A ciência prova que rechear o prato com
alimentos ricos em potássio ajuda a prevenir o tipo 2 da doença e o
temível acidente vascular cerebral.
LÚCIA NASCIMENTO
Se
você descobrisse que tem propensão ao diabete, o que mudaria na sua
alimentação? Dá para arriscar que 99% das pessoas focariam o pensamento
em reduzir o consumo de doces e acrescentariam o adoçante à lista de
compras. Só que controlar a ingestão de carboidratos, apesar de ser uma
atitude correta em casos assim, não é a única medida à mesa quando se
quer barrar essa ameaça. De acordo com um trabalho recente, alimentos
ricos em potássio, como a banana e o feijão, dão uma força e tanto para
prevenir o diabete — por mais inusitado que isso pareça.
A revelação é de cientistas da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Tudo começou quando provaram que os negros figuram no grupo de maior risco de desenvolver diabete tipo 2. A explicação deles? A dieta pobre em potássio. "De acordo com alguns levantamentos, os afro-americanos em geral não consomem esse mineral em doses adequadas", diz o cardiologista Otávio Gebara, diretor clínico do Hospital Santa Paula, na capital paulista. "Existe uma associação entre menor quantidade de potássio no corpo e níveis elevados de glicose no sangue."
Por enquanto, os médicos só levantam hipóteses para explicar a relação entre o baixo consumo do mineral e a ocorrência do problema. "Uma delas é de que o potássio influencie processos enzimáticos que atuam sobre a ação da insulina", diz Gebara. Com isso, se falta potássio no organismo, o açúcar tende a sobrar na circulação. "Quando esse nutriente está em baixa, a própria secreção de insulina pelo pâncreas é afetada", afirma o endocrinologista Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O potássio, assim, teria uma tarefa dupla: equilibrar a produção do hormônio e potencializar sua ação nas células. E, sem estabilidade e eficiência, a probabilidade de o diabete progredir é alta. "A fase inicial da doença pode ser lenta e muitas vezes o diagnóstico é tardio", lembra Mancini, que recomenda fazer exames de sangue periodicamente — e não só ficar de olho no prato de comida. Os sintomas mais comuns, quando o mal se instala, são fome e sede sem fim, e a inevitável ingestão de goles e mais goles de água, culminando em vontade de fazer xixi a toda hora.
Boas doses de potássio também fazem um bem danado ao cérebro. Uma revisão de estudos que saiu no Journal of American College of Cardiology, publicação conceituadíssima nos meios científicos, concluiu que a cada 1,6 grama a mais do nutriente na dieta — quantidade encontrada em três unidades de banana e dois copos de água de coco — o risco de ter um acidente vascular cerebral, sobretudo o hemorrágico, se torna 21% menor. Porque, com o potássio extra, diante de uma crise hipertensiva os vasos da massa cinzenta aguentariam melhor a tensão, sem estourar.
Onde ele é encontrado
Abaixo, você confere alimentos que, juntos, alcançam a recomendação diária de potássio — 4,7 gramas para adultos. Se algum deles não entra com frequência no seu cardápio, fique calmo. Há outras fontes do nutriente, como o abacate, a beterraba, a acelga, a couve, as amêndoas, a alcachofra, a sardinha, a linhaça, o extrato de tomate e até o chocolate amargo. Monte sua combinação predileta.
2 FILÉS DE CARNE PEQUENOS (700 mg*)
+ 2 GOIABAS (628 mg)
+ 2 PEDAÇOS DE MANDIOCA (550 mg)
+ 3 PERAS (560 mg)
+ 4 CONCHAS DE FEIJÃO (1 600 mg)
+ 4 COLHERES DE ESPINAFRE (466 mg)
= A DOSE IDEAL DE POTÁSSIO POR DIA
Por que será que uma dieta rica em potássio relaxaria os vasos?
"O potássio auxiliaria no controle da pressão arterial", conta o neurologista Antonio Cezar Galvão, do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital Nove de Julho, em São Paulo. "Provavelmente porque esse nutriente compete com o sódio e facilita sua excreção pelos rins. E esse outro mineral aumenta a pressão." Isso, por sua vez, ocorre porque o sódio provoca retenção de água, elevando o volume de sangue circulante no corpo. Mas, quando o potássio entra em cena, ele compete com essa substância, mandando-a embora.
