7.06.2012

USO INDISCRIMINADO DE ANTI-INFLAMATÓRIOS (EFEITOS COLATERAIS)

 anti-inflamatórios x antibióticos
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINE) são uma das classes de medicamentos mais usadas no mundo. Existem mais de 20 drogas diferentes, sendo as mais famosas:

- AAS (ácido acetilsalicílico)
- Diclofenaco
- Ibuprofeno
- Naproxeno
- Indometacina
- Cetoprofeno
- Acido mefenâmico
- Piroxican
- Colecoxib

São drogas que apresentam mecanismos de ação semelhantes, mas com particularidades entre elas. Todos os anti-inflamatórios apresentam 3 efeitos básicos: Antipirético (abaixa a febre), analgésico (reduz a dor) e anti-inflamatório. As diferenças costumam ser na potência de cada uma das 3 ações e nos efeitos colaterais, alguns indesejáveis, outros úteis em algumas patologias não inflamatórias.
Anti-inflamatórios
Anti-inflamatórios

Os AINES agem inibindo uma enzima chamada ciclooxigenase que produz outra chamada prostaglandina. São essas as substâncias responsáveis pela inflamação e dor. Porém, existem mais de um tipo de prostaglandina e ciclooxigenase, apresentando outras funções além de mediar processo inflamatórios. Como a inibição realizada pelos anti-inflamatórios é não seletiva, além de abortar a inflamação, ocorre também uma alteração nos efeitos benéficos dessas substâncias.

As prostaglandinas são responsáveis pelos seguintes efeitos no organismo:

- Proteção do estômago contra ácidos produzidos no seu interior = Quando as prostaglandinas são inibidas, aumenta-se o risco de formação de gastrite e úlceras. Leia: (GASTRITE E ÚLCERA GÁSTRICA)

Uma das principais causas de hemorragia digestiva é uso indiscriminado de AINES. O Colecoxib é de uma classe chamada inibidores da COX2 que não afeta as prostaglandinas do estômago e por isso causam menos lesões gástricas.

- Fluxo de sangue no rins = Pessoas normais conseguem tolerar essas alterações, mas pacientes com problemas renais dependem muito das prostaglandinas para função dos rins, e sua inibição pode levar a um quadro de insuficiência renal aguda. Não existe nenhum anti-inflamatório que não piore a função renal em pacientes com insuficiência renal. São todos contra-indicados neste caso.

- Coagulação sanguínea = Todos os AINES atuam nas plaquetas, diminuindo sua atividade. O AAS é a substância que mais inibe a função das plaquetas. Esse efeito colateral é frequentemente aproveitado em doentes com risco de infarto e AVE. É o que os leigos chamam de "afinar o sangue". Neste caso, o efeito colateral é benéfico. Mas essa inibição das plaquetas e da coagulação pode ser perigosa em doentes que se submeterão a cirurgias ou que apresentem algum traumatismo. Deve-se sempre suspender o AAS 7 dias antes das operações.

Os AINES são drogas seguras se administradas com indicação médica. O problema é que esta talvez seja a classe de drogas mais auto-prescrita pela população. Existem inúmeros efeitos colaterais e interações com outros medicamentos que devem ser levados em conta antes de tomá-los.

Além dos efeitos já descritos acima, também podem ocorrer:

- Piora da hipertensão (leia: SINTOMAS E TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO )
- Inibição da ação dos diuréticos (leia:PARA QUE SERVEM OS DIURÉTICOS ? )
- Piora da insuficiência cardíaca (leia: INSUFICIÊNCIA CARDÍACA - CAUSAS E SINTOMAS)
- Piora da função renal em pacientes com doença avançada de fígado
- Hepatite medicamentosa (leia: AS DIFERENÇAS ENTRE AS HEPATITES )
- Interação com Varfarina (leia: INTERAÇÕES COM A VARFARINA )
- Reação alérgica
- Perda de audição nos idosos (leia: SURDEZ | Deficiência auditiva no idoso).

Portanto, apesar de ser uma droga muito usada e segura, ela está longe de não apresentar complicações. Seu uso sem critérios pode levar a consequências graves.

Um dos mais famosos casos de pressão da indústria farmacêutica na aprovação de drogas aconteceu sobre os inibidores da COX2. Não havia estudos suficientes sobre efeitos colaterais e há suspeitas de ocultação de dados. Após ser lançada com grande repercussão pela pouca toxicidade gástrica, o Rofecoxib (VIOXX) foi retirado do mercado quando um estudo que tentava provar seu benefício no câncer de cólon, mostrou um aumento de infartos e AVCs nos pacientes que estavam tomando esta droga.





Um comentário:

Antonio Celso da Costa Brandão disse...

O uso de anti-inflamatórios e o impacto no coração
Recentemente foi divulgado um estudo publicado no British Medical Journal indicando que o uso de anti-inflamatórios não esteroides, como o diclofenaco e o ibuprofeno, pode aumentar em até três vezes os riscos de problemas cardíacos em idosos. Levantou-se a discussão sobre a restrição da venda livre desses medicamentos utilizados para reduzir a dor e inflamação, principalmente nos pacientes com osteoartrite.

Há tempos sabe-se que os anti-inflamatórios, especialmente se utilizados por períodos longos, podem elevar os níveis da pressão arterial, desencadear ou agravar insuficiência cardíaca, prejudicar o funcionamento dos rins, provocar ou piorar distúrbios gástricos importantes. Além disso, eles podem influir sobre o efeito de outros medicamentos, como os anticoagulantes, por exemplo. Todos se lembram da retirada do mercado de anti-inflamatórios que aumentavam o risco de infarto do miocárdio, não?

A novidade do estudo, segundo os próprios autores, foi a demonstração de que os pacientes com osteoartrite têm uma mortalidade maior em comparação à população em geral. Os grandes fatores de risco associados ao aumento da mortalidade nestes pacientes são deficiência para caminhar, história de câncer, diabetes e doenças cardiovasculares; a combinação osteoartrite e deficiência para caminhar estão como um dos maiores riscos de morte, em função de problemas cardiovasculares e, por isso, nestes pacientes o tratamento dos fatores de risco cardiovascular deve ser muito rigoroso.
A discussão sobre a venda livre dos anti-inflamatórios merece considerações mais amplas. Muitos remédios com venda livre, sem qualquer controle, podem ser prejudiciais. Por exemplo, há uma crença de que os "produtos naturais", "extraídos de ervas", não fazem mal. Uma revisão recente, publicada no Journal of the American College of Cardiology, chamou a atenção para os malefícios que os remédios "naturais "podem causar em pacientes com doença cardiovascular e pede maior controle sobre a comercialização desses produtos.

A automedicação é, sem dúvida, um problema de resolução complexa. Cabe ao farmacêutico orientar os pacientes quanto aos riscos relacionados a qualquer tratamento. Cabe ao médico conhecer os possíveis efeitos indesejáveis relacionados aos medicamentos que prescreve.
Fonte: Dr. Mauricio Wajngarten, cardiologista

Postado por Antonio Celso da Costa Brandão às 10:28 AM