anti-inflamatórios x antibióticos
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINE) são uma das classes de
medicamentos mais usadas no mundo. Existem mais de 20 drogas diferentes,
sendo as mais famosas:
- AAS (ácido acetilsalicílico)
- Diclofenaco
- Ibuprofeno
- Naproxeno
- Indometacina
- Cetoprofeno
- Acido mefenâmico
- Piroxican
- Colecoxib
São drogas que apresentam mecanismos de ação semelhantes, mas com
particularidades entre elas. Todos os anti-inflamatórios apresentam 3
efeitos básicos: Antipirético (abaixa a febre), analgésico (reduz a dor)
e anti-inflamatório. As diferenças costumam ser na potência de cada uma
das 3 ações e nos efeitos colaterais, alguns indesejáveis, outros úteis
em algumas patologias não inflamatórias.
Anti-inflamatórios |
Os AINES agem inibindo uma enzima chamada ciclooxigenase que produz
outra chamada prostaglandina. São essas as substâncias responsáveis pela
inflamação e dor. Porém, existem mais de um tipo de prostaglandina e
ciclooxigenase, apresentando outras funções além de mediar processo
inflamatórios. Como a inibição realizada pelos anti-inflamatórios é não
seletiva, além de abortar a inflamação, ocorre também uma alteração nos
efeitos benéficos dessas substâncias.
As prostaglandinas são responsáveis pelos seguintes efeitos no organismo:
- Proteção do estômago contra ácidos produzidos no seu interior = Quando as prostaglandinas são inibidas, aumenta-se o risco de formação de gastrite e úlceras. Leia: (GASTRITE E ÚLCERA GÁSTRICA)
Uma das principais causas de hemorragia digestiva é uso indiscriminado de AINES.
O Colecoxib é de uma classe chamada inibidores da COX2 que não afeta as
prostaglandinas do estômago e por isso causam menos lesões gástricas.
- Fluxo de sangue no rins = Pessoas normais conseguem tolerar
essas alterações, mas pacientes com problemas renais dependem muito das
prostaglandinas para função dos rins, e sua inibição pode levar a um
quadro de insuficiência renal aguda. Não existe nenhum
anti-inflamatório que não piore a função renal em pacientes com
insuficiência renal. São todos contra-indicados neste caso.
- Coagulação sanguínea = Todos os AINES atuam nas plaquetas,
diminuindo sua atividade. O AAS é a substância que mais inibe a função
das plaquetas. Esse efeito colateral é frequentemente aproveitado em
doentes com risco de infarto e AVE.
É o que os leigos chamam de "afinar o sangue". Neste caso, o efeito
colateral é benéfico. Mas essa inibição das plaquetas e da coagulação
pode ser perigosa em doentes que se submeterão a cirurgias ou que
apresentem algum traumatismo. Deve-se sempre suspender o AAS 7 dias
antes das operações.
Os AINES são drogas seguras se administradas com indicação médica. O
problema é que esta talvez seja a classe de drogas mais auto-prescrita
pela população. Existem inúmeros efeitos colaterais e interações com
outros medicamentos que devem ser levados em conta antes de tomá-los.
Além dos efeitos já descritos acima, também podem ocorrer:
- Piora da hipertensão (leia: SINTOMAS E TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO )
- Inibição da ação dos diuréticos (leia:PARA QUE SERVEM OS DIURÉTICOS ? )
- Piora da insuficiência cardíaca (leia: INSUFICIÊNCIA CARDÍACA - CAUSAS E SINTOMAS)
- Piora da função renal em pacientes com doença avançada de fígado
- Síndrome nefrótica (leia: PROTEINÚRIA, URINA ESPUMOSA E SÍNDROME NEFRÓTICA)
- Hepatite medicamentosa (leia: AS DIFERENÇAS ENTRE AS HEPATITES )
- Interação com Varfarina (leia: INTERAÇÕES COM A VARFARINA )
- Reação alérgica
- Perda de audição nos idosos (leia: SURDEZ | Deficiência auditiva no idoso).
Portanto, apesar de ser uma droga muito usada e segura, ela está longe
de não apresentar complicações. Seu uso sem critérios pode levar a
consequências graves.
Um dos mais famosos casos de pressão da indústria farmacêutica na
aprovação de drogas aconteceu sobre os inibidores da COX2. Não havia
estudos suficientes sobre efeitos colaterais e há suspeitas de ocultação
de dados. Após ser lançada com grande repercussão pela pouca toxicidade
gástrica, o Rofecoxib (VIOXX) foi retirado do mercado quando um estudo
que tentava provar seu benefício no câncer de cólon, mostrou um aumento
de infartos e AVCs nos pacientes que estavam tomando esta droga.
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InícioLeia o texto original no site MD.Saúde: ANTI-INFLAMATÓRIOS | Ação e efeitos colaterais http://www.mdsaude.com/2008/11/antiinflamatrios.html#ixzz1zqhsqqoP
Um comentário:
O uso de anti-inflamatórios e o impacto no coração
Recentemente foi divulgado um estudo publicado no British Medical Journal indicando que o uso de anti-inflamatórios não esteroides, como o diclofenaco e o ibuprofeno, pode aumentar em até três vezes os riscos de problemas cardíacos em idosos. Levantou-se a discussão sobre a restrição da venda livre desses medicamentos utilizados para reduzir a dor e inflamação, principalmente nos pacientes com osteoartrite.
Há tempos sabe-se que os anti-inflamatórios, especialmente se utilizados por períodos longos, podem elevar os níveis da pressão arterial, desencadear ou agravar insuficiência cardíaca, prejudicar o funcionamento dos rins, provocar ou piorar distúrbios gástricos importantes. Além disso, eles podem influir sobre o efeito de outros medicamentos, como os anticoagulantes, por exemplo. Todos se lembram da retirada do mercado de anti-inflamatórios que aumentavam o risco de infarto do miocárdio, não?
A novidade do estudo, segundo os próprios autores, foi a demonstração de que os pacientes com osteoartrite têm uma mortalidade maior em comparação à população em geral. Os grandes fatores de risco associados ao aumento da mortalidade nestes pacientes são deficiência para caminhar, história de câncer, diabetes e doenças cardiovasculares; a combinação osteoartrite e deficiência para caminhar estão como um dos maiores riscos de morte, em função de problemas cardiovasculares e, por isso, nestes pacientes o tratamento dos fatores de risco cardiovascular deve ser muito rigoroso.
A discussão sobre a venda livre dos anti-inflamatórios merece considerações mais amplas. Muitos remédios com venda livre, sem qualquer controle, podem ser prejudiciais. Por exemplo, há uma crença de que os "produtos naturais", "extraídos de ervas", não fazem mal. Uma revisão recente, publicada no Journal of the American College of Cardiology, chamou a atenção para os malefícios que os remédios "naturais "podem causar em pacientes com doença cardiovascular e pede maior controle sobre a comercialização desses produtos.
A automedicação é, sem dúvida, um problema de resolução complexa. Cabe ao farmacêutico orientar os pacientes quanto aos riscos relacionados a qualquer tratamento. Cabe ao médico conhecer os possíveis efeitos indesejáveis relacionados aos medicamentos que prescreve.
Fonte: Dr. Mauricio Wajngarten, cardiologista
Postado por Antonio Celso da Costa Brandão às 10:28 AM
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