Até o craque Zico aderiu.
O filho de Maria Cecilia, Rafael, chorava muito para mamar, não dormia bem, era choroso e não relaxava. Depois das mamadas tinha refluxo e diarréia. O diagnóstico veio quando ele completou um mês e meio: alergia à proteína do leite e da soja. Maria Cecília teve que mudar toda sua alimentação para poder amamentar: não podia comer nada que tivesse leite de vaca ou soja para que o leite materno não provocasse os sintomas no bebê. E encontrou uma grande dificuldade: a falta de informação nos rótulos. “Algumas indústrias rotulam muito bem, descrevendo todos os ingredientes dos produtos porque têm responsabilidade social ou porque exportam e lá fora essas informações são importantes”, constata. “Já outras simplesmente não dão satisfação para seus consumidores”, conclui. Além do leite e da soja, muitos têm alergia a ovo, peixe, crustáceos, amendoim e oleaginosas. E o alérgico alimentar corre risco de morte dependendo do seu grau de sensibilidade podendo sofrer choque anafilático e fechamento de glote, entre outras reações graves. No Brasil, cerca de 8% das crianças e 3% dos adultos possuem alergia alimentar.
Maria Cecília Cury Chaddad é mãe do Rafael , mas também advogada e doutora em Direito Constitucional pela PUC-SP e decidiu transformar essa questão da rotulagem em sua tese de doutorado. “Queremos comer com segurança”, diz. Nascia aí o movimento #poenorotulo que agrega mais de 600 famílias e até o momento em que esse post foi escrito já contava com mais de 17 mil curtidas na página do grupo no Facebook. Esses pais e mães querem conscientizar e mobilizar a sociedade para exigir que os rótulos sejam claros e que ingredientes desconhecidos sejam decifrados. A caseína, por exemplo, é uma proteína do leite, mas passa despercebida nos rótulos lidos por leigos. O grupo luta para que a informação seja completa: ao lado da palavra “caseína” teria de aparecer também a palavra “leite”, entre parênteses e em negrito. Ao lado de “albumina”, proteína do ovo, deveria ser acrescentada essa informação. E assim com todos os ingredientes desconhecidos pela maioria da população. Além disso esses pais e mães propõem que todos os alérgenos apareçam no rótulo em uma lista separada e também em negrito. Se você quiser conhecer a campanha, clique aqui:
https://www.facebook.com/poenorotulo
Estudos da Unidade de Alergia e Imunologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) mostraram que 39,5% reações alérgicas foram relacionadas a erros na leitura de rótulos dos produtos. Isso aconteceu com a própria Maria Cecília por duas vezes. Ela adotou a partir daí um costume a cada rótulo mal-escrito encontrado: ligar para o SAC, o serviço de atendimento ao consumidor para se certificar inclusive, se os maquinários onde o alimento foi processado foram usados também na fabricação de produtos com leite ou soja. Mesmo depois de higienizados as proteínas acabam ficando nas máquinas, um verdadeiro perigo aos alérgicos graves. Essa informação também poderia ser prestada pelas indústrias nos rótulos, um hábito comum em outros países.
Mesmo tendo um filho que não é alérgico, aderi à campanha. Quero ter o direito de saber o que um produto contém. Na contramão desta campanha e de tudo o que é feito no mundo há um projeto de lei tramitando em Brasília em regime de urgência que quer liberar as indústrias de informar nas embalagens se há ingredientes geneticamente modificados nos produtos. O Idec está promovendo um contra-ataque para que a lei seja mantida, e nosso poder de escolha e direito à informação seja respeitado. Por que as indústrias tem tanto medo da transparência?
http://www.idec.org.br/mobilize-se/campanhas/fim-da-rotulagem-dos-alimentos-transgenicos-diga-no
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