Primeiro o bom-humor de Luis Fernando Verissimo, depois a poesia de Carlos Drummond de Andrade, por fim um público satisfeito com a abertura da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Com um dia ensolarado e quente como pouco se viu nesses dez anos de Flip, o evento teve início com um bom público circulando pelas ruas da cidade, e com a plateia completamente lotada para sua conferência de abertura, realizada em trio por Verissimo, dando o pontapé inicial do evento, e Silviano Santiago e Antonio Cicero, esses traduzindo em prosa oral aspectos dos poemas de Drummond.
Como grande homenageado da festa, o poeta mineiro, que completaria 110 anos em outubro, esteve presente por toda a Flip, seja nas referências diretas – inclusive uma réplica de sua estátua da Praia de Copacabana posta em frente à casa de sua editora, a Companhia das Letras –, seja na inspiração dos conferencistas. A abertura oficial teve um atraso de quase vinte minutos para que todos se acomodassem, mas a espera foi recompensada pelas palavras graciosas de Verissimo, convidado para celebrar uma década de Flip. Apresentado pelo curador, Miguel Conde, o escritor gaúcho lembrou de uma gafe sua cometida há quatro anos, quando esteve ao lado do britânico Tom Stoppard numa mesa da festa.
– Minha primeira fala foi que era um prazer estar aqui de novo, na “Clip” – disse Verissimo, brincando que aquele “C” poderia se referir a conspiração, conversa noites adentro, cacofonia ou celebração. – É a celebração do livro, da literatura, esse território livre onde o espírito humano se expande.
Em seguida, coube a Santiago e Cicero abrir as homenagens a Drummond. O primeiro traçou um paralelo da obra poética de seu conterrâneo mineiro aos acontecimentos do século XX, o qual ele chamou de “irmão mais velho” de Drummond.
– Ao ler seus livros reunidos, temos por um lado textos que descobrem um processo de decadência, e por outro poemas que traduzem esperança. Esses dois lados de força se afirmam ou se negam, combinam-se, ocasionando a principal tensão dramática da poesia de Drummond – disse Santiago.
Já o carioca Cicero tratou apenas de um poema de Drummond, “A flor e a náusea”, aquele em que o poeta escreveu “Em vão me tento explicar, os muros são surdos”.
– O ser humano, neste poema do Drummond, torna-se uma coisa, um objeto ou uma vítima. Os seres humanos se comportam como coisas, e as coisas se comportam como seres humanos – explicou Cicero. – antes de encerrar lendo outro poema do homenageado, “Campos esponjosos”.
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