Como indenficar uma falácia
O filósofo, matemático e
cientista americano Charles
Sanders Peirce fala que as lógicas são “ferramentas para o raciocínio
correto”.
O site Thou Shalt Not
Commit Logical Fallacies lista as 24 falácias mais comuns, em linguagem simples, com exemplos
engraçadinhos, e tem até um pôster para você baixar em PDF, mandar imprimir na
gráfica e colar na parede. Tudo de graça.
Como em português o material
sobre isso é escasso, e esse é um conhecimento bem importante quando se quer
travar diálogos e debates saudáveis, resolvemos fazer um esforço extra e
traduzir todo o conteúdo do Thou Shalt Not… para disponibilizar aqui.
Abaixo, 24 das mais comuns
falácias lógicas argumentativas. A numeração não indica nenhum tipo de
hierarquia entre elas, é apenas para facilitar futuras referencias a exemplos
específicos.
Leia, entenda e não
as use.
1. Espantalho
Você desvirtuou um argumento para torná-lo mais
fácil de atacar.
Ao exagerar, desvirtuar ou simplesmente inventar um
argumento de alguém, fica bem mais fácil apresentar a sua posição como razoável
ou válida. Este tipo de desonestidade não apenas prejudica o discurso racional,
como também prejudica a própria posição de alguém que o usa, por colocar em
questão a sua credibilidade – se você está disposto a desvirtuar negativamente
o argumento do seu oponente, será que você também não desvirtuaria os seus positivamente?
Exemplo:
Depois de Felipe dizer que o governo deveria investir mais em saúde e educação,
Jader respondeu dizendo estar surpreso que Felipe odeie tanto o Brasil, a ponto
de querer deixar o nosso país completamente indefeso, sem verba militar.
***
2. Causa Falsa
Você supôs que uma relação real ou percebida entre
duas coisas significa que uma é a causa da outra.
Uma variação dessa falácia é a “cum hoc ergo
propter hoc” (com isto, logo por causa disto), na qual alguém supõe que,
pelo fato de duas coisas estarem acontecendo juntas, uma é a causa da outra.
Este erro consiste em ignorar a possibilidade de que possa haver uma causa em
comum para ambas, ou, como mostrado no exemplo abaixo, que as duas coisas em
questão não tenham absolutamente nenhuma relação de causa, e a sua aparente
conexão é só uma coincidência.
Outra variação comum é a falácia “post hoc ergo
propter hoc” (depois disto, logo por causa disto), na qual uma relação
causal é presumida porque uma coisa acontece antes de outra coisa, logo, a segunda
coisa só pode ter sido causada pela primeira.
Exemplo:
Apontando para um gráfico metido a besta, Rogério mostra como as temperaturas
têm aumentado nos últimos séculos, ao mesmo tempo em que o número de piratas
têm caído; sendo assim, obviamente, os piratas é que ajudavam a resfriar as
águas, e o aquecimento global é uma farsa.
***
3. Apelo à emoção
Você tentou manipular uma resposta emocional no
lugar de um argumento válido ou convincente.
Apelos à emoção são relacionados a medo, inveja,
ódio, pena, orgulho, entre outros.
É importante dizer que às vezes um argumento
logicamente coerente pode inspirar emoção, ou ter um aspecto emocional, mas o
problema e a falácia acontecem quando a emoção é usada no lugar de um argumento
lógico. Ou, para tornar menos claro o fato de que não existe nenhuma relação
racional e convincente para justificar a posição de alguém.
Exceto os sociopatas, todos são afetados pela
emoção, por isso apelos à emoção são uma tática de argumentação muito comum e
eficiente. Mas eles são falhos e desonestos, com tendência a deixar o oponente
de alguém justificadamente emocional.
Exemplo:
Lucas não queria comer o seu prato de cérebro de ovelha com fígado picado, mas
seu pai o lembrou de todas as crianças famintas de algum país de terceiro mundo
que não tinham a sorte de ter qualquer tipo de comida.
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4. A falácia da falácia
Supor que uma afirmação está necessariamente errada
só porque ela não foi bem construída ou porque uma falácia foi cometida.
