7.03.2011

Neurocientista comprova que o amor é cego

No recém-lançado "Sobre Neurônios, Cérebros e Pessoas" (Atheneu), o médico e neurocientista carioca Roberto Lent, 62, fala sobre descobertas da neurociência em uma língua que todo mundo entende. Nesta entrevista  ele explica como a desativação de certas partes do cérebro comprovam que o amor é cego e o ser apaixonado, louco.
  O que é o amor do ponto de vista da neurociência?
Roberto Lent - É uma invasão de dopamina que ativa os centros de recompensa do cérebro e produz prazer.
Então age como uma droga?
O mecanismo [no cérebro] é parecido, mas não é igual.
Qual a diferença?
Para cada tipo de prazer, as reações corporais e mentais são diferentes em quantidade e em qualidade.
Quais são as reações ativadas pelo amor?
Do arrepio ao orgasmo, passando pelos intermediários. Você pode corar, suar, ofegar, o coração bate mais rápido. E você exerce os comportamentos de cortejar, se exibe para a pessoa amada.
Essas reações também acontecem quando você está com medo. Significa que ativamos os mesmos circuitos do amor?
Não sabemos com precisão, mas, como são muitas combinações [de circuitos cerebrais], um certo arranjo significa amor, outro medo. Segundo o pesquisador português Antônio Damásio, cada emoção tem uma combinação do que ele chama de marcadores somáticos. Quando você tem de novo a exata combinação, produz o mesmo sentimento. No caso do amor, fica marcada em seu cérebro uma combinação de circuitos e reações que é ativada quando você encontra a pessoa amada, vê uma foto dela ou apenas pensa nela.
É possível saber qual é essa combinação do amor?
Com estudos usando ressonância magnética funcional, que mostra imagens do cérebro em atividade, conseguimos fazer uma espécie de mapa de regiões que são ativadas em situações relacionadas ao amor.
Qual é o mapa da mina?
As principais regiões ativadas são a ínsula e o núcleo acumbente. Mas a grande descoberta foi que, ao mesmo tempo em que há ativação dessas regiões, outras áreas são desativadas no lobo frontal do cérebro.
As regiões frontais são associadas ao raciocínio, à busca das ações mais adequadas. Desativar essas regiões significa perder o controle. Na paixão, a pessoa deixa de levar em conta certas contingências sociais e faz coisas meio malucas. A expressão "o amor é cego" reflete a percepção dessa desativação do lobo frontal descoberta pela ciência.

Editoria de Arte/Folhapress
As condições culturais podem modificar esses circuitos?
Não creio. Os circuitos são os mesmos, mas as regras mudam. Mas não temos resposta para isso.
Há diferença entre os circuitos do amor e do desejo sexual?
Cada pergunta difícil que você faz... Existe uma sobreposição entre o mapa cerebral da paixão e o do sexo. Mas, como nossa experiência diz que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, certamente existem diferenças entre esses dois mapas.
Somos programados para amar?
Sem dúvida. Animais são programados para reproduzir, mas não podemos dizer que se amam. No nosso caso, há um ingrediente a mais, que é a experiência subjetiva. A função do amor é aproximar pessoas, inclusive aproximações improváveis: como o amor é cego, você pode amar pessoas que normalmente são rejeitadas por outros. Sempre haverá um certo alguém para outro alguém. Sim, significa que mais pessoas vão se juntar. Já pensou se só se aproximassem entre si pessoas loiras de olhos azuis? Seria desfavorável e desagradável para a espécie.
FOLHA

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