Semana passada, um estudo de décadas de dados
econômicos concluiu que os Estados Unidos ficaram atrás de outros
países, isto é, dos super-ricos. The Observer
por The Observer
Justin Sullivan / Getty Images North America / AFP
Por Michael Cohen
Durante a eleição presidencial de 2012, o candidato republicano, Mitt Romney, gostava de dizer, brincando, que o presidente Obama queria que a economia americana se parecesse "mais com a Europa". No contexto da política americana moderna, poucos insultos são mais ferinos. Ser europeu é ser um pouco efeminado, indeciso e, talvez o pior de tudo, socialista. É o contrário do "sólido individualismo" e da "natureza excepcional" da experiência unicamente americana de autogoverno.
Mas, como deixou claro um artigo sério no New York Times na semana passada, os EUA podem ter muito a aprender olhando para a Europa. Segundo esse jornal, a classe média americana – o esteio do fenomenal crescimento econômico do país no pós-guerra – não pode mais chamar a si mesma de a mais rica do mundo. "Enquanto os americanos mais ricos superam muitos de seus pares globais", diz o NYT, "nas camadas inferiores e médias, cidadãos de outros países avançados receberam aumentos consideravelmente maiores nas últimas três décadas." Os cidadãos mais pobres dos EUA ficaram para trás de seus homólogos europeus; há 35 anos, o oposto era verdade.
Este foi mais um chamado de despertar sobre a realidade do constante mal-estar econômico dos Estados Unidos. Pergunte aos americanos se o país está no caminho certo – 60% dizem que não. Satisfeitos com o modo como estão as coisas? Só 25% respondem sim. Ainda acha que você é um membro da classe média? Só 44% sentem confiança; 40% se autoidentificam como classe baixa, um salto de 15 pontos percentuais desde 2008. Entre os jovens, os números são ainda mais deprimentes. Aqueles que situam a si mesmos na camada inferior duplicaram nos últimos seis anos.
Enquanto uma maioria de americanos continua tenazmente a defender o sonho americano – aquele antigo ideal de que se você trabalhar duro tudo é possível –, cada vez mais pessoas relatam que a oportunidade de progresso social parece cada vez mais fora de seu alcance e de seus filhos. De fato, é difícil pensar em uma tendência mais perturbadora na sociedade americana do que o fato de as pessoas na faixa de 20 e 30 anos terem menor probabilidade de possuir um diploma colegial do que as de 55 a 64 anos.
Tudo isso deve parecer contraintuitivo para públicos estrangeiros. Os EUA se exibem no cenário mundial com uma certeza e um senso de objetivo moral com que nenhum outro país pode se equiparar. Abençoado com recursos nacionais praticamente ilimitados, uma população dinâmica e variada, um sistema político relativamente estável e capacidades tecnológicas e inovadoras com que outros só podem sonhar, como é possível que tantos americanos estejam ficando para trás – e como seus líderes podem deixar isso acontecer?
A resposta é tão simples que causa espanto: nós escolhemos esse caminho.
Sim, ninguém decidiu ativamente atacar a classe média dos EUA. Não houve algum plano maligno elaborado a portas fechadas para provocar o caos socioeconômico. Mas o declínio da classe média americana, a riqueza ostentatória do chamado 1% e a esmagadora ansiedade econômica do crescente número de americanos pobres aconteceram à plena vista.
É o resultado direto de um sistema político que durante mais de quatro décadas abdicou de suas responsabilidades – e inclinou a balança econômica para os mais afluentes e bem conectados na sociedade. A ideia de que o governo tem a obrigação de criar empregos, fazer a economia crescer, construir uma rede de segurança social, ou mesmo colocar os interesses dos mais vulneráveis da sociedade acima dos mais bem-sucedidos seguiu no caminho dos rádios transistores, máquinas de fax e videocassetes. Hoje os EUA estão pagando o preço da indiferença a esse colapso econômico em câmera lenta.
Nem sempre foi assim.
Um dia, os americanos viveram em um país onde não só os maiores barcos flutuavam no alto de uma maré econômica crescente. Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, os EUA foram definidos por um período sem precedentes de prosperidade econômica. Os empregos eram abundantes e bem remunerados, com generosos benefícios de saúde e aposentadoria. Novos confortos, de geladeiras e máquinas de lavar a televisores e carros, de repente estavam disponíveis. Os americanos tornaram-se proprietários de casas e eventualmente, se tivessem sorte, moradores dos subúrbios. Talvez mais importante, os que estavam no fundo da escala econômica compartilhavam a bonança tanto quanto os que estavam no topo.
