Começam novos referendos sobre separatismo no leste da Ucrânia
Donetsk e Luhansk vão às urnas pela independência.
Potências ocidentais dizem que não reconhecerão o resultado.
Mulher
entra em cabine de votação durante realização de referendo sobre
independência em Donetsk, no leste da Ucrânia, neste domingo (11) (Foto:
REUTERS/Baz Ratner )
Os referendos organizados por grupos separatisas pró-Rússia no leste da
Ucrânia, sobre a independência de duas regiões que eles controlam,
começaram na manhã deste domingo (11).Mais de sete milhões de ucranianos foram convocados a votar para decidir o destino das regiões de Donetsk e Lugantsk. Os referendos podem desembocar na separação desta região do país.
A consulta, que pode ter consequências históricas, é considerada ilegal por Kiev e pela comunidade internacional. "[A separação da Ucrânia] seria um passo para o abismo para essas regiões. Aqueles que defendem a autonomia não entendem que isso significaria a destruição total da economia, dos programas sociais e da vida em geral, para a maioria da população nessas regiões”, afirmou o presidente ucraniano em exercício, Aleksander Turchinov, que considera as votações ilegais.
Em março, a Crimeia votou pela independência da Ucrânia e passou a ser governada pelas leis russas, apesar de não ser reconhecida dos organismos internacionais.
Diferentemente do que ocorreu com a Crimeia, as novas consultas populares não têm o poder tornar as regiões autônomas, mas podem iniciar um processo que permitirá a Rússia avançar ainda mais sobre o território da Ucrânia.
Pessoas chegam a colégio eleitoral em Donetsk para votar em referendo separatista neste domingo (11) (Foto: REUTERS/Baz Ratner)
O clima é tenso em Donetsk e Luhansk, que fazem fronteira com a Rússia e
têm a maioria da população de origem russa. O governo de Putin
posicionou tropas perto da fronteira, enquanto a Ucrânia mantém operação
militar na região para conter o movimento.Acusado pela Ucrânia de tentar desmembrar seu território, o presidente russo, Vladimir Putin, pediu que o referendo fosse adiado, e propôs que Kiev interrompesse as ofensivas militares na região, segundo informou a agência France Presse.
Caráter simbólico
Diferentemente do que ocorreu na Crimeia, os referendos não têm caráter oficial. Esses grupos separatistas não representam o poder constituído, o que dá à consulta um mais caráter simbólico do clima pró-Rússia instaurado na região, mas que pode acirrar ainda mais os ânimos. A península agora controlada pela Rússia, por outro lado, já era uma região autônoma que, embora pertencesse à Ucrânia, possui parlamento próprio, que tinha poder para realizar a consulta em que 96,8% da população votou por trocar a Ucrânia pela Rússia. Assim como não ocorre agora, no entanto, a comunidade internacional não reconheceu a legitimidade dessa opção.
A Ucrânia possui 45 milhões de habitantes, dos quais 16% moram em Donetsk e Luhansk, regiões que concentram as atividades mineradora e industrial do país. Próximas às margens do rio Donets, as atividades de extração de ferro e carvão mineral tornam as localidades uma das mais densamente povoadas da Ucrânia.
Nas duas regiões, rebeldes tomaram vários prédios governamentais. Em 6 de abril, os grupos presentes em Donetsk autoproclamaram uma “república popular independente”. "O referendo é o único meio de evitar a escalada da violência e da guerra", declarou o diretor da comissão eleitoral de Donetsk, Roman Liaguin. "Se a resposta ao referendo for 'sim', isto não significa que nossa região vai unir-se à Rússia", afirmou. A organização montou 1,5 mil postos de votação.
Em Luhansk, cerca de mil manifestantes apoiados por 50 homens armados com fuzis e lança-foguetes invadiram a sede do governo em 29 de março, depois de a administração local não ter libertado outros dissidentes pró-Rússia que haviam sido presos.
Novas eleições na Ucrânia foram marcadas para 25 de maio pelo presidente interino Alexander Turchinov, que assumiu após meses de protestos destituírem o presidente Vykton Yanukovich. Durante o conflito, a Rússia aprovou em 1º de março o envio de tropas à Crimeia sob o pretexto de proteger a população russa que vivia na região. A presença das forças armadas do país intensificaram o movimento separatista que culminou no afastamento definitivo de Kiev e na decisão de se anexar à Rússia.
Nesta sexta-feira (9), Putin foi pela primeira vez à região, onde disse que os acontecimentos restaurava uma “verdade histórica”, em discurso a milhares de habitantes de Sebastopol.
Países da comunidade internacional apoiam a votação na Ucrânia e ameaçam a Rússia com novas sanções se julgarem que há interferência no processo eleitoral.
Mulheres
fazem fila para votar em referendo separatista em Donetsk, no leste da
Ucrânia, neste domingo (11) (Foto: REUTERS/Baz Ratner
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