Farra do turista brasileiro
Brasileiros vão gastar US$ 21 bi este ano lá fora, o equivalente a estímulos do governo para o PIB
BRASÍLIA — A economia pode estar patinando, mas com renda maior e
emprego garantido, o brasileiro nunca viajou tanto no exterior. Assim,
os gastos lá foram devem somar mais de US$ 21 bilhões, cerca de R$ 45
bilhões, o equivalente a tudo o que o governo precisou desembolsar ao
longo de 2012 para estimular o crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB). De olho no instinto consumista dos nossos turistas, as operadoras
de viagens montam pacotes exclusivos para quem está disposto a viajar
para comprar. Há programas para quem quer fazer o enxoval do bebê,
renovar o guarda-roupa ou apenas ir atrás dos presentes de Natal. A
tendência chamou a atenção da Receita Federal, que redobrou a vigilância
nos principais aeroportos do país e já pediu reforços para os feriados
de fim de ano.O patamar de gastos deste ano é similar ao de 2011, mas
ganha peso considerando-se o fraco desempenho do PIB brasileiro, que
cresceu apenas 0,6% no último trimestre, causando surpresa na própria
equipe econômica. Ao longo deste ano, o governo tenta estimular a
economia com medidas que incentivam o crédito e o consumo interno, como a
redução do IPI para automóveis e linha branca, além da desoneração da
folha de pagamento em alguns setores.
Roupas, iPAD, relógio e óculos
Segundo levantamento da aduana do Galeão feito a pedido do GLOBO, já são 600 mil viajantes por ano a mais do que em 2010 no aeroporto. A alfândega nunca recolheu tantos tributos sobre mercadorias trazidas de fora, segundo o inspetor-chefe-adjunto, Fernando Fraguas. A arrecadação praticamente dobrou em dois anos. As guias de recolhimento de impostos, os Darfs, passaram de uma média de R$ 594 por passageiro em 2010 para R$ 1.000 até setembro deste ano, de acordo com o estudo. O valor inclui o que os viajantes declaram espontaneamente e o que são obrigados a pagar após serem pegos pelos fiscais da Receita.
Mas esta é apenas uma amostra da capacidade de compra do brasileiro, que, de acordo com dados do Banco Central, deixa nada menos que R$ 5,4 milhões por dia no exterior. Sobre boa parte do que traz na bagagem não incidem impostos, como no caso de roupas, acessórios e eletrônicos para uso pessoal. Os dados da aduana do Galeão mostram que a média mensal de voos internacionais que desembarcam no Rio saltou de 1.200 há dois anos para quase 1.400 em setembro. Com mais voos e uma frota renovada de aviões, de maior porte, o fluxo de passageiros que chegam ao Galeão é de mais de 180 mil por mês, ante 130 mil em 2010. Nas malas, cada vez mais roupas e acessórios.
Maior operadora de viagens da América Latina, a CVC tem três pacotes especiais para quem quer gastar: “Compras em Miami”, “Nova York com compras” e “Compras em Orlando”. Há até programas para aproveitar as promoções da Black Friday nos EUA. Pesquisa da Global Blue mostra que o desembolso de brasileiros passou de € 98 milhões para € 208 milhões. Esses chamados “compradores globais” realizaram uma média de cinco idas ao exterior em 2011. Considerando apenas a última viagem ao exterior, cada comprador gastou uma média de € 1.190.
A médica Denise Barbosa Lima, de 31 anos, embarcou ontem para Orlando, onde pretende passear e ir às compras.
— Vou mais por curiosidade. Pretendo comprar coisas para a minha casa nova, algumas roupas e eletrônicos, entre eles um iPad. Minha mãe me encomendou um relógio e meu irmão, um par de óculos — disse, antes da viagem.
Mas não é só a renda do brasileiro que explica o movimento. A pesquisa da Global Blue mostra que cerca de 60% dos turistas compram fora do país porque encontram novidades ainda não lançadas aqui e pelo preço, cuja diferença pode ser gritante.