A vida na época não era tão idílica quanto poderiam sugerir alguns retratos nostálgicos dos Estados Unidos no pós-guerra (especialmente se você intregrasse uma minoria, ou fosse mulher). Mas também é verdade que os americanos desfrutavam o tipo de segurança econômica com que as atuais gerações só podem sonhar.
Parte do motivo eram os líderes políticos favoráveis a um governo federal que não podia apenas ficar sentado nas laterais. Das medidas de emergência do New Deal, que depositou as bases do moderno Estado do bem-estar social, às vastas ambições da Grande Sociedade, o governo ofereceu apoio aos idosos, tratamentos de saúde para os pobres, segurança no emprego para os trabalhadores, boas escolas para os jovens americanos e investiu em projetos de ciência e infraestrutura para criar novas oportunidades econômicas.
Nos anos 1970, porém, enquanto o boom econômico do pós-guerra começava a desinflar, o mesmo aconteceu com a ideia de que o governo tinha de exercer um papel na condução da economia ou proteger os trabalhadores das vicissitudes do livre mercado. Em vez disso, enquanto um populismo conservador antigoverno surgia dos excessos "liberais" percebidos nos anos 1960, uma nova disposição política ganhava destaque. Foi a promovida pelos republicanos (embora ocasionalmente articulada e endossada por democratas). O governo não era mais um amigo do trabalhador – era uma força maligna transferindo seus dólares duramente conquistados para os pobres e as minorias, via impostos.
Essas atitudes não eram necessariamente novas. Os americanos por muito tempo flertaram com correntes de anticentralismo e temores de poder concentrado. Mas desta reação viriam ideias políticas tóxicas que definiram a política americana pós-anos 60 – impostos mais baixos e até gastos federais mais baixos, menos regulamentação e até menos intervenção do governo na economia. Embora vendidas à população americana como um elixir mágico para o que acometia a economia do país, elas trouxeram a inquietação econômica que vemos florescer plenamente hoje.
O impacto da reação conservadora antigoverno foi significativo. Os benefícios aos desempregados tornaram-se menos generosos; o mesmo ocorreu com os cupons alimentares, as pensões e o salário mínimo. As proteções ao emprego enfraqueceram quando o antigo apoio aos sindicatos e à mão-de-obra organizada foi substituído por uma crescente hostilidade dos republicanos pró-empresas. Se antes um terço de todos os americanos no setor privado estavam sindicalizados, hoje o número fica em cerca de 11%.
As matrículas em faculdades dispararam enquanto o apoio às universidades públicas caiu. Isso acontecia ao mesmo tempo que um diploma universitário se tornava uma passagem essencial para o sucesso em uma economia competitiva global. A falta de educação na primeira infância e escolas de baixo desempenho, particularmente para os americanos mais pobres, significavam que, a menos que você estivesse entre os 10% no topo, a probabilidade era de que quando seu filho começasse o jardim da infância já estaria um passo atrás.
Essa desigualdade educacional é reflexo de uma tendência maior de crescentes disparidades de renda em toda a sociedade americana. Assim, enquanto os americanos viam seus salários estagnar, suas ansiedades econômicas crescerem, seus níveis de dívida dispararem, suas poupanças para a aposentadoria encolherem e suas perspectivas de futuro se toldarem, os muito ricos ficaram muito, muito mais ricos.
No entanto, o impacto mais pernicioso do conservadorismo não veio do que ele realizou. Não havia como recuar do Estado assistencialista ou da Grande Sociedade. O reverenciado salvador republicano conservador Ronald Reagan criticou o grande governo, mas como presidente se viu incapaz de eliminar um único grande programa de gastos.
Muito piores, porém, foram os pecados da omissão. O legado mais dúbio do conservadorismo foi o de deter o progresso. Não houve uma expansão do atendimento às crianças ou uma creche universal para enfrentar o influxo das mulheres no local de trabalho. Milhões não tinham cobertura de seguro-saúde, no entanto o Congresso mostrava pouca inclinação a fornecer o acesso universal a saúde. Novos programas de infraestrutura, como o trem de alta velocidade ou a maior penetração da banda larga, não deram em nada. Programas de obras públicas para criar empregos não estavam sobre a mesa. Quando novos programas sociais foram criados, como as licenças família e médica, foram pálidos substitutos do que a classe média europeia já tinha garantido.
