Sim, o ambiente econômico é grande eleitor, mas é a mídia que se empenha para alimentar o ódio
por Mauricio Dias
—
Tomaz Silva/ Agência Brasil
Um possível clima de ódio, nascido de decisões da presidenta, rejeitadas por parte do empresariado, é refletido na mídia.
Em longo e consistente artigo para a revista trimestral Inteligência,
em circulação na próxima semana, o historiador João Bettencourt e o
jornalista Luiz Cesar Faro tentam decifrar o que identificaram como
“indiscreto ódio da burguesia” à presidenta Dilma Rousseff.
O esforço inédito joga luz forte sobre
esse “desamor” entre as partes. Os articulistas mergulham fundo nas
relações conflitadas entre um lado e o outro e emergem com uma pergunta:
“Tem culpa ela?” A resposta é não, dizem os autores do estudo.
Dilma, segundo eles, “deslulou a
governança”, embora tenha mantido e aprofundado os ganhos sociais
promovidos pelo antecessor. Esta seria a origem, ou uma delas, dessa
desavença. Consideram que a burguesia, preconceituosamente, odiaria
Dilma “devido ao seu intervencionismo, sua inaptidão ao diálogo e,
quiçá, seu simples jeito de ser”.
“A redução na marra das tarifas cobradas
pelo suprimento de energia elétrica é emblemática”, apontam Bettencourt e
Faro, entre tantos outros exemplos recolhidos ao longo da pesquisa
sobre o confronto.
Há, no entanto, fatores que deveriam
contrabalançar eventuais desgostos provocados por decisões monocráticas
da presidenta. Eis um deles que também figura em rol imenso. Dados
recentíssimos da Fipecafi, fundação ligada à Universidade de São Paulo,
por exemplo, mostram que, entre 2012 e 2013, os lucros das 500 maiores
empresas do País cresceram 39,3 bilhões de dólares. Isso traduz alta de
24% em relação ao ano anterior.
Mas a história desse conflito estaria
agora se preparando para desembarcar nas urnas. Dúvida? O ex-ministro
Delfim Netto, em variadas ocasiões, tem reafirmado a certeza “de que o
ambiente econômico é um grande eleitor”. “Delfim não chega a concordar
com a hipótese de um ‘golpe branco pela economia’, mas afirma que o
humor da burguesia conta, sim, nas eleições”, dizem os autores.
Como isso se dá?
De acordo com Delfim, forma-se “um clima de hostilidade, um ambiente de
negócios que o governo se esforça em negar, mas que existe e que
influiu de forma importante para a redução nos investimentos e agora
impacta também o consumo”.
Bettencourt e Faro se remetem a uma frase de Lula: “O mau humor do empresariado não está deixando a economia andar”.
Impulsionaria esse mau humor um projetado
confronto eleitoral: “Se o PT tem a sua militância e o voto da inclusão
social, a burguesia tem o controle absoluto da mídia”, deduzem os
analistas. E apontam:
“A cólera burguesa é mais visível
estampada nas bancas de jornal e vocalizada nos programas de tevê. Em
jornais e revistas analisados nos últimos 573 dias, somente 9% do
noticiário econômico foi favorável, mesmo assim ligeiramente, ao governo
Dilma – nessa contabilidade não foram levados em consideração os
artigos do corpo editorial ou de articulistas convidados”.
Para João Bettencourt e Luiz Cesar Faro não há dúvidas:
“A mídia comprou um lado e está sitiando, sim, a presidenta, o PT e o
seu entorno. E é no cerne da imprensa que o ódio viceja; porque, se por
um lado não são reconhecidos avanços, por outro são exacerbadas as
críticas. O oligopólio da mídia não gosta de Dilma, e ponto final”.
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