5.16.2012

A Veja fala de economia


Como aproveitar os juros baixos?

Dicas para você administrar melhor suas finanças nessa nova era, dos investimentos à renegociação das dívidas

JOSÉ FUCS, DANIELLA CORNACHIONE E NATHALIA PRATES
Até pouco tempo atrás, se alguém falasse que o Brasil estava prestes a se tornar um país com juros civilizados, seria motivo de chacota. Dezoito anos após a implantação do Plano Real, que trouxe a estabilidade econômica, o Brasil parecia destinado a ser o eterno campeão mundial dos juros altos. Agora, surgem sinais de que os juros também podem alcançar um patamar de Primeiro Mundo – ou, ao menos, semelhante ao de outros grandes países emergentes, como China, Índia e Rússia. Isso deverá trazer uma transformação profunda na vida dos indivíduos e das empresas.
Capa Época 730 (Foto: reprodução)
A queda dos juros é fruto de uma conjunção de fatores. O maior deles é a própria estabilidade. Sem ela, ainda estaríamos correndo para o supermercado no dia do pagamento do salário para comprar antes da remarcação dos preços. A atual crise global também deu sua contribuição para a virada. Com a desaceleração econômica, o Banco Central pôde promover seguidos cortes na taxa básica de juros, a Selic, usada como referência pelos bancos, sem risco de incentivar um aumento no consumo e alimentar reajustes de preços com impacto na inflação.
Hoje, a taxa básica está em 9% ao ano e, de acordo com a expectativa dos analistas, deverá baixar a 8,5% no final de maio, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o menor nível da história. Descontada a inflação, isso representará uma taxa real de 3,1% ao ano.
A queda nas taxas está provocando mudanças em todos os investimentos. Aplicações que garantiam ganhos de 10% ou 12% ao ano recentemente sem correr praticamente nenhum risco agora estão perdendo fôlego. Quem quiser ganhar um pouco mais terá de se arriscar na Bolsa ou mesmo no mundo dos negócios.
Com uma boa orientação, é possível tirar o melhor dessa nova era. Para ajudar a administrar seu patrimônio, a reportagem de capa de ÉPOCA que está nas bancas e no seu tablet (baixe o aplicativo) é um guia com tudo o que você precisa saber, das melhores opções de investimento à renegociação de dívidas.
1. Devo tirar meu dinheiro da caderneta de poupança?
A velha poupança pode parecer pouco atraente para muito sabichão do mercado financeiro. Mas, para boa parte dos aplicadores e investidores, mesmo os mais endinheirados (que costumam reservar alguns trocados para diversificar seu patrimônio na caderneta), ela é – e continuará a ser – uma alternativa observada com carinho. Quem tem dinheiro hoje na poupança pode até migrar para outras aplicações, como sempre aconteceu, por razões pessoais ou estratégicas. Mas não por causa da mudança nas regras de cálculo dos rendimentos promovida pelo governo no final de abril. “A poupança tem um público cativo, que aplicou e vai continuar a aplicar”, diz Osvaldo do Nascimento, diretor executivo de investimentos e previdência do Itaú Unibanco.
Pelas novas regras, a caderneta renderá só 70% da Selic, a taxa balizada pelo Banco Central, quando ela for menor ou igual a 8,5% ao ano – algo que pode acontecer já no final de maio, se as previsões dos analistas se confirmarem. Em outras aplicações, os investidores mais abonados podem obter quase 100% ao ano da Selic. Só que a poupança é isenta de tributação, enquanto nas demais aplicações o investidor paga imposto sobre seus ganhos.
Além disso, a poupança é uma aplicação simples. O poupador recebe o mesmo rendimento em qualquer banco do país. E ela ainda oferece o menor risco do mercado. O investidor está protegido contra quebras de instituições financeiras pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até o limite de R$ 60 mil por CPF. Com os fundos de investimento, isso não acontece. O único risco da poupança seria a Selic ficar abaixo da inflação, porque seu dinheiro perderia valor. Isso, porém, não aparece nos binóculos dos analistas.
2. O que devo fazer com o dinheiro em CDBs, fundos de renda fixa e DI?
A queda dos juros reais, aqueles que superam a inflação e representam o ganho dos investidores na prática, tira muito do charme que as aplicações de renda fixa tiveram no passado recente, quando as taxas ofereciam mais de 10% ao ano. Hoje, com os juros reais na faixa de 3,5% (e as projeções apontando para uma taxa entre 2% e 2,5% ao ano), o investidor terá de investir mais para ter o mesmo ganho do passado.
Isso não significa que será preciso correr para remanejar seu dinheiro. Ele continua seguro na renda fixa. Qualquer investidor mantém uma parcela do dinheiro nas aplicações mais conservadoras. “Para aumentar o risco, o aplicador tem de estar preparado para ganhar ou perder”, diz Nascimento. Se, ainda assim, você quiser rever suas aplicações, procure refletir calmamente. “O investidor que quiser mudar seu portfólio deve entender os riscos envolvidos nas diferentes aplicações, para fazer a mudança com segurança”, afirma Joaquim Levy, presidente da Bram, a empresa de gestão de recursos do Bradesco.
Quem quiser ser mais cauteloso poderá investir em aplicações com taxas prefixadas, como CDBs e fundos de renda fixa, onde é possível “travar” as taxas antecipadamente. Como os fundos DI, acompanham o sobe e desce das taxas, eles serão beneficiados se o Banco Central tiver de subir os juros mais para a frente, para conter um eventual repique inflacionário, segundo preveem alguns analistas.

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