Dados do Movimento Brasil Eficiente mostram que enquanto um iPhone4 (32GB) sai ao equivalente a US$1.322,26 no Brasil, a média mundial, já considerado o imposto, é de US$ 589,20. Um tênis Nike air Max Courtballistec cai do equivalente a US$ 320 aqui para US$ 140. Um vidro de perfume Gucci Guilty (75 ml) sai a US$ 106,77 no exterior contra US$ 189,03, se comprado aqui, cerca de R$ 380. Com a diferença, o viajante compra cinco blue-rays do X-Men, que lá fora sai a US$ 15,05, contra US$ 34,59 no Brasil.
— Isso explica em boa medida a euforia do turista — disse o inspetor Fraguas.
Foco nas rotas dos EUA
Por isso mesmo, mais do que os turistas que chegam carregados ao Brasil, o maior alvo do Fisco são aquelas pessoas que fizeram da viagem de compras um meio de vida. Em muitos casos, a diferença de preços pode não apenas pagar a viagem como também virar fonte de receita. Na última quinta-feira, os fiscais do Galeão apreenderam a bagagem de um passageiro que trazia nada menos que 270 camisas de uma famosa grife italiana. Segundo Fraguas, esse ainda não é um grupo representativo, mas começa a incomodar.
— Estamos atrás da destinação comercial das compras lá fora, do tráfico de drogas e importação irregular de suplementos alimentares, que passaram a ser proibidos pelas autoridades competentes no país e passaram a ter tratamento análogo a drogas — explicou.
Para chegar a essas pessoas, a inteligência tem trocado informações com outras aduanas, verificado os carimbos repetidos dos passageiros no passaporte em um curto período de tempo e até mesmo a declaração do Imposto de Renda em casos extremos. Há ainda casos de denúncias e investigações com base em dados postados em redes sociais. Muitos apostam na grande quantidade de passageiros para tentar passar despercebidos ou em algumas estratégias para tentar driblar o Fisco.
— Ninguém tem sorte sempre. A Receita tem aprimorado o treinamento dos funcionários, que podem verificar carimbos repetidos ou notar um nervosismo no passageiro — disse Fraguas.
As autoridades também já identificaram as rotas mais frequentes de quem viaja para revender produtos. O principal país de origem é Estados Unidos. Mas, sabendo que o Fisco tem monitorado os voos de procedência americana com lupa, os contrabandistas passaram a buscar rotas alternativas, como voos com escalas no Panamá e em Santiago.
O Galeão este ano tomou a dianteira e já é o principal aeroporto do país a alimentar um sistema do Fisco com dados de ações fiscais concluídas.
Roupas, iPAD, relógio e óculos
Segundo levantamento da aduana do Galeão feito a pedido do GLOBO, já são 600 mil viajantes por ano a mais do que em 2010 no aeroporto. A alfândega nunca recolheu tantos tributos sobre mercadorias trazidas de fora, segundo o inspetor-chefe-adjunto, Fernando Fraguas. A arrecadação praticamente dobrou em dois anos. As guias de recolhimento de impostos, os Darfs, passaram de uma média de R$ 594 por passageiro em 2010 para R$ 1.000 até setembro deste ano, de acordo com o estudo. O valor inclui o que os viajantes declaram espontaneamente e o que são obrigados a pagar após serem pegos pelos fiscais da Receita.
Mas esta é apenas uma amostra da capacidade de compra do brasileiro, que, de acordo com dados do Banco Central, deixa nada menos que R$ 5,4 milhões por dia no exterior. Sobre boa parte do que traz na bagagem não incidem impostos, como no caso de roupas, acessórios e eletrônicos para uso pessoal. Os dados da aduana do Galeão mostram que a média mensal de voos internacionais que desembarcam no Rio saltou de 1.200 há dois anos para quase 1.400 em setembro. Com mais voos e uma frota renovada de aviões, de maior porte, o fluxo de passageiros que chegam ao Galeão é de mais de 180 mil por mês, ante 130 mil em 2010. Nas malas, cada vez mais roupas e acessórios.
