por Lincoln Secco
Aquele foi o “mais atrevido” caso de corrupção da história brasileira.
Deputados
recebiam recursos não contabilizados para apoiar o governo no
congresso. As ramificações do duto de dinheiro ilegal atingiam figuras
imponentes da Câmara dos Deputados, Governadores, ministros e até o
homem forte do presidente da República que havia lutado contra a
Ditadura Militar.
Isto
não aconteceu no Governo Lula. Tratou-se da acusação de compra de votos
para emenda da reeleição de Fernando Henrique Cardoso supostamente
liderada por Sergio Motta.
Talvez
por isso numa pesquisa encomendada pelo próprio PSDB 31% dos
entrevistados disseram que o governo de Fernando Henrique Cardoso foi o
mais corrupto de que têm lembrança, contra 21% que viram mais corrupção
sob Lula (Folha de São Paulo, 24 de setembro de 2011). Foi o preço da
aliança preferencial com o PFL e o baixo clero do Congresso.
Os
mentores daquele escândalo não foram condenados nem na esfera política e
menos ainda na jurídica. Nesta porque eram inocentes ou simplesmente
porque não havia provas contra eles. Para o mundo político apenas porque
gozavam de respaldo da maioria. Pode parecer estranho, mas o julgamento
político não precisa de provas e sim de um consenso majoritário entre
os pares de que aquela pessoa violou os seus costumes.
Foi
assim que o Presidente Collor de Mello sofreu impeachment mesmo depois
de ter renunciado para se salvar. Apesar de não ter uma base permanente
de apoio no Congresso e sofrer uma campanha popular pela sua derrubada,
foi absolvido pelo STF sem que houvesse qualquer ato público contra
aquela colenda corte.
Aqueles dois casos diferem essencialmente do chamado escândalo do mensalão por dois motivos.
O
primeiro é que FHC tinha controle do Congresso, Lula não; o segundo é
que Collor teve contra si uma campanha popular e nem Lula e nem FHC
enfrentaram um movimento parecido. Contra FHC alguns petistas propuseram
o impeachment, mas o partido não mobilizou a sociedade com este
objetivo.
Quando
o Governo Lula foi acuado pelas denúncias de seu aliado Roberto
Jefferson, instalou-se uma crise que destruiu a imagem ética que o PT
cultivava para si mesmo. Seus principais dirigentes caíram e o governo
resistiu nas cordas por vários meses. Foi o preço do abandono dos
valores de esquerda em nome do pragmatismo.
Os
clamores públicos pelo linchamento do PT, hoje em escala menor do que
em 2005, deveriam levar à seguinte indagação: o Brasil teria sido melhor
nos últimos trinta anos sem Lula e o PT?.
O
Governo FHC com lideranças de origem na esquerda não tem sido lembrado
por eventuais escândalos, mas pelas opções que assumiu ao governar o
país, como as privatizações. Que o PSDB defenda aquele legado é justo.
Que a esquerda queira as mudanças estruturais que o PT disse que faria e
não fez é um bom convite para superá-lo.
Mas
o moralismo é sempre a política do imoral, como demonstrou recentemente
um famigerado Senador da República. Não é o PT que deve estar nas
barras do tribunal. Deixemos que ele seja julgado sim, mas pela
história, livre do tempo fugaz de nossas vidas. E a sentença dependerá
exclusivamente do país que Lula e Dilma terão deixado às futuras
gerações.
Lincoln Secco é Professor de História Contemporânea da USP
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