Mas o Congresso se ocupou mais de deduções fiscais e subsídios para o 1% mais rico e cortou os regulamentos que protegiam trabalhadores e a rede de segurança social que impedia que caíssem na miséria econômica. Até a muito atrasada aprovação do Obamacare em 2010, a classe média se viu constantemente no lado mais frágil da balança.
Certamente, alguns discutirão quanta culpa o governo federal deve receber por essa crise econômica. Forças sistêmicas maiores, como a globalização, a mudança tecnológica e a crescente especialização da economia americana, que exigia mais trabalhadores formados, também tiveram papéis importantes. Ainda assim, mesmo que se aceite que esses fatores foram mais responsáveis, onde estavam o Congresso e o presidente para ajudar os trabalhadores a navegar por essas mudanças?
Infelizmente, é provável que estivessem levantando dinheiro do 1% para a próxima eleição. Não causa muita admiração que, segundo um recente relatório acadêmico, o mundo da política é tão "dominado por poderosas organizações empresariais e um pequeno número de americanos ricos" que os EUA estão em terreno instável mesmo para chamar a si mesmos de democracia.
Enquanto os americanos viram suas fortunas econômicas decaírem, os que tinham mais condições de ajudá-los demonstraram muito pouca disposição a dar uma mão, sobretudo os republicanos conservadores.
Nas palavras imortais de Ralph Waldo Emerson, "o conservadorismo não faz poesia, não sopra oração, não tem invenção". Seu sucesso vem de ficar no caminho da reforma e dizer não. Com o Partido Republicano atualmente no comando da Câmara dos Deputados (e sem probabilidade de perder esse controle na eleição de meio de mandato neste outono), há poucos motivos, infelizmente, para se acreditar que o declínio da situação financeira da população americana em quase quatro décadas se endireitará em breve. Em suma, a "opção" que os EUA fizeram de seguir o caminho do declínio continuará conosco por algum tempo ainda.
Isso quase faz olhar para a Europa não parecer uma ideia tão ruim.
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Durante a eleição presidencial de 2012, o candidato republicano, Mitt Romney, gostava de dizer, brincando, que o presidente Obama queria que a economia americana se parecesse "mais com a Europa". No contexto da política americana moderna, poucos insultos são mais ferinos. Ser europeu é ser um pouco efeminado, indeciso e, talvez o pior de tudo, socialista. É o contrário do "sólido individualismo" e da "natureza excepcional" da experiência unicamente americana de autogoverno.
Mas, como deixou claro um artigo sério no New York Times na semana passada, os EUA podem ter muito a aprender olhando para a Europa. Segundo esse jornal, a classe média americana – o esteio do fenomenal crescimento econômico do país no pós-guerra – não pode mais chamar a si mesma de a mais rica do mundo. "Enquanto os americanos mais ricos superam muitos de seus pares globais", diz o NYT, "nas camadas inferiores e médias, cidadãos de outros países avançados receberam aumentos consideravelmente maiores nas últimas três décadas." Os cidadãos mais pobres dos EUA ficaram para trás de seus homólogos europeus; há 35 anos, o oposto era verdade.
Este foi mais um chamado de despertar sobre a realidade do constante mal-estar econômico dos Estados Unidos. Pergunte aos americanos se o país está no caminho certo – 60% dizem que não. Satisfeitos com o modo como estão as coisas? Só 25% respondem sim. Ainda acha que você é um membro da classe média? Só 44% sentem confiança; 40% se autoidentificam como classe baixa, um salto de 15 pontos percentuais desde 2008. Entre os jovens, os números são ainda mais deprimentes. Aqueles que situam a si mesmos na camada inferior duplicaram nos últimos seis anos.
Enquanto uma maioria de americanos continua tenazmente a defender o sonho americano – aquele antigo ideal de que se você trabalhar duro tudo é possível –, cada vez mais pessoas relatam que a oportunidade de progresso social parece cada vez mais fora de seu alcance e de seus filhos. De fato, é difícil pensar em uma tendência mais perturbadora na sociedade americana do que o fato de as pessoas na faixa de 20 e 30 anos terem menor probabilidade de possuir um diploma colegial do que as de 55 a 64 anos.
