Análise / Mauricio Dias
O poder de fogo do ex-presidente como cabo eleitoral
assusta os adversários na véspera eleitoral. Veremos como se portam seus
candidatos
por Mauricio Dias
—
Heinrich Aikawa/Instituto Lula
Presidente da câmara dos Deputados,
Henrique Eduardo Alves é o candidato favorito ao governo do Rio Grande
do Norte, estado que a família Alves domina há muitos anos e onde o
partido dele, o PMDB, trava nesta eleição um combate por votos com o PT,
do qual o ex-presidente Lula é presidente honorário.
“O PMDB quer um espaço maior na campanha,
saber qual a estratégia da presidenta Dilma nos palanques estaduais e
como será a presença do canhão Lula”, já disse Alves.
O ex-presidente é uma espécie de vice-rei
do Norte-Nordeste, para usar uma referência política dos anos 1930,
quando Getúlio Vargas indicava os governadores, então chamados
presidentes dos estados. Alves não é o único aliado preocupado com os
efeitos da intervenção de Lula no processo eleitoral. No Rio de Janeiro,
o senador petista Lindbergh Farias conta com ele para ganhar o poder no
estado. Note-se que, oficialmente, Dilma apoia Luiz Fernando Pezão, do
PMDB.
Quem estranhar o interesse de Alves e
Lindbergh sobre a presença do ex-presidente nas eleições, confira as
razões. Uma delas, a pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Maurício
de Nassau, em novembro de 2010, tira qualquer dúvida sobre a influência
político-eleitoral de Lula naquela região.
Pergunta do pesquisador: “Qual foi o melhor presidente do Brasil?”
A resposta está inserida no livro Eleições não São para Principiantes – Interpretando eventos eleitorais no Brasil, do cientista político Adriano Oliveira e outros autores, que em poucos dias sairá do forno para as livrarias.
Segundo 89,6% dos eleitores
pernambucanos, o sexto maior colégio eleitoral do País (com mais de 6
milhões de votos), o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva foi o melhor
presidente da história do Brasil. Ele é secundado pelo ex-presidente
FHC, que alcança 1,9% de citações e é seguido por Getúlio Vargas, com
1,0%. De qualquer modo uma surpresa, já que Vargas desapareceu da vida
pública em 1954. Optou pelo suicídio, como se sabe, diante de pressão
extrema da direita liderada então por Carlos Lacerda, da UDN.
Poderia haver
nesta resposta uma contaminação emocional de conterrâneos. Talvez. A
influência de Lula, e do lulismo, é, porém fenômeno pressentido e
estudado pelos acadêmicos. E tudo vai muito além de Pernambuco.
“O bem-estar econômico dos brasileiros
contribuiu – à parte outros fatores (...) − para a avaliação pujante da
administração do presidente Lula e o elevado índice de confiança nele
depositado”, explica Adriano Oliveira.
Ele faz outras considerações: “Embora o survey
tenha sido realizado em um único estado brasileiro, os dados
apresentados lançam hipóteses de como o lulismo se manifesta em outras
regiões do Brasil”.
Quando se considera, no entanto, o poder
de fogo de Lula na campanha eleitoral, Adriano Oliveira pondera que “não
se deve desprezar a ação das circunstâncias políticas e econômicas e o
desempenho eleitoral de diversos atores, uma vez que as consequências
delas podem possibilitar o fortalecimento ou o enfraquecimento do
capital eleitoral do ex-presidente”
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