9.29.2012

eu,você e os nossos quarenta e poucos anos.

E um dia você terá seus quarenta e poucos anos,algumas experiências acumuladas,alguns desafetos,algumas lembranças.e eu terei a cabeça cheia de resoluções pré-feitas,contas a pagar,alguns desafetos e você na lembrança. Você irá dirigir até o trabalho,pagará suas contas e um dia,assim sem querer,vai encontrar os nossos guardados na gaveta de baixo. Um dia,sem querer,irá tocar na nossa ferida cicatrizada apenas por palavras e se lembrará daquele afeto ingênuo construído aos poucos alguns anos atrás.e se lembrará do quanto a sua vida conseguia ser completa mesmo que seus dias fossem vividos somente de provas escolares,pressão para passar em algum vestibular e em como agradar alguma menina bonita que ainda mantinha as pernas torneadas e cujos peitos ainda não sofreram a ação da gravidade.E eu ninarei minhas crianças após chegar de um dia cansativo no escritório,no auditório,após chegar de qualquer lugar que desse para pagar as contas.E irei me embalsamar de um creme importado que tentasse reduzir o impacto do salto alto e da idade que vai se tornando um peso sobre meus músculos.e seguiremos a vida,falaremos com os amigos sobre os juros,sobre as últimas modas,sobre as eleições,sobre a nova mamadeira,sobre o zagueiro que não foi escalado e até sobre quem já morreu.falaremos aos outros de nós,e eles,como já era de se esperar,continuarão a não acreditar nas peças que a vida nos pregara.continuarão a achar uma insensatez aquilo de amores bonitos não perdurarem para sempre.talvez eles estejam errados,talvez não exista beleza nenhuma nos romances,na juventude,na espera.mas há uma força incrível nas tentativas,uma delicadeza sutil na insensatez das descobertas,um brilho divertidos nos olhos dos apaixonados.olharemos,pela ultima vez, aquela foto 3x4 escondida no fundo da carteira antiga e aquela certeza certeira nos arrebatará de novo : para todo grande amor que perdura é necessário uma história que sirva de experiência e rascunho.nós fomos os substitutos um do outro,a ponte entre a inocência e a maturidade,o espaço entre a discussão de matérias a serem cobradas e a cobrança de relatórios a serem feitos.fomos,assim mesmo nessa conjugação,fomos.Passado,pretérito,imperfeito. ( preciso dizer que,na minha opinião,a maior beleza é a imperfeição.nada mais bonito do que aquilo que tira o brilho do que é exato e mesmo assim continua sendo incrivelmente apaixonante.porque se apaixonar é isso:perturbação,falta,dúvida,afeto,apego.é todo esse despreparo emocional que nos tira do sério,irrita,comove e também ensina.há sim beleza no incompreensível,na falta de léxico,na timidez excessiva,na malícia,nas saudades, porque tudo o que ainda não foi desvendado instiga,assusta,clama por espaço.e há sempre um espaço dentro de nós para a dúvida,para o sentimento,para o amor.e isso independe dos meus quarenta e poucos anos.. )

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