Tudo isso deve parecer contraintuitivo para públicos estrangeiros. Os EUA se exibem no cenário mundial com uma certeza e um senso de objetivo moral com que nenhum outro país pode se equiparar. Abençoado com recursos nacionais praticamente ilimitados, uma população dinâmica e variada, um sistema político relativamente estável e capacidades tecnológicas e inovadoras com que outros só podem sonhar, como é possível que tantos americanos estejam ficando para trás – e como seus líderes podem deixar isso acontecer?
A resposta é tão simples que causa espanto: nós escolhemos esse caminho.
Sim, ninguém decidiu ativamente atacar a classe média dos EUA. Não houve algum plano maligno elaborado a portas fechadas para provocar o caos socioeconômico. Mas o declínio da classe média americana, a riqueza ostentatória do chamado 1% e a esmagadora ansiedade econômica do crescente número de americanos pobres aconteceram à plena vista.
É o resultado direto de um sistema político que durante mais de quatro décadas abdicou de suas responsabilidades – e inclinou a balança econômica para os mais afluentes e bem conectados na sociedade. A ideia de que o governo tem a obrigação de criar empregos, fazer a economia crescer, construir uma rede de segurança social, ou mesmo colocar os interesses dos mais vulneráveis da sociedade acima dos mais bem-sucedidos seguiu no caminho dos rádios transistores, máquinas de fax e videocassetes. Hoje os EUA estão pagando o preço da indiferença a esse colapso econômico em câmera lenta.
Nem sempre foi assim.
Um dia, os americanos viveram em um país onde não só os maiores barcos flutuavam no alto de uma maré econômica crescente. Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, os EUA foram definidos por um período sem precedentes de prosperidade econômica. Os empregos eram abundantes e bem remunerados, com generosos benefícios de saúde e aposentadoria. Novos confortos, de geladeiras e máquinas de lavar a televisores e carros, de repente estavam disponíveis. Os americanos tornaram-se proprietários de casas e eventualmente, se tivessem sorte, moradores dos subúrbios. Talvez mais importante, os que estavam no fundo da escala econômica compartilhavam a bonança tanto quanto os que estavam no topo.
A vida na época não era tão idílica quanto poderiam sugerir alguns retratos nostálgicos dos Estados Unidos no pós-guerra (especialmente se você intregrasse uma minoria, ou fosse mulher). Mas também é verdade que os americanos desfrutavam o tipo de segurança econômica com que as atuais gerações só podem sonhar.
Parte do motivo eram os líderes políticos favoráveis a um governo federal que não podia apenas ficar sentado nas laterais. Das medidas de emergência do New Deal, que depositou as bases do moderno Estado do bem-estar social, às vastas ambições da Grande Sociedade, o governo ofereceu apoio aos idosos, tratamentos de saúde para os pobres, segurança no emprego para os trabalhadores, boas escolas para os jovens americanos e investiu em projetos de ciência e infraestrutura para criar novas oportunidades econômicas.
Nos anos 1970, porém, enquanto o boom econômico do pós-guerra começava a desinflar, o mesmo aconteceu com a ideia de que o governo tinha de exercer um papel na condução da economia ou proteger os trabalhadores das vicissitudes do livre mercado. Em vez disso, enquanto um populismo conservador antigoverno surgia dos excessos "liberais" percebidos nos anos 1960, uma nova disposição política ganhava destaque. Foi a promovida pelos republicanos (embora ocasionalmente articulada e endossada por democratas). O governo não era mais um amigo do trabalhador – era uma força maligna transferindo seus dólares duramente conquistados para os pobres e as minorias, via impostos.
Essas atitudes não eram necessariamente novas. Os americanos por muito tempo flertaram com correntes de anticentralismo e temores de poder concentrado. Mas desta reação viriam ideias políticas tóxicas que definiram a política americana pós-anos 60 – impostos mais baixos e até gastos federais mais baixos, menos regulamentação e até menos intervenção do governo na economia. Embora vendidas à população americana como um elixir mágico para o que acometia a economia do país, elas trouxeram a inquietação econômica que vemos florescer plenamente hoje.