Há poucas coisas mais frustrantes do que ver alguém
argumentar de maneira fraca alguma posição. Na maioria dos casos um debate é
vencido pelo melhor debatedor, e não necessariamente pela pessoa com a posição
mais correta. Se formos ser honestos e racionais, temos que ter em mente que só
porque alguém cometeu um erro na sua defesa do argumento, isso não
necessariamente significa que o argumento em si esteja errado.
Exemplo:
Percebendo que Amanda cometeu uma falácia ao defender que devemos comer
alimentos saudáveis porque eles são populares, Alice resolveu ignorar a posição
de Amanda por completo e comer Whopper Duplo com Queijo no Burger King todos os
dias.
***
5. Ladeira Escorregadia
Você faz parecer que o fato de permitirmos que
aconteça A fará com que aconteça Z, e por isso não podemos permitir A.
O problema com essa linha de raciocínio é que ela
evita que se lide com a questão real, jogando a atenção em hipóteses extremas.
Como não se apresenta nenhuma prova de que tais hipóteses extremas realmente
ocorrerão, esta falácia toma a forma de um apelo à emoção do medo.
Exemplo:
Armando afirma que, se permitirmos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, logo
veremos pessoas se casando com seus pais, seus carros e seus macacos Bonobo de
estimação.
Exemplo 2: a
explicação feita após o terceiro subtítulo – “O
voto divergente do ministro Ricardo Lewandowski e a ladeira escorregadia”
- deste texto sobre aborto. Vale a leitura.
***
6. Ad hominem
Você ataca o caráter ou traços pessoais do seu
oponente em vez de refutar o argumento dele.
Ataques ad hominem podem assumir a forma de golpes
pessoais e diretos contra alguém, ou mais sutilmente jogar dúvida no seu
caráter ou atributos pessoais. O resultado desejado de um ataque ad hominem
é prejudicar o oponente de alguém sem precisar de fato se engajar no argumento
dele ou apresentar um próprio.
Exemplo:
Depois de Salma apresentar de maneira eloquente e convincente uma possível
reforma do sistema de cobrança do condomínio, Samuel pergunta aos presentes se
eles deveriam mesmo acreditar em qualquer coisa dita por uma mulher que não é
casada, já foi presa e, pra ser sincero, tem um cheiro meio estranho.
***
7. Tu quoque (você também)
Você evitar ter que se engajar em críticas virando
as próprias críticas contra o acusador – você responde críticas com críticas.
Esta falácia, cuja tradução do latim é literalmente
“você também”, é geralmente empregada como um mecanismo de defesa, por tirar a
atenção do acusado ter que se defender e mudar o foco para o acusador.
A implicação é que, se o oponente de alguém também
faz aquilo de que acusa o outro, ele é um hipócrita. Independente da veracidade
da contra-acusação, o fato é que esta é efetivamente uma tática para evitar ter
que reconhecer e responder a uma acusação contida em um argumento – ao devolver
ao acusador, o acusado não precisa responder à acusação.
Exemplo:
Nicole identificou que Ana cometeu uma falácia lógica, mas, em vez de retificar
o seu argumento, Ana acusou Nicole de ter cometido uma falácia anteriormente no
debate.
Exemplo 2: O
político Aníbal Zé das Couves foi acusado pelo seu oponente de ter desviado
dinheiro público na construção de um hospital. Aníbal não responde a acusação
diretamente e devolve insinuando que seu oponente também já aprovou licitações
irregulares em seu mandato.
***
8. Incredulidade pessoal
Você considera algo difícil de entender, ou não
sabe como funciona, por isso você dá a entender que não seja verdade.
Assuntos complexos como evolução biológica através
de seleção natural exigem alguma medida de entendimento sobre como elas
funcionam antes que alguém possa entendê-los adequadamente; esta falácia é
geralmente usada no lugar desse entendimento.
Exemplo:
Henrique desenhou um peixe e um humano em um papel e, com desdém efusivo,
perguntou a Ricardo se ele realmente pensava que nós somos babacas o bastante
para acreditar que um peixe acabou evoluindo até a forma humana através de, sei
lá, um monte de coisas aleatórias acontecendo com o passar dos tempos.
***
9. Alegação especial
Você altera as regras ou abre uma exceção quando
sua afirmação é exposta como falsa.
Humanos são criaturas engraçadas, com uma aversão
boba a estarem errados.