Há ainda outra hipótese não totalmente esclarecida. "Aparentemente o potássio também promove relaxamento nas paredes dos vasos sanguíneos", diz Eli Faria Evaristo, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista. "Quando elas se contraem, a pressão do sangue aumenta. E se, ao contrário, relaxam, o sangue escoa com maior facilidade." Nesse caso, a probabilidade de rompimentos nos vasos cerebrais se reduz. "A prevenção do problema passa não só pelo consumo do mineral. Inclui reduzir o índice de açúcar no sangue, as taxas de colesterol e praticar atividade física", enfatiza Evaristo.
"Sem contar que o potássio não pode ser consumido em excesso e sua suplementação não deve ser feita sem acompanhamento médico", lembra a neurologista Ana Paula Peña Dias, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, em São Paulo. Níveis muito elevados da substância no sangue podem ser fatais para o coração. Ora, o potássio está entre os minerais que participam do processo de contração e relaxamento do músculo cardíaco, o miocárdio. Daí que tanto o exagero quanto a falta dele desencadeiam a disritmia.
As pessoas com problemas renais e os idosos precisam ficar ainda mais atentos à quantidade ingerida. "Quando há comprometimento da função dos rins, o potássio não é filtrado direito e, então, é reabsorvido, aumentando demais sua quantidade no sangue", explica a nutricionista funcional Patricia Davidson Haiat, especialista em nutrição em clínica cirúrgica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. "Já os idosos naturalmente têm a função renal comprometida pela idade avançada. Neles também é importante controlar o consumo de fontes do mineral." Mas, em geral, um prato cheio de boas fontes do nutriente sempre cai bem.
Cãibra nunca mais!
Quem já teve sabe que o sofrimento é grande. Mas a cãibra é outra que pode ser prevenida com fontes de potássio. "Ela é uma contração involuntária e intensa, causada por excesso de trabalho muscular ou pelo desequilíbrio entre líquidos e eletrólitos, como o próprio potássio e o sódio", define a nutricionista Maria Fernanda Elias Llanos, doutoranda em nutrição humana aplicada pela Universidade de São Paulo. Por isso, a ingestão desses minerais auxilia no equilíbrio das contrações musculares, evitando as fisgadas dolorosas. Uma boa pedida para quem apresenta tendência a cãibras é a laranja, que possui quantidades significativas dos dois.
A revelação é de cientistas da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Tudo começou quando provaram que os negros figuram no grupo de maior risco de desenvolver diabete tipo 2. A explicação deles? A dieta pobre em potássio. "De acordo com alguns levantamentos, os afro-americanos em geral não consomem esse mineral em doses adequadas", diz o cardiologista Otávio Gebara, diretor clínico do Hospital Santa Paula, na capital paulista. "Existe uma associação entre menor quantidade de potássio no corpo e níveis elevados de glicose no sangue."
Por enquanto, os médicos só levantam hipóteses para explicar a relação entre o baixo consumo do mineral e a ocorrência do problema. "Uma delas é de que o potássio influencie processos enzimáticos que atuam sobre a ação da insulina", diz Gebara. Com isso, se falta potássio no organismo, o açúcar tende a sobrar na circulação. "Quando esse nutriente está em baixa, a própria secreção de insulina pelo pâncreas é afetada", afirma o endocrinologista Marcio Mancini, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas de São Paulo.
O potássio, assim, teria uma tarefa dupla: equilibrar a produção do hormônio e potencializar sua ação nas células. E, sem estabilidade e eficiência, a probabilidade de o diabete progredir é alta. "A fase inicial da doença pode ser lenta e muitas vezes o diagnóstico é tardio", lembra Mancini, que recomenda fazer exames de sangue periodicamente — e não só ficar de olho no prato de comida. Os sintomas mais comuns, quando o mal se instala, são fome e sede sem fim, e a inevitável ingestão de goles e mais goles de água, culminando em vontade de fazer xixi a toda hora.
Boas doses de potássio também fazem um bem danado ao cérebro. Uma revisão de estudos que saiu no Journal of American College of Cardiology, publicação conceituadíssima nos meios científicos, concluiu que a cada 1,6 grama a mais do nutriente na dieta — quantidade encontrada em três unidades de banana e dois copos de água de coco — o risco de ter um acidente vascular cerebral, sobretudo o hemorrágico, se torna 21% menor. Porque, com o potássio extra, diante de uma crise hipertensiva os vasos da massa cinzenta aguentariam melhor a tensão, sem estourar.
Onde ele é encontrado
Abaixo, você confere alimentos que, juntos, alcançam a recomendação diária de potássio — 4,7 gramas para adultos. Se algum deles não entra com frequência no seu cardápio, fique calmo. Há outras fontes do nutriente, como o abacate, a beterraba, a acelga, a couve, as amêndoas, a alcachofra, a sardinha, a linhaça, o extrato de tomate e até o chocolate amargo. Monte sua combinação predileta.
