12.10.2012

Mais baratos e modernos, Kindle e Kobo podem atrair novos leitores

Aparelhos custam menos de R$ 400 e suportam cerca de mil títulos



Diferenças. Kindle, da Amazon, é mais barato, mas Kobo é mais moderno
Foto: Divulgação

Diferenças. Kindle, da Amazon, é mais barato, mas Kobo é mais moderno Divulgação
Muito foi falado sobre o desembarque da Amazon no Brasil, com acervo de mais de um milhão de livros digitais, mas a principal mudança para o mercado de e-books talvez tenha sido o lançamento dos leitores Kindle, da própria Amazon, e Kobo, da Cultura. Antes, havia no Brasil apenas o Alfa, da Positivo, e o Cool-er, da Gato Sabido, mas ambos custam acima de R$ 500.
— Os e-books já são vendidos no país há alguns anos. A diferença é a chegada de leitores digitais a preços mais acessíveis. São eles que vão atrair os consumidores — opina o professor do Instituto de Economia da UFRJ Fabio Sá Earp.
O Kindle é o leitor digital mais conhecido no mundo. Porém, a versão que será vendida inicialmente no país não é a mais moderna da linha. Os modelos Paperwhite e Fire, lançados este ano, ainda vão demorar um pouco para chegar por aqui. O leitor tem memória de 2Gb e comporta cerca de mil livros. A tela, de seis polegadas, não é colorida, mas é desenvolvida especialmente para a leitura, com uso da tecnologia e-ink.
O leitor da Amazon tem apenas 16 centímetros de comprimento por 11 de largura, menor que a maioria dos livros físicos. O peso impressiona: 170 gramas. O aparelho ainda não está disponível, mas, em semanas, será distribuído por revendas com o preço sugerido de R$ 299. Nos EUA, custa US$ 69 (cerca de R$ 150).
O Kobo, que a Livraria Cultura trouxe para o Brasil, é um pouco mais caro, custa R$ 399. Porém, há algumas vantagens. A tela tem as mesmas seis polegadas do Kindle, mas é sensível ao toque. Para virar uma página, a diferença não é tão grande, mas para digitar faz toda a diferença. Outra característica que o diferencia do leitor da Amazon é a possibilidade de expandir a memória interna de 2Gb com cartões SD de até 32Gb.
— A tendência é que os leitores barateiem ainda mais. Veja o que aconteceu com os smartphones. No início, custavam R$ 2 mil. Agora já existem modelos bem mais em conta. Vai acontecer a mesma coisa com os leitores — diz Sá Earp.
Leitura em tablet e celular
O Kobo iniciou a pré-venda no dia 26 de novembro e chegou às lojas quarta-feira passada. Sergio Herz, diretor-executivo da Cultura não divulga os números alcançados pelo Kobo, mas diz estar satisfeito com o desempenho do leitor digital.
— O que eu posso dizer é que vendemos para clientes de todos os estados durante a pré-venda — afirma Herz.
Para quem já tem tablets ou smartphones, é possível instalar os aplicativos e softwares das livrarias para ter acesso aos e-books, não sendo necessário adquirir um novo aparelho. Porém, o leitor digital tem a vantagem de ser desenvolvido exclusivamente para esse fim. Os celulares têm telas pequenas e os tablets são pesados para longas leituras. Mas, sem um leitor digital próprio, a Saraiva mira esse público.
— Nós apostamos num software de leitura muito bom, que roda nos sistemas Android e iOS, em smartphones e tablets. Pode ser instalado no computador também — diz Marcílio Pousada, diretor-executivo da rede. — A gente acredita numa experiência multicanal e multiformato. Na internet, na loja e no smartphone.
Acesso a livros esgotados e dicionário on-line são outras vantagens de e-book
Apesar da polêmica dos preços, o e-book tem uma série de vantagens em relação ao livro de papel. Leitor inveterado, o empresário Charles Duek é dono de um Kindle há pouco mais de um ano. Ele conta que a experiência de leitura digital é muito próxima do impresso.— E eu posso ler na cama, sem incomodar a minha esposa com a luz acesa. Também aproveito bem os livros de graça, principalmente os infantis, que gosto de ler para a minha filha — relata Duek.
Com os tablets e leitores digitais é possível comprar um livro, a qualquer hora e lugar, com apenas um clique. Basta uma conexão com a internet, e o consumidor tem nas mãos uma livraria. Melhor, mais que uma livraria. A Amazon tem disponíveis 1,4 milhão de e-books, sendo cerca de 13 mil em português. Em média, uma livraria física de grande porte tem cerca de 30 mil títulos. Para Francisco Paladino, diretor-executivo da Xeriph, maior distribuidora de e-books do país, a consolidação do mercado digital abre novas oportunidades para o mercado editorial brasileiro, principalmente para as pequenas editoras.
— É a verdadeira cauda longa da internet chegando ao mercado editorial. Editoras pequenas, com um ou dois livros, conseguem colocar os seus títulos ao lado das grandes — diz Paladino.
No papel, texturas e cheiros
Os e-books também podem trazer de volta os livros esgotados, obras que, por serem economicamente inviáveis, estão fora do catálogo.
O coordenador de Negócios Digitais da Companhia das Letras, Fabio Uehara, aponta outras vantagens da leitura digital. Os leitores, como o Kobo e o Kindle, permitem aumentar ou diminuir o tamanho das letras, consulta imediata ao dicionário, busca por palavras. Além disso, pode carregar uma biblioteca dentro de um aparelho que pesa menos de 200 gramas. Para quem não encontra mais espaço livre na estante e convive com livros espalhados pelo chão, o e-book pode ser bastante útil.
— Mas o livro de papel também tem vantagens. Eu adoro pegar um livro bem feito, com uma capa legal, folhear as páginas. Ir à livraria e ver todos os livros juntos, passear entre as estantes. E o melhor, nunca acaba a bateria — diz Uehara.
Custo ainda é alto
Mesmo com toda a tecnologia, os leitores digitais não conseguem simular algumas características do papel. A presidente da Câmara Brasileira do Livro, Karine Pansa, destaca os títulos infantis, que, no impresso, trazem texturas, cheiros e outras interações. Existem ainda os livros pop-up, que, ao serem abertos, montam estruturas tridimensionais impossíveis de serem reproduzidas na tela.
Para Mauro Palermo, diretor da Globo Livros, o gosto pelo livro de papel é pessoal. Ele destaca o ato de virar uma página, escrever uma anotação e fazer uma orelha no canto da folha para marcar as páginas.
— Livro bom é livro lido. Com marcas. Provavelmente, muita gente vai sentir saudade do livro quando migrar para os e-books — opina. — Mas essa geração que está nascendo agora talvez prefira o digital.
Antes de se aventurar nas livrarias virtuais, o usuário deve fazer as contas. O leitor mais barato é o Kindle, da Amazon, por R$ 299, o equivalente a dez livros de preço médio.
— Um bom leitor consome em média um livro por mês. Botando no papel, talvez não valha a pena investir num aparelho que fica obsoleto em um ano — opina Fabio Sá Earp, professor da UFRJ.

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