O limite, de R$ 800, equivalia a quatro meses de sua mesada. "Meu plano era usar quando fosse necessário, mas comecei a pagar o cinema no crédito e comprei alguns jogos de videogame", conta ele, que excedeu os gastos muito além do que podia arcar.
Resultado: após cinco meses de dureza a conta sobrou para o pai. "Ele está descontando a dívida da minha mesada, em suaves prestações de R$ 50."
Para a estudante de letras Larissa Moreira, 21, o inocente cartão foi uma passagem só de ida para o endividamento.
"Eu pretendia era usar o crédito numa eventualidade, mas a máquina de lavar da república onde eu morava quebrou. Resolvi comprar uma nova e ir pagando as prestações", diz.
Na época, Larissa tinha 18. Sem renda própria, vivia com os R$ 900 que a mãe mandava de Lorena, a 190 km de São Paulo. Não conseguiu conciliar as contas do mês com as prestações e ficou com o "nome sujo", ou seja, impedida de tomar mais crédito.
"Hoje tenho um emprego que me paga R$ 800. Espero sair dessa situação até março de 2013 e, daqui para frente, só cartão de débito", diz.
NINJAS
A situação dos dois endividados não é incomum e tem até termos próprios dentro da economia.
"Essas transações se chamam 'empréstimo para NINJAS (No Income, No Job, No Assets)'", conta Samy Dana, colunista da Folha e professor de economia da Fundação Getulio Vargas.
A sigla é um eufemismo para definir pessoas como André e Larissa: gente que não tem emprego, não tem renda, muito menos ativos que possam gerar dinheiro.
De acordo com Dana, a inadimplência entre jovens de até 25 anos é a maior entre todas as faixas etárias.
Isso acontece, geralmente, por falta de educação financeira e consumismo desenfreado: "Adolescentes sempre foram impulsivos, mas a grande diferença é que agora há uma associação muito forte entre consumo e identidade. A pessoa acha que vai assegurar seu lugar em um grupo comprando coisas".
Até quem estuda administração acaba caindo na cilada das dívidas. Esse foi o caso de Elisandra Peck, 19.
Ela era estagiária do setor financeiro de um órgão público, mas as suas próprias contas eram uma bagunça.
"Ganhava R$ 500 por mês quando o banco me deu um crédito de R$ 1.000. Não sei onde eles estavam com a cabeça", diz.
Depois de meses pagando apenas a taxa mínima do cartão, Elisandra foi obrigada a abrir conta em outro banco para fugir da dívida que tragava todo seu salário.
FORA DA CURVA
Na outra ponta dos devedores, há quem seja previdente. É o caso de Diego Leão, 22, que já investe na Bolsa de Valores e em títulos do governo.
Junto com outros cinco amigos dos cursos de contabilidade e economia, lançou a Escola do Dinheiro, uma página no Facebook onde dá conselhos a jovens endividados ou que querem investir a mesada.
Para ele, a falta de educação financeira nas escolas prejudica os adolescentes.
"As escolas podiam ajudar com palestras e cartilhas que fizessem o jovem entender que ou você manda no seu dinheiro ou é o dinheiro quem vai mandar em você", opina o expert em dinheiro.
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