Em vez de aproveitar os benefícios de poder mudar
de ideia graças a um novo entendimento, muitos inventarão modos de se agarrar a
velhas crenças. Uma das maneiras mais comuns que as pessoas fazem isso é
pós-racionalizar um motivo explicando o porque aquilo no qual elas acreditavam
ser verdade deve continuar sendo verdade.
É geralmente bem fácil encontrar um motivo para
acreditar em algo que nos favorece, e é necessária uma boa dose de integridade
e honestidade genuína consigo mesmo para examinar nossas próprias crenças e
motivações sem cair na armadilha da auto-justificação.
Exemplo:
Eduardo afirma ser vidente, mas quando as suas “habilidades” foram testadas em
condições científicas apropriadas, elas magicamente desapareceram. Ele
explicou, então, que elas só funcionam para quem tem fé nelas.
***
10. Pergunta carregada
Você faz uma pergunta que tem uma afirmação
embutida, de modo que ela não pode ser respondida sem uma certa admissão de
culpa.
Falácias desse tipo são particularmente eficientes
em descarrilar discussões racionais, graças à sua natureza inflamatória – o receptor
da pergunta carregada é compelido a se justificar e pode parecer abalado ou na
defensiva. Esta falácia não apenas é um apelo à emoção, mas também reformata a
discussão de forma enganosa.
Exemplo:
Graça e Helena estavam interessadas no mesmo homem. Um dia, enquanto ele estava
sentado próximo suficiente a elas para ouvir, Graça pergunta em tom de
acusação: “como anda a sua rehabilitação das drogas, Helena?”
***
11. Ônus da prova
Você espera que outra pessoa prove que você está
errado, em vez de você mesmo provar que está certo.
O ônus (obrigação) da prova está sempre com quem
faz uma afirmação, nunca com quem refuta a afirmação. A impossibilidade, ou
falta de intenção, de provar errada uma afirmação não a torna válida, nem dá a
ela nenhuma credibilidade.
No entanto, é importante estabelecer que nunca
podemos ter certeza de qualquer coisa, portanto devemos valorizar cada
afirmação de acordo com as provas disponíveis. Tirar a importância de um
argumento só porque ele apresenta um fato que não foi provado sem sombra de
dúvidas também é um argumento falacioso.
Exemplo:
Beltrano declara que uma chaleira está, nesse exato momento, orbitando o Sol
entre a Terra e Marte e que, como ninguém pode provar que ele está errado, a
sua afirmação é verdadeira.
***
12. Ambiguidade
Você usa duplo sentido ou linguagem ambígua para
apresentar a sua verdade de modo enganoso.
Políticos frequentemente são culpados de usar
ambiguidade em seus discursos, para depois, se forem questionados, poderem
dizer que não estavam tecnicamente mentindo. Isso é qualificado como uma
falácia, pois é intrinsecamente enganoso.
Exemplo:
Em um julgamento, o advogado concorda que o crime foi desumano. Logo, tenta
convencer o júri de que o seu cliente não é humano por ter cometido tal crime,
e não deve ser julgado como um humano normal.
***
13. Falácia do apostador
Você diz que “sequências” acontecem em fenômenos
estatisticamente independentes, como rolagem de dados ou números que caem em
uma roleta.
Esta falácia de aceitação comum é provavelmente o
motivo da criação da grande e luminosa cidade no meio de um deserto americano
chamada Las Vegas.
Apesar da probabilidade geral de uma grande
sequência do resultado desejado ser realmente baixa, cada lance do dado é, em
si mesmo, inteiramente independente do anterior. Apesar de haver uma chance
baixíssima de um cara-ou-coroa dar cara 20 vezes seguidas, a chance de dar cara
em cada uma das vezes é e sempre será de 50%, independente de todos os lances
anteriores ou futuros.
Exemplo:
Uma roleta deu número vermelho seis vezes em sequência, então Gregório teve
quase certeza que o próximo número seria preto. Sofrendo uma forma econômica de
seleção natural, ele logo foi separado de suas economias.
***
14. Ad populum
Você apela para a popularidade de um fato, no
sentido de que muitas pessoas fazem/concordam com aquilo, como uma tentativa de
validação dele.
A falha nesse argumento é que a popularidade de uma
ideia não tem absolutamente nenhuma relação com a sua validade. Se houvesse, a
Terra teria se feito plana por muitos séculos, pelo simples fato de que todos
acreditavam que ela era assim.
