Riscos dos derrames silenciosos
Os acidentes vasculares cerebrais silenciosos são mais comuns do que se imagina e podem, com o tempo, arruinar a saúde mental
Diogo Sponchiato - Edição: MdeMulher
Derrames silenciosos provocam lesões que podem causar demência vascular
Foto:Getty Images
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Um levantamento da Canadian Stroke Network, rede canadense de vigilância do acidente vascular cerebral, acusa que um quarto das pessoas saudáveis acima de 70 anos apresenta, sem se dar conta, danos propiciados por derrames silenciosos. "São entupimentos de pequenas artérias que, a princípio, não causam sintomas nem afetam um grande território da massa cinzenta", explica o neurocirurgião Fernando Campos Gomes Pinto, do Hospital das Clínicas de São Paulo. "No entanto, a somatória desses eventos pode gerar sequelas irreversíveis e levar à demência", alerta. Para se proteger deles, controle a pressão, o colesterol e o açúcar no sangue, faça atividade física e siga uma dieta balanceada.
O AVC silencioso
Ele é fruto de uma obstrução em uma pequena artéria cerebral, o que acaba matando neurônios. O problema é que, somadas, essas lesões estão por trás da demência vascular, o segundo tipo mais comum de declínio cognitivo.
O perigo dos derrames silenciosos
Na calada do cérebroÉ assim, sem dar pistas nem deixar sequelas, que ocorre um derrame silencioso. Mas atenção: ele é muito mais comum do que se imagina e pode, com o tempo, comprometer a agilidade mental por DIOGO SPONCHIATO
design THIAGO LYRA
ilustração PEDRO LUCENA
A
ameaça não avisa que está chegando e passa despercebida pelo dono da
cabeça em apuros. Na surdina, uma artéria minúscula é obstruída e para
de irrigar um grupo de neurônios, que, sem combustível, sucumbe. A
princípio, o indivíduo nem se dá conta de um derrame que, como a falta
de sintomas indica, é silencioso. Mesmo assim, ninguém deve julgar seu
estrago inofensivo. Aos poucos, esse tipo de acidente vascular cerebral
(AVC), como os médicos denominam o problema, semeia a discórdia no
cérebro, podando funções cognitivas como o raciocínio.
"Ele é de cinco a dez vezes mais frequente que os derrames que apresentam sinais e sequelas na hora", chama a atenção o neurologista Vladimir Hachinski, editor-chefe da revista científica Stroke, da Associação Americana de Derrames, que, agora, joga os holofotes sobre a versão silenciosa do mal para alertar a população e os profissionais de saúde a respeito desse perigo — mensagem que, sem dúvida, também é válida para o Brasil.
"Os AVCs silenciosos costumam ser desprovidos de sintomas porque não atingem regiões estratégicas do cérebro", esclarece o neurologista Alexandre Pieri, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. "As áreas danificadas não estão envolvidas com as funções sensorial e motora", completa seu colega Cícero Galli Coimbra, da Universidade Federal de São Paulo. Com o tempo, porém, as lesões podem se multiplicar. Ocorre uma aqui, outra acolá, e assim por diante. "Daí, com o passar dos anos, parte do cérebro fica parecida com um queijo suíço", compara Coimbra.
O que, afinal, faz florescer esse fenômeno lento e progressivo? "A pressão alta, o diabete, o colesterol elevado, o abuso do álcool e o tabagismo", dá Pieri a lista dos vilões. O próprio envelhecimento tem lá sua culpa. "Um estudo americano aponta que um em cada dez idosos já sofreu um AVC silencioso", conta o neurologista Jefferson Fernandes, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. No fundo, são os mesmos fatores que plantam um derrame avassalador. "Além disso, muitas vezes os próprios episódios silenciosos recorrentes predizem um AVC mais grave", lembra Pieri.
Para Hachinski, o problema não é tão sigiloso quanto parece ser. "Ele pode alterar a capacidade de o indivíduo se concentrar e se organizar", diz. Dessa forma, uma avaliação minuciosa com o neurologista abriria o caminho para surpreendê-los. O dilema é que, muito antes de haver uma devastação nos neurônios, o paciente não nota nem se queixa de nada — e a doença acaba passando despercebida até pelo médico. "Às vezes o diagnóstico é feito por acaso. O indivíduo tem uma dor de cabeça não relacionada ao problema e, na hora de realizar um exame de imagem, descobrem- se as lesões", relata Fernandes.
"Ele é de cinco a dez vezes mais frequente que os derrames que apresentam sinais e sequelas na hora", chama a atenção o neurologista Vladimir Hachinski, editor-chefe da revista científica Stroke, da Associação Americana de Derrames, que, agora, joga os holofotes sobre a versão silenciosa do mal para alertar a população e os profissionais de saúde a respeito desse perigo — mensagem que, sem dúvida, também é válida para o Brasil.
"Os AVCs silenciosos costumam ser desprovidos de sintomas porque não atingem regiões estratégicas do cérebro", esclarece o neurologista Alexandre Pieri, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. "As áreas danificadas não estão envolvidas com as funções sensorial e motora", completa seu colega Cícero Galli Coimbra, da Universidade Federal de São Paulo. Com o tempo, porém, as lesões podem se multiplicar. Ocorre uma aqui, outra acolá, e assim por diante. "Daí, com o passar dos anos, parte do cérebro fica parecida com um queijo suíço", compara Coimbra.
O que, afinal, faz florescer esse fenômeno lento e progressivo? "A pressão alta, o diabete, o colesterol elevado, o abuso do álcool e o tabagismo", dá Pieri a lista dos vilões. O próprio envelhecimento tem lá sua culpa. "Um estudo americano aponta que um em cada dez idosos já sofreu um AVC silencioso", conta o neurologista Jefferson Fernandes, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. No fundo, são os mesmos fatores que plantam um derrame avassalador. "Além disso, muitas vezes os próprios episódios silenciosos recorrentes predizem um AVC mais grave", lembra Pieri.
Para Hachinski, o problema não é tão sigiloso quanto parece ser. "Ele pode alterar a capacidade de o indivíduo se concentrar e se organizar", diz. Dessa forma, uma avaliação minuciosa com o neurologista abriria o caminho para surpreendê-los. O dilema é que, muito antes de haver uma devastação nos neurônios, o paciente não nota nem se queixa de nada — e a doença acaba passando despercebida até pelo médico. "Às vezes o diagnóstico é feito por acaso. O indivíduo tem uma dor de cabeça não relacionada ao problema e, na hora de realizar um exame de imagem, descobrem- se as lesões", relata Fernandes.
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