2 FILÉS DE CARNE PEQUENOS (700 mg*)
+ 2 GOIABAS (628 mg)
+ 2 PEDAÇOS DE MANDIOCA (550 mg)
+ 3 PERAS (560 mg)
+ 4 CONCHAS DE FEIJÃO (1 600 mg)
+ 4 COLHERES DE ESPINAFRE (466 mg)
= A DOSE IDEAL DE POTÁSSIO POR DIA
Por que será que uma dieta rica em potássio relaxaria os vasos?
"O potássio auxiliaria no controle da pressão arterial", conta o neurologista Antonio Cezar Galvão, do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital Nove de Julho, em São Paulo. "Provavelmente porque esse nutriente compete com o sódio e facilita sua excreção pelos rins. E esse outro mineral aumenta a pressão." Isso, por sua vez, ocorre porque o sódio provoca retenção de água, elevando o volume de sangue circulante no corpo. Mas, quando o potássio entra em cena, ele compete com essa substância, mandando-a embora.
Há ainda outra hipótese não totalmente esclarecida. "Aparentemente o potássio também promove relaxamento nas paredes dos vasos sanguíneos", diz Eli Faria Evaristo, neurologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista. "Quando elas se contraem, a pressão do sangue aumenta. E se, ao contrário, relaxam, o sangue escoa com maior facilidade." Nesse caso, a probabilidade de rompimentos nos vasos cerebrais se reduz. "A prevenção do problema passa não só pelo consumo do mineral. Inclui reduzir o índice de açúcar no sangue, as taxas de colesterol e praticar atividade física", enfatiza Evaristo.
"Sem contar que o potássio não pode ser consumido em excesso e sua suplementação não deve ser feita sem acompanhamento médico", lembra a neurologista Ana Paula Peña Dias, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, em São Paulo. Níveis muito elevados da substância no sangue podem ser fatais para o coração. Ora, o potássio está entre os minerais que participam do processo de contração e relaxamento do músculo cardíaco, o miocárdio. Daí que tanto o exagero quanto a falta dele desencadeiam a disritmia.
As pessoas com problemas renais e os idosos precisam ficar ainda mais atentos à quantidade ingerida. "Quando há comprometimento da função dos rins, o potássio não é filtrado direito e, então, é reabsorvido, aumentando demais sua quantidade no sangue", explica a nutricionista funcional Patricia Davidson Haiat, especialista em nutrição em clínica cirúrgica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. "Já os idosos naturalmente têm a função renal comprometida pela idade avançada. Neles também é importante controlar o consumo de fontes do mineral." Mas, em geral, um prato cheio de boas fontes do nutriente sempre cai bem.
Cãibra nunca mais!
Quem já teve sabe que o sofrimento é grande. Mas a cãibra é outra que pode ser prevenida com fontes de potássio. "Ela é uma contração involuntária e intensa, causada por excesso de trabalho muscular ou pelo desequilíbrio entre líquidos e eletrólitos, como o próprio potássio e o sódio", define a nutricionista Maria Fernanda Elias Llanos, doutoranda em nutrição humana aplicada pela Universidade de São Paulo. Por isso, a ingestão desses minerais auxilia no equilíbrio das contrações musculares, evitando as fisgadas dolorosas. Uma boa pedida para quem apresenta tendência a cãibras é a laranja, que possui quantidades significativas dos dois.
No 66o. Encontro Anual da Academia Americana de Neurologia, cientistas franceses da Universidade Pontchaillou irão divulgar os dados de uma pesquisa cuja conclusão demonstra que pessoas com bons níveis de vitamina C no corpo apresentam menor predisposição ao derrame hemorrágico — aquele em que uma veia se rompe e o sangue invade a massa cinzenta. Os especialistas recrutaram 65 indivíduos que haviam tido esse tipo de acidente vascular cerebral (AVC) e outros 65 saudáveis. Após comparar o teor sanguíneo de vitamina C dos voluntários, os autores notaram que a concentração da substância estava abaixo do normal nos pacientes que sofreram derrame.
Segundo os pesquisadores, mais estudos são necessários para entender essa relação, mas uma possível explicação seria o fato de o ácido ascórbico (nome oficial da vitamina C) estar ligado à redução da pressão arterial — se é alta, ela se torna fator de risco para derrame. Por isso, além de praticar atividade física e evitar alimentos gordurosos e calóricos, procure se abastecer de frutas e verduras, como a acerola, o brócolis, o morango e o tomate, boas fontes do nutriente.
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