Lembranças vivas de um tricampeão
- No dia que marca os 20 anos da morte de Ayrton Senna, o Brasil e o mundo reverenciam sua carreira
Allan Caldas
Claudio Nogueira
E se Pelé tivesse sofrido uma contusão que lhe abreviasse a carreira
no início da sua 11ª temporada como jogador, em 1966? Teria recebido
todo reconhecimento que merecia mesmo tendo vencido duas Copas do Mundo,
uma delas praticamente sem jogar, e com pouco mais da metade dos quase
1.300 gols que marcou? E se Muhammad Ali tivesse aceitado a convocação
para lutar na Guerra do Vietnã, e voltado de lá mutilado ou morto, como
milhões de outros jovens americanos, o mundo teria reconhecido sua
importância para o esporte, com apenas um dos três títulos mundiais dos
pesos-pesados que conquistou?
Ao contrário de outros grandes gênios do esporte, Ayrton Senna teve a trajetória interrompida na plenitude da carreira, na batida fatal na Curva Tamburello, em Ímola, no GP de San Marino, há 20 anos. No dia 1º de maio de 1994, a tragédia privou o mundo de saber até onde o piloto poderia ter ido. Mas as dez temporadas na F-1 — três títulos, 41 vitórias, 65 poles e corridas inesquecíveis — lhe garantiram um lugar no olimpo do esporte.
Senna e o austríaco Roland Ratzenberger, que morrera no treino do dia 30 de abril, foram as duas últimas vítimas fatais na F-1. Hoje, há em Ímola um memorial que os homenageia. Para o chefe da McLaren, Ron Dennis, a morte eternizou Senna.
— Ele foi tão bom no período em que esteve neste planeta. Muitos ficam tempo demais no esporte, e mancham sua grandeza. Foi tão inacreditavelmente competitivo e, de repente, já não estava mais aqui. Poderia ter feito outras coisas, mas teve fim abrupto, e o que lembramos é da sua grandeza — disse Dennis, certo de que o acidente foi causado por problema na estrutura do carro.
Ao festejar 50 anos, em 2013, a McLaren publicou no site que o brasileiro foi o maior de sua história, com os títulos em 1988, 1990 e 1991, tendo pilotado pela escuderia de 1988 a 1993. Ligado à McLaren, pela qual ganhou, em 1974, seu segundo mundial (o primeiro pela Lotus, em 1972), o ex-piloto brasileiro Emerson Fittipaldi é outro a ter ótimas lembranças do tricampeão:
— Senna é ídolo global, não só do Brasil.
Mito do esporte e da sociedade
Como Fittipaldi observou, Senna influenciou garotos, como Lewis Hamilton, campeão mundial de 2008, ainda pela McLaren. Em 1994, com 9 anos, ao saber da tragédia, chorou. O inglês da Mercedes é reconhecido pela agressividade e pelo capacete amarelo, que lembram o ídolo.
— Eu tinha todos os livros, todos os vídeos... Ele me inspirou a ser piloto — comentou Hamilton. — Ele é uma incrível lenda. Ainda posso aprender como planejava a corrida e como pilotava. E pensar que um dia posso vir a ser reconhecido como alguém capaz de pilotar de forma semelhante.
Ontem, o presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo, disse que Senna, se não tivesse morrido, teria encerrado sua carreira naquela equipe. Também da escuderia italiana, Fernando Alonso, bicampeão em 2005 e 2006, é fã do brasileiro:
— Era o piloto que eu mais gostava, meu ídolo, e será para sempre o melhor do mundo.
Profissionais da Rede Globo, Galvão Bueno e Reginaldo Leme cobrem a F-1 há 40 anos. Leme, que estava em Ímola em 1994, lembra que, após o GP, ele e o operador de áudio, Cláudio Amaral, continuaram na cabine, fazendo flashes sobre a saúde do piloto, enquanto o repórter Roberto Cabrini foi para o hospital, em Bolonha.
— Eram 21h lá quando fomos para o hotel. Nisso, Pedro Bial e o cinegrafista Sérgio Gils chegaram de Londres. De Bolonha, eu e Bial entramos no Fantástico, até 4h lá — relembrou Leme.
Dono da voz que narrou as vitórias de Senna, Galvão Bueno foi um grande amigo do piloto.
— Era incrível, fantástico! Um profissional intenso, detalhista. Eu me sentia genuinamente emocionado com aquelas vitórias, que alegravam os domingos brasileiros. Foram 41 vitórias, 41 vezes chamando o Tema da Vitória. ‘Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil’. Sempre tive a certeza de que ele era um grande ídolo — disse Galvão. — É o melhor de todos. Os outros, por idade: Niki Lauda, Nelson Piquet, Alain Prost e Michael Schumacher.
Senna era admirado no futebol, como recorda Raí, campeão mundial de 1994. A 20 de abril de 1994, no 0 a 0 entre o Brasil e Paris Saint-Germain/Bordeaux, Senna deu o pontapé inicial.
— Apesar da rivalidade com o Prost, estava tranquilo e parecia saber que era idolatrado pela torcida francesa, como é até hoje. É um mito do esporte.
