máximo possível de personagens. De preferência, um atrás do outro. Assim mesmo, sem tempo para descansar a imagem.
— Eu quero emendar. Nego tem que se virar, é assim. No CPT eu tinha meses para compor um personagem, aí o Antunes dizia que estava ruim e tinha que refazê-lo em um dia. O barato é esse — empolga-se.
Apesar do status de ator do horário nobre, Daniel conta que ainda tem muito daquele ator experimental que foi um dia. Por sugestão de Antunes, vê o máximo de filmes que pode, sempre em busca de referências. É do tipo que gosta de passar horas discutindo o cinema tailandês, o japonês, o francês, o inglês... E acha que o Brasil deve seguir na trilha do argentino. Mas a fase chata, ele garante, já passou.
— Com 19 anos, ninguém me aturava. Tudo era ruim. Mas a gente aprende que sempre existe um lado positivo, embora eu continue não curtindo blockbuster americano — lembra.
A ida para a televisão também amoleceu o coração dos amigos mais radicais do teatro:
— Eles são contra novela, mas me ligam para dar opiniões sobre a minha atuação e para dizer que o João Emanuel está mandando bem.
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