O impacto da reação conservadora antigoverno foi significativo. Os benefícios aos desempregados tornaram-se menos generosos; o mesmo ocorreu com os cupons alimentares, as pensões e o salário mínimo. As proteções ao emprego enfraqueceram quando o antigo apoio aos sindicatos e à mão-de-obra organizada foi substituído por uma crescente hostilidade dos republicanos pró-empresas. Se antes um terço de todos os americanos no setor privado estavam sindicalizados, hoje o número fica em cerca de 11%.
As matrículas em faculdades dispararam enquanto o apoio às universidades públicas caiu. Isso acontecia ao mesmo tempo que um diploma universitário se tornava uma passagem essencial para o sucesso em uma economia competitiva global. A falta de educação na primeira infância e escolas de baixo desempenho, particularmente para os americanos mais pobres, significavam que, a menos que você estivesse entre os 10% no topo, a probabilidade era de que quando seu filho começasse o jardim da infância já estaria um passo atrás.
Essa desigualdade educacional é reflexo de uma tendência maior de crescentes disparidades de renda em toda a sociedade americana. Assim, enquanto os americanos viam seus salários estagnar, suas ansiedades econômicas crescerem, seus níveis de dívida dispararem, suas poupanças para a aposentadoria encolherem e suas perspectivas de futuro se toldarem, os muito ricos ficaram muito, muito mais ricos.
No entanto, o impacto mais pernicioso do conservadorismo não veio do que ele realizou. Não havia como recuar do Estado assistencialista ou da Grande Sociedade. O reverenciado salvador republicano conservador Ronald Reagan criticou o grande governo, mas como presidente se viu incapaz de eliminar um único grande programa de gastos.
Muito piores, porém, foram os pecados da omissão. O legado mais dúbio do conservadorismo foi o de deter o progresso. Não houve uma expansão do atendimento às crianças ou uma creche universal para enfrentar o influxo das mulheres no local de trabalho. Milhões não tinham cobertura de seguro-saúde, no entanto o Congresso mostrava pouca inclinação a fornecer o acesso universal a saúde. Novos programas de infraestrutura, como o trem de alta velocidade ou a maior penetração da banda larga, não deram em nada. Programas de obras públicas para criar empregos não estavam sobre a mesa. Quando novos programas sociais foram criados, como as licenças família e médica, foram pálidos substitutos do que a classe média europeia já tinha garantido.
Mas o Congresso se ocupou mais de deduções fiscais e subsídios para o 1% mais rico e cortou os regulamentos que protegiam trabalhadores e a rede de segurança social que impedia que caíssem na miséria econômica. Até a muito atrasada aprovação do Obamacare em 2010, a classe média se viu constantemente no lado mais frágil da balança.
Certamente, alguns discutirão quanta culpa o governo federal deve receber por essa crise econômica. Forças sistêmicas maiores, como a globalização, a mudança tecnológica e a crescente especialização da economia americana, que exigia mais trabalhadores formados, também tiveram papéis importantes. Ainda assim, mesmo que se aceite que esses fatores foram mais responsáveis, onde estavam o Congresso e o presidente para ajudar os trabalhadores a navegar por essas mudanças?
Infelizmente, é provável que estivessem levantando dinheiro do 1% para a próxima eleição. Não causa muita admiração que, segundo um recente relatório acadêmico, o mundo da política é tão "dominado por poderosas organizações empresariais e um pequeno número de americanos ricos" que os EUA estão em terreno instável mesmo para chamar a si mesmos de democracia.
Enquanto os americanos viram suas fortunas econômicas decaírem, os que tinham mais condições de ajudá-los demonstraram muito pouca disposição a dar uma mão, sobretudo os republicanos conservadores.
Nas palavras imortais de Ralph Waldo Emerson, "o conservadorismo não faz poesia, não sopra oração, não tem invenção". Seu sucesso vem de ficar no caminho da reforma e dizer não. Com o Partido Republicano atualmente no comando da Câmara dos Deputados (e sem probabilidade de perder esse controle na eleição de meio de mandato neste outono), há poucos motivos, infelizmente, para se acreditar que o declínio da situação financeira da população americana em quase quatro décadas se endireitará em breve. Em suma, a "opção" que os EUA fizeram de seguir o caminho do declínio continuará conosco por algum tempo ainda.
Isso quase faz olhar para a Europa não parecer uma ideia tão ruim.
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