Odontologia, em conjunto com a Medicina do Sono, atua no tratamento dos distúrbios do sono, problemas que afetam quase metade da população mundial.
De acordo com a Associação Mundial de Medicina do Sono, 45% da população mundial sofre com algum problema relacionado ao sono. Insônia, sonolência diurna, síndrome das pernas inquietas, sonambulismo, ronco e apnéia são alguns dos males mais comuns. Além de prejudicar o sono, estes distúrbios afetam a saúde geral do organismo. Este período de descanso é fundamental para o organismo, pois é o momento em que os órgãos se recuperam do esforço realizado, a memória se consolida, o sistema nervoso central amadurece e ocorrem as funções ligadas ao metabolismo anabólico.
O ortodontista e ortopedista facial Gerson Köhler, com atuação - de forma interdisciplinar - no tratamento dos distúrbios obstrutivos do sono, explica que passamos um terço da vida dormindo e este é responsável pela qualidade de vida dos dois terços que passamos acordados. “Estes distúrbios aumentam o risco de doenças crônicas, como obesidade, hipertensão e problemas cardiovasculares. O mais perigoso é a apnéia obstrutiva do sono, caracterizada pela interrupção da respiração durante alguns segundos em episódios que se repetem durante toda a noite”, ressalta.
A apnéia obstrutiva do sono reduz a oxigenação do cérebro, impede a progressão do sono para as suas fases mais profundas e provoca sintomas - além dos cardiovasculares - tais como depressão, ansiedade, impotência sexual, sudorese noturna, dores de cabeça e redução da libido. “A entrada de ar pode ser interrompida totalmente ou o seu fluxo ser reduzido de 30% a 50%. Sem o tratamento adequado, as consequências da apnéia podem - inclusive - causar a morte do indivíduo”, destaca Juarez Köhler, especialista em Ortodontia e Ortopedia facial e membro da Associação Brasileira de Sono.
Os dois profissionais esclarecem que vários fatores podem ser responsáveis pelo desencadeamento dos distúrbios. As principais causas são flacidez na musculatura da garganta e da boca, hipertrofia das amídalas, sinusite, rinite, desvio do septo nasal, obstruções nasais, queixo retraído, palato mole e o envelhecimento. “Outras causas aumentam as chances da apnéia surgir, como a obesidade, o uso de medicamentos para dormir, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo, refluxo esofágico, ingestão em excesso de comida antes de deitar, pescoço curto e grosso e envelhecimento”, observa Gerson.
O ronco é o sintoma que denuncia a presença da apnéia. O barulho, que incomoda quem dorme ao lado, é causado pelo estreitamento ou obstrução das vias respiratórias superiores. O ar tem dificuldade para passar no canal mais estreito, provocando a vibração das estruturas. “O diagnóstico é realizado com o suporte da polissonografia, uma avaliação que verifica diversos parâmetros do corpo durante o sono. O exame apresenta informações sobre os batimentos cardíacos, o esforço respiratório, os potenciais elétricos da atividade cerebral e a saturação de oxigênio no sangue”, aponta Juarez.
O tratamento dos distúrbios do sono é personalizado, isto é, depende da gravidade do caso de cada paciente. As indicações são uso de respiradores artificiais, cirurgia, utilização do CPAP – uma espécie de máscara de ar, e o uso de aparelho intrabucal - uma órtese que libera a passagem de ar pela orofaringe - durante a noite. “O dispositivo bucal é a estratégia mais discreta e sua eficácia é comprovada. Ele facilita a passagem do fluxo de ar em direção aos pulmões e a adaptação é mais fácil. Todo o tratamento deve ser feito em parceria entre os profissionais da Medicina do Sono e da Odontologia do Sono”.
Distúrbios do sono podem atingir crianças
Não existe idade para ser acometido pelos distúrbios do sono. Na infância, os prejuízos à saúde são ainda mais preocupantes. A interrupção da respiração e a fragmentação do sono afeta a liberação do hormônio do crescimento e o crescimento corporal - e facial - pode ficar alterado. “As anomalias dentofaciais, que afetam a boca e todo o seu conteúdo, também estão diretamente ligada aos distúrbios do sono, por causa da respiração bucal que se instala . Independente da idade, é imprescindível ficar atento aos sintomas e buscar ajuda especializada”.
Os pais de crianças devem ficar atentos aos sintomas noturnos e diurnos relacionados aos distúrbios do sono.
Sintomas noturnos:
- Roncos;
- Posições inadequadas ao dormir;
- Boca aberta com salivação;
- Dificuldade para acordar;
- Queixas de cansaço ao levantar da cama;
- Despertares frequentes durante a noite;
- Insônia;
- Enxaquecas;
- Movimentos excessivos de braços e pernas;
- Sonambulismo, falar durante o sono e terror noturno;
- Interrupções da respiração durante o sono;
Sintomas diurnos:
- Dores de cabeça matinais;
- Respiração bucal;
- Rosto com ar de cansado;
- Olheiras;
- Sonolência;
- Fadiga;
- Problemas comportamentais, como hiperatividade, agressividade e irritabilidade;
- Dificuldades de concentração e aprendizado;
- Desempenho escolar ruim;
- Problemas de memória.
No caso das crianças, uma das intervenções mais importantes é o retreinamento da respiração. O ar deve entrar pelo nariz e ser expirado pela boca. As questões anatômicas do rosto infantil devem ser consideradas no diagnóstico dos distúrbiosdo sono para que o problema seja terapeuticamente bem administrado. “O tratamento é interdisciplinar e conta com a atuação de ortodontistas, ortopedistas faciais, otorrinopediatras, pediatras, fonoaudiólogos mioterapeutas e médicos do sono”.
Gerson Köhler
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