Já Maurício Murad, professor de Sociologia do Esporte da Universidade Salgado de Oliveira, a Universo, explica o amor a Senna:
— A sociedade cria ídolos da música, cinema e esporte. Senna é mais que um piloto vitorioso.
É ícone, herói coletivo e ídolo. A sociedade projeta em alguém os exemplos positivos.
Ao contrário de outros grandes gênios do esporte, Ayrton Senna teve a trajetória interrompida na plenitude da carreira, na batida fatal na Curva Tamburello, em Ímola, no GP de San Marino, há 20 anos. No dia 1º de maio de 1994, a tragédia privou o mundo de saber até onde o piloto poderia ter ido. Mas as dez temporadas na F-1 — três títulos, 41 vitórias, 65 poles e corridas inesquecíveis — lhe garantiram um lugar no olimpo do esporte.
Senna e o austríaco Roland Ratzenberger, que morrera no treino do dia 30 de abril, foram as duas últimas vítimas fatais na F-1. Hoje, há em Ímola um memorial que os homenageia. Para o chefe da McLaren, Ron Dennis, a morte eternizou Senna.
— Ele foi tão bom no período em que esteve neste planeta. Muitos ficam tempo demais no esporte, e mancham sua grandeza. Foi tão inacreditavelmente competitivo e, de repente, já não estava mais aqui. Poderia ter feito outras coisas, mas teve fim abrupto, e o que lembramos é da sua grandeza — disse Dennis, certo de que o acidente foi causado por problema na estrutura do carro.
Ao festejar 50 anos, em 2013, a McLaren publicou no site que o brasileiro foi o maior de sua história, com os títulos em 1988, 1990 e 1991, tendo pilotado pela escuderia de 1988 a 1993. Ligado à McLaren, pela qual ganhou, em 1974, seu segundo mundial (o primeiro pela Lotus, em 1972), o ex-piloto brasileiro Emerson Fittipaldi é outro a ter ótimas lembranças do tricampeão:
— Senna é ídolo global, não só do Brasil.
Mito do esporte e da sociedade
Como Fittipaldi observou, Senna influenciou garotos, como Lewis Hamilton, campeão mundial de 2008, ainda pela McLaren. Em 1994, com 9 anos, ao saber da tragédia, chorou. O inglês da Mercedes é reconhecido pela agressividade e pelo capacete amarelo, que lembram o ídolo.
— Eu tinha todos os livros, todos os vídeos... Ele me inspirou a ser piloto — comentou Hamilton. — Ele é uma incrível lenda. Ainda posso aprender como planejava a corrida e como pilotava. E pensar que um dia posso vir a ser reconhecido como alguém capaz de pilotar de forma semelhante.
Ontem, o presidente da Ferrari, Luca di Montezemolo, disse que Senna, se não tivesse morrido, teria encerrado sua carreira naquela equipe. Também da escuderia italiana, Fernando Alonso, bicampeão em 2005 e 2006, é fã do brasileiro:
— Era o piloto que eu mais gostava, meu ídolo, e será para sempre o melhor do mundo.
Profissionais da Rede Globo, Galvão Bueno e Reginaldo Leme cobrem a F-1 há 40 anos. Leme, que estava em Ímola em 1994, lembra que, após o GP, ele e o operador de áudio, Cláudio Amaral, continuaram na cabine, fazendo flashes sobre a saúde do piloto, enquanto o repórter Roberto Cabrini foi para o hospital, em Bolonha.
— Eram 21h lá quando fomos para o hotel. Nisso, Pedro Bial e o cinegrafista Sérgio Gils chegaram de Londres. De Bolonha, eu e Bial entramos no Fantástico, até 4h lá — relembrou Leme.
Dono da voz que narrou as vitórias de Senna, Galvão Bueno foi um grande amigo do piloto.
— Era incrível, fantástico! Um profissional intenso, detalhista. Eu me sentia genuinamente emocionado com aquelas vitórias, que alegravam os domingos brasileiros. Foram 41 vitórias, 41 vezes chamando o Tema da Vitória. ‘Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil’. Sempre tive a certeza de que ele era um grande ídolo — disse Galvão. — É o melhor de todos. Os outros, por idade: Niki Lauda, Nelson Piquet, Alain Prost e Michael Schumacher.
Senna era admirado no futebol, como recorda Raí, campeão mundial de 1994. A 20 de abril de 1994, no 0 a 0 entre o Brasil e Paris Saint-Germain/Bordeaux, Senna deu o pontapé inicial.
— Apesar da rivalidade com o Prost, estava tranquilo e parecia saber que era idolatrado pela torcida francesa, como é até hoje. É um mito do esporte.
Já Maurício Murad, professor de Sociologia do Esporte da Universidade Salgado de Oliveira, a Universo, explica o amor a Senna:
— A sociedade cria ídolos da música, cinema e esporte. Senna é mais que um piloto vitorioso.
É ícone, herói coletivo e ídolo. A sociedade projeta em alguém os exemplos positivos.
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