Além de sessões de terapia para tratar a relação com a alimentação, Andrea Frige foi hipnotizada para ficar com a sensação de ter um balão ocupando parte do estômago
A hipnoterapeuta explica que durante o
transe hipnótico, o cérebro entende o que está sendo sugerido como
real. “É parecido com um sonho. Muitos choram, transpiram e o coração
acelera enquanto estão sonhando. As sensações são muito semelhantes”,
explica.
Porém, Vânia ressalta que só é possível obter
emagrecimento por meio da hipnose quando a técnica é associada a sessões
de terapia cognitiva comportamental, pois é lá que o paciente vai ser
auxiliado a buscar alternativas para mudar a relação com a comida.
“Associamos o tempo todo comida com emoção. É preciso desassociar a
ideia de comer porque está triste, feliz ou ansioso. Quando a pessoa
termina de comer, o problema está ali, igualzinho”, explica.Nestes casos, a hipnose tem o objetivo de ajudar o paciente a resistir a tentações específicas, como sorvetes, batatinhas ou bolos ingeridos compulsivamente. Outra aplicação mais avançada da hipnose, segundo Vera, é para que o paciente acredite que existe um balão intragástrico dentro do estômago. “O balão real preenche o estômago e a pessoa não consegue mais comer muito. Este, porém, é imaginário, ‘inserido’ por meio da hipnose”, explica.
Hábitos saudáveis e balão imaginário
A artesã Andrea Frige sempre teve problemas para emagrecer e afirma que conseguiu reduzir o tamanho do prato depois de passar por uma sessão hipnótica que simulava a introdução de um balão dentro do estômago.
“Na hora que entrei no transe hipnótico, foi uma coisa muito natural. Meu corpo todo relaxou e eu não me assustei, nem fiquei com medo. Depois que começamos a técnica, vi que era muito mais simples do que imaginava”, diz Andrea.
Andrea conta que antes do dia que foi hipnotizada e o balão imaginário foi ‘inserido’ no estômago, ela já vinha seguindo algumas ‘lições de casa’, motivadas pela terapia cognitiva comportamental. Elas consistiam em seguir a rotina de comer de três em três horas e incorporar hábitos saudáveis no cotidiano, como a prática de atividade física.
No dia da “operação” de Andrea, Vânia preparou o consultório como se fosse um centro cirúrgico e colocou um CD que simulava sons de uma cirurgia. “Fiquei deitada na maca e ela dizia que o médico estava entrando, que os enfermeiros estavam ali e que eu estava tomando a anestesia. No momento do anestésico, ela colocou o dedo na parte interna do meu cotovelo e pressionou. Depois disso, ela disse que eu estava sentindo a anestesia entrar no corpo”, conta Andrea.
Para Andrea, este foi o momento mais surpreendente da “operação”, pois, embora nunca tenha tomado uma anestesia na vida, conseguiu imaginar o caminho do líquido pelo corpo. “É engraçado porque, embora eu tivesse plena consciência de que tudo aquilo que estava acontecendo não passava de uma simulação. Não senti a picada da agulha, mas senti a aflição que a picada me provoca. Eu senti o meu corpo começar a formigar, como se a anestesia estivesse fazendo efeito”, explica.
Depois da simulação da anestesia, é a vez de "inserir" o balão no estômago. Em operações reais, ele é colocado por meio de um procedimento endoscópico. Na hipnose, segundo a psicóloga, não é necessário tanto rigor com a realidade. Andrea conta que Vânia pressionou seu umbigo e disse que o balão tinha acabado de entrar no estômago, começando a inflar lá dentro.
“Acabei sentindo como se tivesse alguma coisa cheia dentro de mim. Quando eu como, parece que não cabe mais tanta comida no estômago. O inconsciente registrou que a simulação era verdade e não me deixou ter aquele impulso de comer”, explica Andrea, agora com 16 quilos a menos.
Para poucos
Osmar Colas, professor e coordenador do grupo de estudos de hipnose da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) afirma que a técnica pode até funcionar, mas somente para pessoas mais suscetíveis. “O sucesso que Andrea teve só acontece em 10% ou 15% da população, número médio de pessoas que são muito suscetíveis à hipnose”, disse.
Fora isso não há ainda nenhuma comprovação científica de que a técnica seja eficaz. “As pessoas que inventaram essa técnica não são profissionais de saúde. Não é um procedimento aceito pela comunidade médica”, explica.
Segundo o médico, o que determina se a pessoa consegue ser hipnotizada ou não são características genéticas, que refletem na personalidade de cada um. “Pessoas que têm um lado mais artístico, como aptidão para arte, música, escultura, desenho, teatro, são pessoas normalmente mais suscetíveis à hipnose. Para que a técnica do balão intragástrico [imaginário] funcione, a pessoa tem que ser muito suscetível mesmo”, comenta.
O psiquiatra e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Fernando Portela Câmara considera a técnica do balão gástrico pura imaginação. “Isso é é charlatanismo. Não funciona ou funciona por um tempo curto. É pura imaginação que rapidamente se acaba. Uma coisa é fazer hipnose e perder peso em três meses. Outra coisa é fazer com que o resultado valha por cinco ou 10 anos”, contesta.
Portela enfatiza também que a hipnose não é um tratamento que resolve todos os males. “É um grande instrumento terapêutico para as coisas como tratamento de fobias, transtornos de impulsos. Ela é excelente auxiliar na adesão de um paciente a um tratamento, pode também ajudar a pessoa a comer melhor, controlar impulsos alimentares, mas não é um tratamento para obesidade”.
As informações são da repórter Elioenai Paes
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