7.15.2010

Comprimidos partidos podem sofrer alterações na sua composição

Quebrar comprimidos prejudica tratamento
Pesquisa revela que prática pode levar a superconcentração do remédio
A prática de quebrar um comprimido pela metade para alcançar a dose prescrita pelo médico pode prejudicar o tratamento ou expor o paciente a uma superconcentração do remédio, deixando-o vulnerável a efeitos tóxicos.
Uma pesquisa realizada por farmacêuticos do setor de manipulação mostra que as metades obtidas na partição do comprimido apresentam uma variação de conteúdo além dos limites recomendados. Foram analisados dois diuréticos – o furosemida 40 mg e o espironolactona 25 mg. O estudo aponta que a partição resulta em “significativa diferença’’ de massa entre as partes e perda de partículas.
Os comprimidos analisados na pesquisa são de liberação sustentada, ou seja, após a ingestão, são absorvidos pouco a pouco pelo organismo.
“Esse tipo de medicamento não deve ser partido em nenhuma condição’’, afirma Vanessa Pinheiro, coordenadora da pesquisa e integrante da Câmara Técnica da Anfarmag (associação que representa o setor de manipulação). Segundo ela, porém, a quebra é desaconselhável em qualquer caso, mesmo quando o medicamento for fabricado com um sulco para facilitar a partição. “Vimos que a posologia (indicação de doses) acaba comprometida quando o remédio é quebrado’’, disse ela.
Segundo a diretora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, Terezinha Andreoli Pinto, a maioria dos comprimidos sulcados não se presta a uma divisão “perfeita’’.
Quando quebrado, além da falta de uniformidade, o remédio pode sofrer alterações no teor ou se degradar em substâncias que tenham toxicidade. “Em certos casos, há um limiar muito estreito entre a perda do valor terapêutico e uma agressão tóxica’’, disse Terezinha, que diz ver um “risco grave’’, especialmente quando a quebra ocorre sem orientação médica. A pesquisa sobre partição de comprimidos não analisou os efeitos das meias doses em pacientes. “Não podemos precisar os males que essa prática causa, mas certamente há um prejuízo no tratamento’’, diz Vanessa Pinheiro.
O farmacêutico-chefe do Incor-SP, Valter Garcia Santos, conta que já teve casos de pacientes que compraram comprimidos em concentrações inadequadas, tiveram de parti-los e comprometeram o tratamento. “Alguns sofriam de hipertensão e, como partiam o remédio, não conseguiam o controle adequado da pressão’’.
Fique atento
1 – Por que a quebra de comprimidos virou prática comum?
Em alguns casos, uma caixa de comprimidos de 20 mg custa o mesmo que uma de 40 mg. O paciente, então, economiza comprando o de 40 mg e partindo em dois. Mas, além do aspecto econômico, o paciente deve pensar na eficácia do tratamento.
2 – Quando a partição não é recomendável?
A quebra pode ser prejudicial especialmente se o comprimido tiver ação sobre uma área específica do corpo, ou for de liberação sustentada – quando tem seu teor liberado no decorrer do dia. Nesse caso, a medicação pode se tornar ineficaz ou mesmo prejudicial.
3 – Nenhum comprimido pode ser partido?
Em certas condições, a quebra é viável e pode ser vantajosa, mas deve sempre ser discutida entre o médico e o paciente. Deve-se ter o máximo de cuidado com comprimidos pequenos, dada a dificuldade de parti-lo exatamente ao meio. Também é preferível usar um aparelho para partir os comprimidos a quebrá-los com a mão.
4 – O que ocorre quando o remédio é quebrado?
Estudos mostram que a quebra desagrega o comprimido e há uma variação significativa entre as duas metades. Geralmente, a partição afeta a posologia (doses indicadas).
Anvisa exige indicação na bula
Uma resolução de 2003 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que comprimidos revestidos, medicamentos com liberação controlada, cápsulas, drágeas e pílulas não podem ser partidos.
A advertência deve constar na bula dos remédios.
É permitida a quebra de comprimidos sulcados e não revestidos. Já as unidades redondas podem romper ou partir de forma não igualitária durante a quebra. A Anvisa recomenda cuidado na partição de comprimidos pequenos, dada a dificuldade de se localizar o meio com exatidão. Outra recomendação ao paciente é que sempre siga a orientação do farmacêutico ou médico antes de partir o remédio.
A Anvisa reconhece que a partição de comprimidos afeta a posologia e pode ser prejudicial ao paciente, especialmente quando o medicamento for destinado a uma área específica do organismo ou for de liberação sustentada, ou seja, liberado pouco a pouco no decorrer do dia.
Indústria
Procurada, a Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma) preferiu não se pronunciar sobre a partição de medicamentos.
Em nota, informou apenas que a indústria “cumpre todas as orientações emanadas dos organismos internacionais e nacionais responsáveis pela saúde”.

nota boaspraticasfarmaceuticas: Se tiver que partir comprimido, faça a cada dose a ser administrada e não quebre todos os comprimidos de uma vez só, pois este procedimento irá comprometer a estabilidade do medicamento (prazo de validade), pois os mesmos ficarão mais tempo expostos. O ideal é não quebrar o comprimido como orienta o artigo.

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