4.13.2014

Buscas para encontrar desaparecidos de bimotor na Floresta Amazônica

 Passo a passo de uma busca incansável por cinco vidas em uma das regiões mais isoladas da Floresta Amazônica.

O Fantástico acompanhou o passo a passo de uma busca incansável em uma das regiões mais isoladas da Floresta Amazônica. Uma busca por cinco vidas.
Equipes da Força Aérea Brasileira (FAB) já vasculharam milhares de quilômetros de selva, por terra e pelo ar, mas o mistério continua: o que teria acontecido com o avião bimotor que sumiu no Pará há quase um mês?
“Cada dia que passa, mais sofrimento que fica”, diz Ramiro Aguiar, pai de Luciney Aguiar.
“Achar que eles possam estar bem ou então que estejam precisando muito da gente, se estão machucados, a gente não sabe o que aconteceu”, diz Marilia Esquerdo, mulher do comandante Feltrim.
“Fica até difícil falar sobre isso sem encher os olhos de lágrimas”, emociona-se Andressa Aguiar, sobrinha de Luciney.
Terça-feira, 18 de março. O bimotor Beechcraft, modelo Baron, era pilotado pelo comandante Luís Feltrin, de 53 anos e com mais de 30 de experiência em voos na Amazônia.
Além do piloto, estavam no avião quatro funcionários da Secretaria Especial de Saúde Indígena: o motorista Ari Lima e as técnicas de enfermagem Raimunda Lúcia da Silva Costa, Rayline Sabrina Brito Campos e Luciney Aguiar de Sousa.
A viagem, de cerca de 300 quilômetros, entre Itaituba e Jacareacanga, no sudoeste do Pará, tinha duração prevista de 55 minutos. A 12 minutos do pouso, o piloto chamou o operador da pista da Infraero em Jacareacanga para saber como estava o tempo na região.
“Foi informado ao comandante que estava chovendo na vizinhança e que a visibilidade se restringindo. Não havia condições de pouso em condições visuais”, afirma Jetson Gomes, operador da Infraero em Jacareacanga.
Faltando seis minutos para a aterrissagem, o comandante Feltrin tenta falar com o piloto Dário Correia, que havia decolado pouco depois dele.
“Ele só me disse que estava monomotor, que o motor esquerdo havia parado. Eu ainda pedi para ele me confirmar a mensagem, porque eu estava com o rádio muito baixo. Ele confirmou que o motor esquerdo havia parado”, conta o piloto Dário Correia.
Quase ao mesmo tempo, uma das passageiras, a técnica de enfermagem Rayline, envia uma mensagem de celular para o tio, alertando sobre a pane: "Tio, tô em um temporal e o motor parou. Avisa à mãe que amo muito todos. Tô aflita, tô em pânico... Se eu sair bem, aviso. Tô perto de JKRE (uma abreviação de Jacareacanga). Reza por nós, não avisa a tia ainda''.
Um minuto depois, a segunda mensagem: "O motor tá parando. Socorro, tio''.
“Passei uma mensagem para ela de volta. Aí, não teve retorno, nada. Liguei e não consegui mais nada”, lembra Rubélio Santos, tio da Rayline.
Às 12h50, Luís Feltrin entra em contato com Dário pela última vez, dizendo que o segundo motor também tinha parado.
“Infelizmente, após ele dizer que o motor direito estava parando também, eu perdi contato com ele”, conta Dário Correa.
O bimotor sumiu dos radares às 12h53. Sempre que chegava de viagem, o comandante Feltrin ligava para a mulher, que estranhou a demora dessa vez.
“O telefone chamou até cair na caixa-postal. Depois de cinco minutos, eu liguei de novo e estava fora de área”, conta Marilia Esquerdo.
O Fantástico passou três dias no meio da Floresta Amazônica para acompanhar, com exclusividade, as buscas. Do alto, se percebe que a região é uma das mais isoladas da Amazônia.
No caminho entre as duas cidades existem vários parques e reservas florestais, ou seja, são áreas preservadas, de mata nativa. Além disso, é uma região de serra, montanhosa, por isso é muito difícil encontrar alguma área descampada, onde seja possível fazer um pouso de emergência se houver um problema no avião.
“Estamos no inverno amazônico, chove muito, inclusive este ano está chovendo até demais nessa região. Então, fica muito difícil voar com esses aviões pequenos. Você não tem muito apoio de solo, de pista, de controle”, explica o piloto Cláudio Collere.
Ao descer em Jacareacanga, a equipe de reportagem encontrou no aeroporto vários parentes dos desaparecidos. Os quatro passageiros iam levar medicamentos para aldeias indígenas, passariam vinte dias trabalhando na floresta.
“Depois que entrei no computador é que eu vi a foto dela com mais duas pessoas, duas técnicas de enfermagem, que tinham caído o avião. Aí, na mesma hora, liguei para os meus parentes de Itaituba para saber se era verdade. Aí, me avisaram que era verdade”, afirma João Vitor de Souza, filho de Luciney.
“Gosta demais do que faz. Eu digo que gosta porque acredito que eles estão vivos e esperando a nossa ajuda e o resgate”, diz Sidney Aguiar, irmã de Luciney.
As buscas são coordenadas pela FAB. Um avião P3-Orion, que possui sensores capazes de detectar partes metálicas na mata e no fundo do mar, sobrevoou a região. Até agora, foram 192 horas de voos sobre 23 mil quilômetros quadrados.
A mata é muito densa. Do alto, percebe-se que a copa das árvores forma uma espécie de cobertura que prejudica muito a visualização.
A equipe de reportagem acompanhou também a missão de busca por terra. Quinta-feira, 10 de abril. O tempo amanheceu fechado. A equipe percorreria 30 quilômetros de Rodovia Transamazônica nessas condições até se encontrar com uma das equipes que estão vasculhando a mata para tentar localizar o avião.
De acordo com o tenente, na área alagada tem uma grande ocorrência de cobras, insetos e outros animais. “Porco-do-mato, que é muito perigoso. Sempre que a gente anda nessa região, procura andar armado, para proteger a nossa equipe”, afirma o tenente Tiago Vilhena, do Corpo de Bombeiros.
A chuva forte prejudica muito o trabalho de buscas. “Prejudica porque, se na floresta existir algum rastro, com a chuva já vai deixar de existir. Vai ficar complicado agora. Se a pessoa tiver algum conhecimento da floresta, ela consegue, porque a selva oferece alimento e oferece água. Mas se a pessoa não conhecer a selva, fica complicado. É muito quente, muito úmido, você transpira bastante e desidrata muito rápido”, ressalta o tenente.
A equipe de resgate já percorreu 50 quilômetros de selva durante mais de 200 horas, mas o número de militares – são cerca de 25 - é considerado pequeno pelas famílias das vítimas.
“Tempo é vida. Se eles estiverem vivos na mata, quanto mais tempo demorar, um dia a mais é um dia a menos”, diz Jéssica Feltrin, filha do comandante Feltrim.
Jéssica juntou R$ 19 mil em doações para oferecer uma recompensa a quem encontrar o avião.
“Muitos deixam seus trabalhos, entram na mata para procurar a aeronave. Outros que não podem fazer isso doam. Muita gente doando suprimento e equipamentos, como bota, facão”, conta Jéssica.
“A gente tem esperança que um dia eles vão ser encontrados. Que seja logo”, diz a mulher do piloto Feltrin.
“É nisso que a gente se apega, para não ter que desistir”, diz Sidney, irmã de Lucy.

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