11.06.2013

Um quarto da população brasileira é hipertensa

O consumo em excesso de sódio é uma das principais causas da hipertensão arterial O consumo em excesso de sódio é uma das principais causas da hipertensão arterial 

BRASÍLIA - A hipertensão atinge hoje 24,3% dos brasileiros, índice maior do que o de 2006, quando era de 22,5%, segundo pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2012. O Rio de Janeiro, por sinal, é a capital com maior número de hipertensos: 29,7% da população. Os dados foram divulgados nesta terça-feira em Brasília pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que assinou, junto com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), Edmundo Klotz, um acordo para a redução do sódio nos alimentos industrializados.
O novo acordo prevê a redução do teor de sal em laticínios, embutidos e refeições prontas em até 68% ao longo dos próximos quatro anos. Este é o quarto acordo assinado pelo governo federal e pela Abia para a redução de sódio dos alimentos. Em agosto do ano passado, a meta era reduzir 8,7 mil toneladas da substância de temperos, caldos, cereais matinais e margarinas vegetais, como parte do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis.
O brasileiro consome em média 12 gramas de sal por dia, o dobro do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e este excesso de ingestão é um dos principais desencadeadores da hipertensão.
Apesar do aumento da incidência da doença, o Ministério da Saúde informou que o número de pessoas que precisaram ser internada na rede pública de saúde em decorrência da hipertensão diminuiu. Foram 154.919 internações em 2010, 136.633 em 2011 e 115.748 em 2012. A taxa de pessoas internadas para 100 mil habitantes caiu de 95,04 em 2002 para 59,67 em 2012. Segundo o ministério, a queda se deveu a um maior acesso aos medicamentos necessários para controlar a doença.
A hipertensão atinge mais as mulheres (26,9%) que os homens (21,3%). Os mais velhos também sofrem mais com a doença: 59,2% dos idosos com mais de 65 anos são hipertensos, índice que cai para 3,8% nos jovens entre 18 e 24 anos. Quanto menor a escolaridade, maior a incidência da hipertensão: 37,8% entre aqueles com até oito anos de estudo, contra 14,2% entre os que têm 12 anos ou mais de estudo. Hoje metade da população com 59 anos ou mais tem hipertensão arterial. Este índice sobe para quase 60% em pessoas com 65 anos ou mais.
- A capital com maior taxa é o Rio de Janeiro, que tem uma grande população de idosos - explicou a diretora do Departamento de Análise de Situação de Saúde, Deborah Malta.
Na outra ponta está Palmas: 17,2%. O Vigitel mostrou também que, entre 2000 e 2011, a taxa de mortes provocadas por doenças cardiovasculares caiu de 263,73 para 188,87 por grupo de 100 mil habitantes.
Redução em embutidos
O novo acordo - cuja adesão é voluntária - firmado com a indústria alimentícia vai levar à redução de sódio em embutidos (empanados, hambúrgueres, três tipos de linguiça, dois tipos de mortadela, salsicha e presuntaria), laticínios (muçarela e requeijão cremoso), e refeições prontas (sopas). O acordo prevê exames laboratoriais de produtos coletados no mercado para atestar seu cumprimento.
São 16 agora o número de categorias de alimentos atingidas pela medida. Segundo o Ministério da Saúde, desde 2011, os acordos anteriores permitiram retirar 11,3 toneladas de sódio dos alimentos. A meta agora é retirar 28 mil toneladas de sódio dos alimentos industrializados até 2020.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que nem sempre as pessoas têm controle sobre o teor de sal dos alimentos que comem, lembrando que muitas de suas refeições são feitas fora de casa. Destacou ainda que não é possível impor um comportamento à toda a população brasileira, de aproximadamente 200 milhões de pessoas.
- Eu como ovo sem sal desde os dez anos. Mas eu sei que nem todos fazem isso. Não podemos pensar que vamos impor hábitos alimentares a partir de nosso comportamento. Somos 200 milhões de pessoas - disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para justificar a adoção de medidas que levem à redução do consumo de sal.
- Tudo é possível quando se tem vontade de fazer - afirmou o presidente da Abia, Edmundo Klotz.
Além de dar sabor aos alimentos, o sódio também é usado como conservante. A última Pesquisa do Orçamento Família (POF), feira pelo IBGE, revelou que o brasileiro consome em média 12 gramas de sódio, 2,4 vezes os 5 gramas recomendados pela OMS. Segundo o Ministério da Saúde, a redução do consumo de sódio ao nível ideal levaria a 10% menos mortes por infarto e 15% menos por acidente vascular cerebral (AVC). Haveria também um ganho de quatro anos na expectativa de vida dos hipertensos.
Aumento de consumo de industrializados
Pesquisa da Abia divulgada em julho deste ano mostra que a participação da indústria de alimentos no consumo de sódio no Brasil é de 23,8%. O alto índice de ingestão de sódio se devia principalmente ao sal de cozinha. Questionado se, diante de um percentual baixo, a redução no teor de sal desse alimentos teria pouco impacto, Alexandre Padilha disse que a pesquisa usou dados de 2008 e 2009. De lá para cá, disse ele, aumentou muito o consumo de alimentos industrializados.
- Esses dados não retratam a realidade de ingestão de alimentos da população brasileira hoje. São dados coletados em 2008, publicados depois disso. De lá para cá, tivemos uma forte expansão do consumo de produtos industrializados no nosso país, em função da formalização do mercado de trabalho, da expansão do consumo das classes D e E, do fortalecimento da classe C - disse Padilha, acrescentando que há outras ações sendo desenvolvidas pelo ministério, como a de reedução alimentar.
Em quatro anos, o alimento com meta mai ambiciosa de redução de sódio é o queijo muçarela: 68%. O que tem a menor meta é a mortadela mantida a temperatura ambiente: redução de 16% em quatro anos. Em relação aos acordos anteriores firmados em 2011, a coleta de amostras para atestar a diminuição de sódio nos alimentos está sendo feita desde o início deste ano. Para 2014, deverá haver um acordo para redução do açúcar nos alimentos. Há ainda o objetivo de, posteriormente, diminuir o teor de gorduras totais e saturadas.

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