Exemplo:
Luciano, bêbado, apontou um dedo para João e perguntou como é que tantas pessoas
acreditam em duendes se eles são só uma superstição antiga e boba. João, por sua
vez, já havia tomado mais Guinness do que deveria e afirmou que já que tantas
pessoas acreditam, a probabilidade de duendes de fato existirem é grande.
***
15. Apelo à autoridade
Você usa a sua posição como figura ou instituição
de autoridade no lugar de um argumento válido. (A popular “carteirada”.)
É importante mencionar que, no que diz respeito a
esta falácia, as autoridades de cada campo podem muito bem ter argumentos
válidos, e que não se deve desconsiderar a experiência e expertise do outro.
Para formar um argumento, no entanto, deve-se
defender seus próprios méritos, ou seja, deve-se saber por que a pessoa em
posição de autoridade tem aquela posição. No entanto, é claro, é perfeitamente
possível que a opinião de uma pessoa ou instituição de autoridade esteja
errada; assim sendo, a autoridade de que tal pessoa ou instituição goza não tem
nenhuma relação intrínseca com a veracidade e validade das suas colocações.
Exemplo:
Impossibilitado de defender a sua posição de que a teoria evolutiva “não é
real”, Roberto diz que ele conhece pessoalmente um cientista que também
questiona a Evolução e cita uma de suas famosas falas.
Exemplo 2:
Um professor de matemática se vê questionado de maneira insistente por um aluno
especialmente chato. Lá pelas tantas, irritado após cometer um deslize em sua
fala, o professor argumenta que tem mestrado pós-doutorado e isso é mais do que
suficiente para o aluno confiar nele.
***
16. Composição/Divisão
Você implica que uma parte de algo deve ser
aplicada a todas, ou outras, partes daquilo.
Muitas vezes, quando algo é verdadeiro em parte,
isso também se aplica ao todo, mas é crucial saber se existe evidência de que
este é mesmo o caso.
Já que observamos consistência nas coisas, o nosso
pensamento pode se tornar enviesado de modo que presumimos consistência e
padrões onde eles não existem.
Exemplo:
Daniel era uma criança precoce com uma predileção por pensamento lógico. Ele
sabia que átomos são invisíveis, então logo concluiu que ele, por ser feito de
átomos, também era invisível. Nunca foi vitorioso em uma partida de
esconde-esconde.
***
17. Nenhum escocês de verdade…
Você faz o que pode ser chamado de apelo à pureza
como forma de rejeitar críticas relevantes ou falhas no seu argumento.
Nesta forma de argumentação falha, a crença de
alguém é tornada infalsificável porque, independente de quão convincente seja a
evidência apresentada, a pessoa simplesmente move a situação de modo que a
evidência supostamente não se aplique a um suposto “verdadeiro” exemplo. Esse
tipo de pós-racionalização é um modo de evitar críticas válidas ao argumento de
alguém.
Exemplo:
Angus declara que escoceses não colocam açúcar no mingau, ao que Lachlan aponta
que ele é um escocês e põe açúcar no mingau. Furioso, como um “escocês de
verdade”, Angus berra que nenhum escocês de verdade põe açúcar no seu mingau.
***
18. Genética
Você julga algo como bom ou ruim tendo por base a
sua origem.
Esta falácia evita o argumento ao levar o foco às origens
de algo ou alguém. É similar à falácia ad hominem no sentido de que ela
usa percepções negativas já existentes para fazer com que o argumento de alguém
pareça ruim, sem de fato dissecar a falta de mérito do argumento em si.
Exemplo:
Acusado no Jornal Nacional de corrupção e aceitação de propina, o senador disse
que devemos ter muito cuidado com o que ouvimos na mídia, já que todos sabemos
como ela pode não ser confiável.
***
19. Preto-ou-branco
Você apresenta dois estados alternativos como sendo
as únicas possibilidades, quando de fato existem outras.
Também conhecida como falso dilema, esta
tática aparenta estar formando um argumento lógico, mas sob análise mais
cuidadosa fica evidente que há mais possibilidades além das duas apresentadas.
O pensamento binário da falácia preto-ou-branco não
leva em conta as múltiplas variáveis, condições e contextos em que existiriam
mais do que as duas possibilidades apresentadas. Ele molda o argumento de forma
enganosa e obscurece o debate racional e honesto.
Exemplo:
Ao discursar sobre o seu plano para fundamentalmente prejudicar os direitos do
cidadão, o Líder Supremo falou ao povo que ou eles estão do lado dos direitos
do cidadão ou contra os direitos.
***
20. Tornando a questão supostamente óbvia
Você apresenta um argumento circular no qual a
conclusão foi incluída na premissa.
Este argumento logicamente incoerente geralmente
surge em situações onde as pessoas têm crenças bastante enraizadas, e por isso
consideradas verdades absolutas em suas mentes. Racionalizações circulares são
ruins principalmente porque não são muito boas.
Exemplo: A
Palavra do Grande Zorbo é perfeita e infalível. Nós sabemos disso porque diz
aqui no Grande e Infalível Livro das Melhores e Mais Infalíveis Coisas do Zorbo
Que São Definitivamente Verdadeiras e Não Devem Nunca Serem Questionadas.
Exemplo 2: O
plano estratégico de marketing é o melhor possível, foi assinado pelo Diretor
Bam-bam-bam.
***
21. Apelo à natureza
Você argumenta que só porque algo é “natural”,
aquilo é válido, justificado, inevitável ou ideal.
Só porque algo é natural, não significa que é bom.
Assassinato, por exemplo, é bem natural, e mesmo assim a maioria de nós
concorda que não é lá uma coisa muito legal de você sair fazendo por aí. A sua
“naturalidade” não constitui nenhum tipo de justificativa.
Exemplo: O
curandeiro chegou ao vilarejo com a sua carroça cheia de remédios completamente
naturais, incluindo garrafas de água pura muito especial. Ele disse que é
natural as pessoas terem cuidado e desconfiarem de remédios “artificiais”, como
antibióticos.
***
22. Anedótica
Você usa uma experiência pessoal ou um exemplo
isolado em vez de um argumento sólido ou prova convincente.
Geralmente é bem mais fácil para as pessoas
simplesmente acreditarem no testemunho de alguém do que entender dados
complexos e variações dentro de um continuum.
Medidas quantitativas científicas são quase sempre
mais precisas do que percepções e experiências pessoais, mas a nossa inclinação
é acreditar naquilo que nos é tangível, e/ou na palavra de alguém em quem
confiamos, em vez de em uma realidade estatística mais “abstrata”.
Exemplo:
José disse que o seu avô fumava, tipo, 30 cigarros por dia e viveu até os 97
anos — então não acredite nessas meta análises que você lê sobre estudos
metodicamente corretos provando relações causais entre cigarros e expectativa
de vida.
***
23. O atirador do Texas
Você escolhe muito bem um padrão ou grupo
específico de dados que sirva para provar o seu argumento sem ser
representativo do todo.
Esta falácia de “falsa causa” ganha seu nome
partindo do exemplo de um atirador disparando aleatoriamente contra a parede de
um galpão, e, na sequência, pintando um alvo ao redor da área com o maior
número de buracos, fazendo parecer que ele tem ótima pontaria.
Grupos específicos de dados como esse aparecem
naturalmente, e de maneira imprevisível, mas não necessariamente indicam que há
uma relação causal.
Exemplo:
Os fabricantes do bebida gaseificada Cocaçúcar apontam pesquisas que mostram
que, dos cinco países onde a Cocaçúcar é mais vendida, três estão na lista dos
dez países mais saudáveis do mundo, logo, Cocaçúcar é saudável.
***
24. Meio-termo
Você declara que uma posição central entre duas
extremas deve ser a verdadeira.
Em muitos casos, a verdade realmente se encontra
entre dois pontos extremos, mas isso pode enviezar nosso pensamento: às vezes
uma coisa simplesmente não é verdadeira, e um meio termo dela também não é
verdadeiro. O meio do caminho entre uma verdade e uma mentira continua sendo
uma mentira.
Exemplo: Mariana
disse que a vacinação causou autismo em algumas crianças, mas o seu estudado
amigo Calebe disse que essa afirmação já foi derrubada como falsa, com provas.
Uma amiga em comum, a Alice, ofereceu um meio-termo: talvez as vacinas causem
um pouco de autismo, mas não muito.
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