3.23.2014

Vacina contra a herpes zoster

Chega em abril a vacina contra herpes zoster ou cobreiro. Ela existe desde 2006 e reduz pela metade o risco de ter a doença


O lançamento de vacinas para adultos ou a sua introdução em países onde não estava disponível é uma tendência da indústria farmacêutica. Em abril, chegará ao Brasil a única vacina disponível contra a herpes zoster, a Zostavax, licenciada pela Merck nos Estados Unidos em 2006 (há outra da indústria GSK em fase adiantada de pesquisa). Até agora, quem quisesse tomar a tal vacina precisava recorrer a um importador – e pagar os olhos da cara – ou obter uma receita e se vacinar em alguma clínica americana.
A herpes zoster é uma infecção causada pelo mesmo vírus da catapora. No Brasil, essa infecção de pele é conhecida popularmente como cobreiro. Dito assim, já ouviu falar? Na falta de dados nacionais, e tomando emprestadas as estimativas do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), dá para ver que é um problema dos grandes. A instituição americana calcula que um a cada três americanos acima de 60 anos terá ao menos um episódio da doença. É o equivalente a um milhão de pessoas por ano.

Qualquer indivíduo que teve catapora ou contato com o seu causador, o vírus varicela zoster, pode um dia ter herpes zoster. Ela é conseqüência do ressurgimento desse microorganismo. O danado fica de tocaia no corpo em estado latente por anos, esperando apenas um vacilo, um momento de enfraquecimento do sistema imunológico para se manifestar. É por isso acomete com mais freqüência pessoas acima dos 60 anos, quando há um enfraquecimento esperado do sistema imune associado ao envelhecimento.

“Diferentemente da catapora, que produz uma erupção generalizada no corpo, a herpes-zoster causa o surgimento de vesículas na pele de um único lado do corpo ou rosto”, explica o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcellos, em São Paulo. Em geral, a duração desses episódios varia entre duas e quatro semanas.

O principal sintoma é a dor, que chega a ser intensa. E o que é pior – o CDC calcula que uma a cada cinco pessoas com herpes zoster continue sentindo essas dores fortes (que seguem o trajeto do nervo) por um longo período depois que a erupção foi embora. É o que se chama de neuralgia pós-herpética.

A zoster, mais um nome da doença, também pode provocar febre, coceira, formigamento, dor de cabeça, calafrios e dor de estômago. Muitos deles também só aparecem de um lado do corpo.

Essa característica da doença – atacar um lado só do corpo -- é valorizada quando os pacientes com cobreiro procuram curandeiros e benzedeiras, algo pra lá de comum em qualquer canto do País. O costume é rezar e traçar uma linha imaginária com a mão para dividir o corpo do indigitado, vaticinando que a doença não passará para o outro lado.

A Zostavax, que desembarca no País no começo do mês que vem, é feita com amostras do vírus atenuado. Dada em uma única dose, ela pode reduzir a ocorrência da herpes zoster em 50%. Também baixa as chances de sofrer a neuralgia pós-herpética em 67%, conforme o CDC.

A vacinação contra a herpes zoster é opcional e não fará parte do calendário público. Os especialistas acreditam que o preço do imunizante seguirá o padrão americano. “Nos Estados Unidos, essa vacina custa ao redor U$ 200 dólares. Portanto, é acessível apenas a quem tem poder aquisitivo”, diz Ciro de Quadros, vice-presidente do Albert B. Sabin Vaccine Institute, em Washington. Aos 74 anos, o especialista não tem planos de se vacinar. Já o virologista Celso Granato, professor da Universidade Federal de São Paulo, afirma que irá tomar o imunizante assim que completar 60 anos. “Ela protege”, diz.

Quem deve receber a vacina
- Não existe uma idade máxima para tomar a vacina contra a herpes zoster. Porém os estudos apontam que ela é mais eficaz em pessoas na faixa dos 60-69 anos, embora tenha oferecido alguma proteção para pessoas com idade mais avançada.

- Quem tem ou teve herpes zoster pode se beneficiar da vacinação para prevenir futuras ocorrências da doença, conforme o CDC. Porém é necessário ter certeza de que as erupções desapareceram antes de se vacinar.

- Segundo o infectologista e imunologista Esper Kallás, há estudos em andamento para avaliar se o uso da vacina pode beneficiar pessoas com HIV, doença que fundamentalmente ataca as células do sistema imune. “É necessário esperar as conclusões desses trabalhos para indicar a vacina”, diz Kallás. Ele acredita que muito provavelmente essa vacina passará a ser recomendada às pessoas com HIV que tenham uma boa contagem de CD4, um tipo especial de glóbulos brancos do sangue que desempenham um papel importante e central no sistema imunitário do corpo humano.

A vacina é também uma boa indicação para pessoas que passarão por tratamentos que reduzem a imunidade. “É recomendada para quem fará quimio ou radioterapia ou irá tomar remédios à base de corticosteróides por longo prazo”, diz o infectologista Timerman. 

Quem não deve receber a vacina
- De acordo com o CDC, devem evitar essa vacina pessoas que já tiveram reação grave ou com risco de vida provocada por gelatina, ao antibiótico neomicina ou qualquer outro componente do imunizante contra herpes zoster. Os estudos sugerem que o efeito dessa vacina persiste, em média, por seis anos. tempo. Há pesquisas em andamento para determinar sua duração.

- Também não devem tomá-la pessoas em tratamento com medicamentos que afetem o sistema imunitário, como os esteróides, ou que estejam em terapia contra o câncer submetendo-se a sessões de radio ou quimioterapia.

- Deve ser evitada por mulheres grávidas ou que pretendem engravidar. A recomendação é não engravidar até pelo menos quatro semanas após ter recebido a vacina da herpes zoster.

  Mônica Tarantino 

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