Maior operadora de viagens da América Latina, a CVC tem três pacotes especiais para quem quer gastar: “Compras em Miami”, “Nova York com compras” e “Compras em Orlando”. Há até programas para aproveitar as promoções da Black Friday nos EUA. Pesquisa da Global Blue mostra que o desembolso de brasileiros passou de € 98 milhões para € 208 milhões. Esses chamados “compradores globais” realizaram uma média de cinco idas ao exterior em 2011. Considerando apenas a última viagem ao exterior, cada comprador gastou uma média de € 1.190.
A médica Denise Barbosa Lima, de 31 anos, embarcou ontem para Orlando, onde pretende passear e ir às compras.
— Vou mais por curiosidade. Pretendo comprar coisas para a minha casa nova, algumas roupas e eletrônicos, entre eles um iPad. Minha mãe me encomendou um relógio e meu irmão, um par de óculos — disse, antes da viagem.
Mas não é só a renda do brasileiro que explica o movimento. A pesquisa da Global Blue mostra que cerca de 60% dos turistas compram fora do país porque encontram novidades ainda não lançadas aqui e pelo preço, cuja diferença pode ser gritante.
Dados do Movimento Brasil Eficiente mostram que enquanto um iPhone4 (32GB) sai ao equivalente a US$1.322,26 no Brasil, a média mundial, já considerado o imposto, é de US$ 589,20. Um tênis Nike air Max Courtballistec cai do equivalente a US$ 320 aqui para US$ 140. Um vidro de perfume Gucci Guilty (75 ml) sai a US$ 106,77 no exterior contra US$ 189,03, se comprado aqui, cerca de R$ 380. Com a diferença, o viajante compra cinco blue-rays do X-Men, que lá fora sai a US$ 15,05, contra US$ 34,59 no Brasil.
— Isso explica em boa medida a euforia do turista — disse o inspetor Fraguas.
Foco nas rotas dos EUA
Por isso mesmo, mais do que os turistas que chegam carregados ao Brasil, o maior alvo do Fisco são aquelas pessoas que fizeram da viagem de compras um meio de vida. Em muitos casos, a diferença de preços pode não apenas pagar a viagem como também virar fonte de receita. Na última quinta-feira, os fiscais do Galeão apreenderam a bagagem de um passageiro que trazia nada menos que 270 camisas de uma famosa grife italiana. Segundo Fraguas, esse ainda não é um grupo representativo, mas começa a incomodar.
— Estamos atrás da destinação comercial das compras lá fora, do tráfico de drogas e importação irregular de suplementos alimentares, que passaram a ser proibidos pelas autoridades competentes no país e passaram a ter tratamento análogo a drogas — explicou.
Para chegar a essas pessoas, a inteligência tem trocado informações com outras aduanas, verificado os carimbos repetidos dos passageiros no passaporte em um curto período de tempo e até mesmo a declaração do Imposto de Renda em casos extremos. Há ainda casos de denúncias e investigações com base em dados postados em redes sociais. Muitos apostam na grande quantidade de passageiros para tentar passar despercebidos ou em algumas estratégias para tentar driblar o Fisco.
— Ninguém tem sorte sempre. A Receita tem aprimorado o treinamento dos funcionários, que podem verificar carimbos repetidos ou notar um nervosismo no passageiro — disse Fraguas.
As autoridades também já identificaram as rotas mais frequentes de quem viaja para revender produtos. O principal país de origem é Estados Unidos. Mas, sabendo que o Fisco tem monitorado os voos de procedência americana com lupa, os contrabandistas passaram a buscar rotas alternativas, como voos com escalas no Panamá e em Santiago.
O Galeão este ano tomou a dianteira e já é o principal aeroporto do país a alimentar um sistema do Fisco com dados de ações fiscais concluídas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário